Capítulo 7: Sob Vigilância

14 1 0
                                    

Daniil entrou no carro, deixando o galpão para trás, e deu partida enquanto seus pensamentos ainda estavam focados em Nina. A expressão dela, o modo como ela o desafiava e ao mesmo tempo mantinha uma postura de dúvida, fazia com que ele se sentisse em um terreno instável. Era uma sensação nova para ele, que estava acostumado a controlar cada situação com precisão.

Enquanto dirigia pelas ruas desertas, ele ligou o rádio do carro para quebrar o silêncio, mas sua mente continuava a vagar. Ele precisava manter tudo sob controle. Sabia que seu irmão, Dmitri, confiava nele para lidar com a situação, e Daniil não podia permitir que isso desandasse. Ainda assim, havia algo em Nina que mexia com ele de uma forma que ele não conseguia explicar.

Quando chegou ao complexo onde Dmitri mantinha suas operações, Daniil saiu do carro e foi recebido por Sergei, que estava de prontidão.

"Como ela está?" Sergei perguntou, dando uma tragada no cigarro que pendia de seus lábios.

Daniil fez uma pausa antes de responder. "Ela está processando a situação. Ainda acredita que o pai dela pode salvá-la, mas não demorará muito para ela perceber a verdade."

Sergei soltou a fumaça lentamente, assentindo. "E quando isso acontecer, o que você vai fazer?"

Daniil deu de ombros. "Depende dela. Se ela for esperta, vai aceitar que o mundo dela mudou. E aí podemos trabalhar com isso."

Sergei soltou uma risada curta. "Ela tem fogo nos olhos. Não vai ser fácil."

"Não espero que seja," Daniil respondeu, sua voz grave. "Mas isso faz parte do jogo."

Ambos seguiram em direção ao escritório central, onde as atividades da Bratva estavam sendo monitoradas. Daniil sabia que, com cada dia que passava, o cerco em torno de Nina se apertava mais. O pai dela, seja qual fosse sua próxima jogada, seria responsável por definir o destino dela, e Daniil estava determinado a usar todas as armas possíveis a seu favor.

Assim que chegaram ao escritório, Daniil foi direto para a sala de monitoramento. As câmeras de segurança do galpão mostravam Nina ainda sentada, aparentemente perdida em pensamentos. Ele a observou por alguns instantes, sentindo um impulso estranho de querer entender o que se passava em sua cabeça.

"Ela não vai fugir," disse Sergei, interrompendo seus pensamentos. "Sabe que não tem para onde ir."

"Eu sei," Daniil respondeu, com os olhos fixos na tela. "Mas não quero subestimá-la. Ainda temos que manter um olho nela."

Sergei assentiu, se afastando enquanto Daniil permanecia ali, em silêncio, observando. Ele sabia que, em breve, teria que tomar uma decisão sobre o que fazer com Nina. Ela era muito mais do que apenas a filha de um inimigo. Ela era o ponto fraco de um homem poderoso, e Daniil sabia exatamente como usar isso a seu favor.

Mas havia algo mais. Uma inquietação que não desaparecia, uma conexão que ele ainda não conseguia definir. Nina era diferente de qualquer pessoa que ele já tivesse encontrado — e talvez isso fosse mais perigoso do que ele estava disposto a admitir.

Daniil desligou a tela, a imagem de Nina se apagando, mas não deixando sua mente. Ele sabia que o tempo estava correndo. E com cada segundo, a tensão entre eles crescia.

Daniil apagou a tela, mas os pensamentos sobre Nina continuavam persistentes, martelando em sua cabeça como um aviso constante. Ele precisava controlar a situação antes que escapasse de suas mãos.

No fundo, algo nela o intrigava. A maneira como ela não se curvava facilmente, como seus olhos cor de mel, embora assustados, ainda queimavam com uma chama de resistência. Não era comum ver esse tipo de reação em pessoas que estavam nas mãos da Bratva. Normalmente, o medo tomava conta, e eles quebravam com o tempo. Mas Nina era diferente.

Ele saiu da sala de monitoramento e, ao invés de seguir para seu próprio escritório, tomou a decisão de voltar ao galpão onde ela estava sendo mantida. Havia algo que ele precisava confrontar — talvez a si mesmo, talvez a ela.

Chegando ao galpão, Daniil entrou sem fazer barulho. Nina estava sentada em uma cadeira, seus braços cruzados em frente ao corpo, a expressão tensa. Ela ergueu a cabeça quando sentiu sua presença, mas não disse nada, apenas o observou em silêncio.

Daniil se aproximou, seus passos ecoando no chão de concreto. Ele parou em frente a ela, os olhos fixos nos dela, procurando por alguma resposta que ainda não sabia que estava procurando.

"Por que você não parece assustada?" ele perguntou, finalmente rompendo o silêncio.

Nina inclinou a cabeça, os olhos se estreitando levemente. "Você quer que eu implore, é isso? Quer que eu chore e suplique pela minha vida?"

Ele balançou a cabeça devagar, uma faísca de admiração escondida em sua expressão séria. "Não. Só me pergunto por que você acha que seu pai vai te salvar. Você já deveria saber que ele não vai."

Ela apertou os lábios, as mãos tremendo ligeiramente sobre o colo. "Meu pai... Ele... Ele tem meios. Não me deixaria aqui."

Daniil deu uma risada curta e amarga. "Seu pai te colocou nessa situação, Nina. É culpa dele que você está aqui. E se ele realmente se importasse com você, nunca teria permitido que chegasse tão longe."

Ela piscou rapidamente, o impacto das palavras dele começando a ressoar. Mas, apesar disso, ela mantinha a cabeça erguida, tentando esconder o medo que começava a despontar.

Daniil se agachou à frente dela, ficando na mesma altura de seus olhos, sua voz mais baixa agora. "Você está presa em um jogo muito maior do que imagina. A questão é: quanto tempo vai demorar até você aceitar isso?"

Nina engoliu em seco, a respiração acelerando. Ela ainda não queria acreditar. Não queria aceitar que seu pai, o homem que sempre a protegeu, pudesse realmente abandoná-la. Mas, no fundo, as palavras de Daniil começaram a penetrar em sua mente.

"Eu... eu não sei," ela sussurrou, sua voz quebrando pela primeira vez.

Daniil a observou por mais alguns segundos, vendo o conflito em seus olhos. Parte dele queria confortá-la, dizer que tudo ficaria bem — mas ele sabia que não podia. Essa não era a natureza de seu mundo.

Levantando-se, ele ajeitou a jaqueta de couro e deu um passo para trás. "Pense sobre isso, Nina. Quanto mais rápido você aceitar, mais fácil será."

Ele se virou para sair, mas antes de passar pela porta, lançou um último olhar para ela, que ainda estava sentada, agora com o olhar perdido. Daniil sabia que a resistência dela não duraria para sempre. Mas, por algum motivo, ele esperava que durasse.

Cavalheiro do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora