Capítulo 8: O Jogo de Manipulação

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Daniil subiu as escadas para o segundo andar do galpão, onde um espaço improvisado servia de escritório. Ele precisava tomar decisões, coordenar a próxima fase do plano, mas a imagem de Nina continuava a perturbá-lo. Havia algo na vulnerabilidade dela, misturada com uma força inesperada, que o deixava inquieto. Ele não podia se permitir perder o foco. Não agora.

Assim que entrou no escritório, encontrou Sergei ao telefone, discutindo detalhes da operação com outros membros da Bratva. Ao ver Daniil, Sergei desligou rapidamente e se aproximou.

"Ela está se mantendo firme?" perguntou Sergei, referindo-se a Nina, seu olhar calculista.

Daniil acenou com a cabeça, embora sua expressão estivesse mais pensativa do que o habitual. "Por enquanto, sim. Mas ela já está começando a entender que seu pai não vai aparecer para salvá-la."

Sergei ergueu uma sobrancelha, surpreso. "Você está deixando ela assim por tanto tempo? Eu imaginei que você já teria quebrado a resistência dela." Ele deu um sorriso frio. "Se precisar de ajuda, estou à disposição."

Daniil olhou para Sergei por um momento, sentindo uma leve irritação. Ele conhecia os métodos brutais de Sergei, mas algo dentro dele resistia à ideia de usar força física contra Nina. Ela já estava quebrando, só precisava de mais tempo.

"Eu sei o que estou fazendo," respondeu Daniil com firmeza. "A pressão psicológica é mais eficaz do que tortura física nesse caso."

Sergei deu de ombros, não se importando muito com a abordagem de Daniil, mas não insistiu. "Como você quiser. Dmitri está deixando você no comando por um motivo."

Daniil afastou-se, caminhando até a janela que dava vista para o galpão. Ele podia ver Nina abaixo, ainda sentada na mesma cadeira, aparentemente sem saber o que fazer. Sua silhueta frágil, mas decidida, o intrigava.

"Vamos continuar com o plano. Ligue para os contatos de Moscou, avise-os que a transação com o pai de Nina vai prosseguir em breve. Quero tudo preparado antes do fim de semana."

Sergei assentiu, pegando o telefone para começar as chamadas.

Daniil sabia que precisava manter o controle da situação, mas também sabia que seu interesse por Nina estava se tornando algo mais complicado. Ele tinha que lembrar a si mesmo de que ela era apenas uma peça no jogo, um meio para um fim. Mas, cada vez que ele olhava para ela, algo dentro dele se rebelava contra essa lógica.

Ele tinha que manter o foco, por mais difícil que fosse.

Enquanto Sergei fazia as ligações, Daniil caminhou de volta até o galpão. Ele não sabia exatamente por que estava voltando para ela, mas sentia que precisava. Quando abriu a porta, Nina levantou os olhos, surpresa por vê-lo tão rápido.

"Você voltou," ela disse, a voz um pouco mais baixa do que antes.

Daniil a observou em silêncio por um momento, depois se aproximou e parou na frente dela novamente. "Você está começando a perceber que não tem escapatória?"

Nina apertou os lábios, sua resistência ainda presente, mas havia algo de diferente em seus olhos agora. Talvez fosse o começo do desespero, ou talvez fosse algo mais profundo.

"Não sei o que vocês querem de mim, mas sei que não vou me render tão facilmente," ela disse, o tom firme, mas com uma leve hesitação.

Daniil se inclinou um pouco mais perto, seu olhar penetrante. "Você pode tentar resistir, mas não vai mudar nada. Seu pai a abandonou. Está nas suas mãos decidir como quer passar o tempo aqui — em sofrimento ou aceitando o que é inevitável."

Ela o encarou por um longo momento, e Daniil pôde ver o conflito interno dentro dela. Nina não queria ceder, mas sabia que estava ficando sem opções.

"Você vai ligar para ele?" ela perguntou finalmente, sua voz embargada, traindo o medo que tentava esconder.

Daniil ficou em silêncio por um segundo antes de responder. "Nós vamos entrar em contato com ele. Mas não vai ser do jeito que você imagina."

Nina fechou os olhos, tentando controlar suas emoções. Quando os abriu novamente, havia uma determinação renovada ali.

"Se ele me abandonou, então eu não preciso de nada dele," ela disse, e Daniil percebeu que ela não estava falando só para ele, mas também para si mesma, como se estivesse tentando se convencer.

Daniil deu um passo para trás, intrigado pela mudança súbita. Ele não esperava que ela desistisse tão cedo, mas agora havia uma nova dinâmica se formando, algo que ele precisaria explorar com cuidado.

"Veremos," foi tudo o que ele disse antes de sair da sala novamente, deixando Nina sozinha com seus pensamentos.

Daniil saiu do quarto e fechou a porta suavemente, como se estivesse em um jogo de xadrez mental, calculando seus próximos movimentos. Ele precisava pensar com cuidado. Nina era mais resistente do que ele imaginava, mas também era vulnerável de maneiras que ele ainda estava começando a compreender.

Enquanto caminhava pelo corredor do galpão, suas mãos passaram pelos botões do telefone no bolso, uma distração para a inquietação que sentia. Ele não sabia se o que o atraía em Nina era o fato de ela ser filha do inimigo ou se havia algo mais profundo acontecendo. Algo que ele preferia não explorar.

Daniil não se permitia fraquezas. Ele tinha aprendido, desde jovem, que os Dragunov não podiam se dar ao luxo de demonstrar emoções. Dmitri sempre foi o exemplo perfeito disso. Racional, firme, inabalável. E agora, Daniil estava à frente de algo maior, e não podia deixar que sentimentos confusos o distraíssem.

Ao chegar ao final do corredor, seu telefone vibrou. Uma mensagem de Dmitri apareceu na tela.

"Atualizações sobre a negociação?"

Daniil digitou rapidamente uma resposta, deixando claro que o plano estava seguindo conforme o esperado. Mas antes de apertar enviar, ele hesitou. Algo dentro dele o fez querer compartilhar mais do que apenas o progresso do trabalho. Ele queria contar sobre Nina. Sobre como ela o intrigava, desafiava e mexia com ele. Mas ele não podia. Dmitri não aprovaria, e Daniil sabia disso.

Ele apagou a parte extra da mensagem, mantendo o tom profissional, e enviou.

Voltando ao galpão principal, Daniil foi até Sergei, que havia terminado suas ligações.

"Todos os contatos estão prontos. A transação pode acontecer dentro dos próximos dias," disse Sergei com um leve sorriso de aprovação.

Daniil assentiu, focado em manter a fachada de controle. "Ótimo. Não quero imprevistos."

Sergei estudou o rosto de Daniil por um momento, como se percebesse a agitação oculta por trás da calma exterior. "Tem certeza de que está tudo bem com você? Você parece... distraído."

Daniil estreitou os olhos, incomodado com a percepção de Sergei. Ele não gostava de ser lido tão facilmente. "Estou no controle. Apenas faça seu trabalho."

Sergei deu de ombros, não se importando com o tom de Daniil. "Se você diz."

Daniil observou enquanto Sergei se afastava, e seus pensamentos imediatamente voltaram para Nina. Ele sabia que o sequestro era apenas o início de algo muito mais complexo. E enquanto ele continuava a seguir o plano, uma parte de si estava curiosa para ver até onde essa tensão entre eles o levaria.

Nina estava resistindo agora, mas por quanto tempo?

Cavalheiro do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora