Nina estava sentada na beira da cama, seu olhar perdido nas sombras da noite que se formavam do lado de fora da janela do seu quarto. O ambiente era luxuoso, repleto de móveis caros e detalhes refinados, mas nada daquilo fazia diferença para ela. Tudo o que importava era o fato de que estava presa naquela mansão, sem saber como sair ou o que o futuro lhe reservava.
Seus pensamentos se arrastavam lentamente, uma mistura de medo e revolta, quando, de repente, sons abafados chamaram sua atenção. Ela levantou a cabeça, tentando identificar de onde vinham. Após alguns segundos de silêncio, ouviu novamente. Vozes. Elas vinham do corredor, próximas ao quarto de Hana e Dmitri.
Nina se aproximou cautelosamente da porta, entreabrindo-a apenas o suficiente para ouvir melhor. Uma discussão estava acontecendo, e o tom grave e intenso de Dmitri contrastava com a voz elevada e aguda de Hana.
"Você me prometeu, Dmitri!" Hana exclamava. "Prometeu que não traria inocentes para esse mundo. Que manteria a linha entre o nosso trabalho e as vidas que não têm nada a ver com isso!"
Nina sentiu um frio na espinha ao perceber que estavam falando dela.
"Eu fiz o que era necessário," Dmitri respondeu, sua voz baixa, mas cheia de tensão. "Ela não é completamente inocente, Hana. É filha de um homem que está afundado nesse submundo há anos. E você sabe que isso a torna parte do jogo, quer ela saiba ou não."
"Isso não justifica o que fizemos!" Hana rebateu, a dor clara em sua voz. "Ela não pediu por isso, não escolheu essa vida. Você sempre disse que não envolveria inocentes, que manteríamos esse mundo separado do nosso futuro, do nosso filho. E agora, aqui estamos, sequestrando a filha de alguém que nem ao menos sabia no que o pai estava envolvido."
Dmitri soltou um suspiro pesado, e o silêncio entre eles se estendeu por um momento. "Eu sei," ele finalmente murmurou, "mas às vezes, Hana, a única maneira de garantir nossa segurança é tomando medidas drásticas. O pai dela fez escolhas que colocaram a vida dela em risco. E agora, não temos outra opção senão usá-la como vantagem."
"Isso não é desculpa!" A voz de Hana falhou por um instante, revelando a angústia em seu peito. "Ela é só uma garota, Dmitri. Como você acha que isso vai acabar para ela? Como você pode viver com isso?"
Nina, encostada contra a porta, mal respirava. Seu coração batia mais rápido, à medida que tentava processar o que estava ouvindo. Hana... estava defendendo-a? Ela havia sido uma vítima também? Mas então por que estava ao lado de Dmitri, vivendo essa vida?
"Eu vou garantir que nada de ruim aconteça com ela," Dmitri disse, seu tom mais brando agora. "Ela será tratada com respeito, com cuidado. Assim como você foi."
"Não, Dmitri. Eu tive a chance de lutar, de escolher ficar. Mas ela não. Você não deu a ela essa escolha." A voz de Hana se suavizou, mas o peso das palavras era evidente. "Você está me pedindo para aceitar algo que prometeu que nunca faria. E eu... não sei se posso."
O silêncio caiu sobre a casa, pesado e denso. Nina ficou ali, imóvel, absorvendo tudo o que tinha acabado de ouvir. Ela se afastou da porta, seu coração pesado, confusa e ainda mais perdida do que antes. Hana parecia estar do seu lado, mas ao mesmo tempo, estava envolvida demais naquela teia para poder realmente ajudá-la. Dmitri... Ele era um homem complicado, muito mais do que ela havia imaginado.
Nina fechou os olhos, sentindo a tensão em seu corpo se intensificar. Talvez a única pessoa que realmente pudesse tirá-la dali fosse ela mesma.
Nina aguardou mais um momento, seus dedos ainda tremendo enquanto permanecia encostada na porta, escutando o final da discussão entre Hana e Dmitri. As vozes, antes cheias de raiva e frustração, começaram a baixar, até que tudo ficou em um silêncio que a fez prender a respiração. Ela sabia que algo havia mudado, mas não conseguia discernir o quê.
Curiosa e preocupada, especialmente com Hana, Nina abriu a porta um pouco mais e espiou o corredor. O som abafado de movimentos chegou até ela, e seu coração disparou. Com passos lentos e cuidadosos, ela saiu do quarto, seguindo o som. Ao virar a esquina, seus olhos se arregalaram ao ver Hana e Dmitri.
Hana estava encostada na parede, e Dmitri a cercava com o corpo, uma das mãos segurando seu rosto enquanto a outra a puxava pela cintura. Eles estavam se beijando com uma intensidade que contrastava com a briga de minutos atrás. A tensão entre eles parecia ter se transformado em algo totalmente diferente, algo que Nina não sabia se entendia, mas que a deixou completamente desconcertada.
Ela tentou recuar, se afastar antes que alguém a visse. Com o coração batendo acelerado e as mãos suadas, deu um passo para trás, tentando retornar para o quarto sem ser notada. Porém, enquanto se movia silenciosamente, seu corpo esbarrou em algo – ou melhor, em alguém.
Um braço firme envolveu sua cintura, segurando-a no lugar. Ela sentiu o calor imediato e o toque firme, seu corpo travando no mesmo instante. Daniil estava ali, ao lado dela, com um sorriso provocador nos lábios.
"Você não devia ficar espiando..." Sua voz baixa, quase um sussurro, soou perto do ouvido de Nina, fazendo um arrepio percorrer sua espinha.
Ela tentou se afastar, mas ele manteve o braço em torno de sua cintura, sem deixá-la escapar. O olhar de Daniil era enigmático, uma mistura de reprovação e diversão, como se ele estivesse apreciando a situação.
Nina ficou imóvel, seu coração batendo rápido demais. "Eu... eu não estava espiando. Foi sem querer."
Daniil inclinou a cabeça, os olhos escuros brilhando com uma intensidade que a fez engolir em seco. "Sem querer ou não, você viu algo que não devia. E isso, querida Nina, pode ser perigoso."
Ela tentou controlar sua respiração, o rosto corando. Daniil a mantinha próxima demais, seu corpo quase colado ao dela. A tensão no ar era palpável, mas não a mesma que havia sentido ao ouvir a discussão de Dmitri e Hana. Era algo diferente, mais profundo, algo que a deixava ainda mais desconfortável – e ao mesmo tempo curiosa.
"Eu só... queria saber se Hana estava bem." Nina disse em um sussurro quase inaudível, mas ela sabia que Daniil a ouvira. Ele sorriu, aquele sorriso provocador que parecia nunca deixá-lo.
"Hana está bem," Daniil respondeu, a voz suave, mas carregada de ironia. "Você é que precisa se preocupar em onde coloca seus pés." Ele a soltou devagar, seus dedos deslizando por sua cintura antes de finalmente liberar o aperto.
Nina se afastou, tentando esconder a mistura de sensações que invadira seu corpo. Sentia-se invadida e exposta, mas ao mesmo tempo, a proximidade de Daniil a havia deixado sem fôlego, uma sensação que não sabia explicar.
"Eu vou... voltar para o meu quarto," ela murmurou, evitando o olhar dele, mas sentindo seus olhos a acompanharem enquanto se afastava rapidamente.
Antes de virar no corredor, Nina lançou um último olhar para Daniil, que ainda a observava, o olhar fixo e intenso, como se soubesse muito mais do que estava disposto a revelar.
Ela entrou em seu quarto e fechou a porta, encostando-se nela enquanto tentava recuperar o controle sobre sua respiração. O encontro com Daniil a havia deixado inquieta, e o beijo entre Hana e Dmitri ainda estava em sua mente. Aquele mundo era muito mais complexo do que ela havia imaginado... e parecia que estava cada vez mais envolvida nele.
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Cavalheiro do Inverno
RomanceNina Zaitsev sempre viveu à sombra do poder de seu pai, um respeitado homem de negócios, sem saber que ele escondia segredos perigosos. Mas sua vida tranquila vira de cabeça para baixo quando ela é sequestrada por Daniil Dragunov, um membro implacáv...