Ana Luísa
Após a sessão das fotos e da emocionante celebração em que entramos e jogamos as becas, fomos curtir a festa. A decoração estava impecável, não era de menos, já que foi gasto uma grana e tanto para podermos ter uma festa desse nível. Estava na mesa com a minha mãe e a Vic, enquanto cumprimentava algumas pessoas que eram da minha turma e outras que estavam ali como convidados.
Vic: Por Deus, essa comida está divida! Com certeza a gente tem que pegar o contato para quando formos ricas e realizar festas de alto padrão. - disse com a boca cheia de canapés enquanto eu dava risada da forma que ela estava falando.
Ana: Não tô te reconhecendo Victoria, que linguajar é esse? Cadê a molecona da favela da Rocinha? - zombei com a cara dela enquanto ela me dava língua e me cutucava com o cotovelo.
Vic: Ih, me deixa em garota! Tô sendo fina por um dia, posso não?
Eu iria responder, se o foco dela não fosse total pro celular que se acendeu em cima da mesa. O nome do BH com um coração vermelho no final chamava a atenção da minha amiga, que pediu licença e foi atender no lado externo do salão.
Luzia: Minha filha, que festa linda né? – Senti ela um pouco envergonhada. – Seus colegas são todos muito classudos.
Dei uma risadinha. – Não adianta nada se não são legais igual a gente mãe. – Coloquei uma mão no seu ombro. – Sou muito mais nós três!
Não queria que minha mãe se sentisse rebaixada nem um segundo sequer. Essa vitória também era dela, da mulher que se virava pra conseguir pagar minha faculdade e colocar comida na mesa, e de quebra ainda me ajudava em tudo o que era precisava.
Vic: Voltei meus amores! – ela tava com um sorrisão no rosto, e evitou de me olhar, puxando assunto com a minha mãe. Torci meu nariz sabendo que coisa boa não era, e que com certeza ela tava aprontando alguma coisa.
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Eu já estava na minha quarta taça de gin, dançando na pista com a Vic e com algumas pessoas da minha antiga turma. Já se passava das 2h30 da manhã e minha mãe já tinha ido embora a pouco tempo. Eu insisti pra ela ficar um pouco mais, e até me ofereci pra ir embora com ela, mas ela disse que eu deveria aproveitar, pois sempre fui muito esforçada e que deveria comemorar que tudo tinha acabado.
O salão também já não estava tão cheio como no começo da festa, mas sentia que estava sufocada de tanta aglomeração e calor. A Victoria olhava no celular a cada cinco minutos, e desde a ligação que ela havia recebido, não tinha tocado no nome do BH. O que pra ela era muito estranho, já que ela gostava de falar daquele garoto sempre que possível.
Ana: Vic, to com tanto calor, vamos um pouco lá fora pegar um ar? – Me referi a minha amiga pegando no braço dela, enquanto ela olhava pro celular mais uma vez, se assustando com o meu toque. – Tá acontecendo alguma coisa? Tem alguém te incomodando?
Vic: Não amiga! Fica tranquila. – me deu um sorriso amarelo olhando atrás de mim, procurando por alguém. – Vamos lá fora, daqui a pouco voltamos, vem.
Ela me puxou no meio da multidão, até chegarmos em uma área externa que não era tão iluminada quanto a entrada do espaço em que estávamos. Tinham poucas pessoas acompanhando a gente, umas conversando, outras fumando, cada um no seu canto.
Ana: A gente podia ter ido lá na frente né? – Dei uma risadinha. – Não precisava ser tão afastado assim.
Vic: Ai amiga... sabe o-o que que é? – Estreitei os olhos. Ela tava nervosa, e tinha alguma coisa acontecendo. – É que... - olhou em volta. – É que... eu tenho pânico de tumulto. – Bateu os braços ao corpo.
Ana: Aham – olhei em volta também, mas não consegui ver nada demais – E desde quanto tu tem isso? Em baile você gosta de ficar em volta de um monte de gente né?
Vic: Fui diagnosticada a pouco tempo. – colocou o dedo na boca, mordendo a unha. – Não tive nem tempo de te contar.
O telefone dela tocou e ela faltou jogar ele longe com o susto que tinha tomado.
Ana: Chega Victoria, o que tá acontecendo? Me explica agora. – Cheguei perto dela tentando pegar o celular de sua mão, mas ela foi mais rápida, se erguendo na ponta dos pés e levantando a mão lá em cima, me deixando em desvantagem pois estava sem meus saltos.
BH: Pô, não gosto de briga entre irmãs não, o que tá rolando aqui?
Nós duas paramos na posição que estávamos, nem eu e nem ela se mexia. Estávamos perto uma da outra, então conseguia ver claramente ela analisando meu rosto, tentando descobrir qual seria minha reação. Sibilei um "nem fudendo" e ela me respondeu com um "surpreeeesaaaa" e um sorriso meia boca.
MK: Ih, ala BH, elas tão brincando de estátua, que bonitinhas. – Escutei a risada dos dois, e aí que eu senti uma vontade imensa de pular em cima da Victoria e puxar os cabelos daquela garota.
Fui retomando minha postura aos poucos, ainda olhando pra Victoria, enquanto ela se manteve na posição com medo de qualquer reação que eu tivesse.
BH: Qual foi pô, nós teve o maior corre de arrumar roupa de playboy e conseguir entrar pra vocês nem virem aqui cumprimentar a gente? – Boquejei com a Victoria um "explica o que tá acontecendo agora" e ela veio me abraçar.
Vic: Eu te amo taaaanto irmã, te amo tanto tanto tanto. Eles só queriam vir prestigiar a nova advogata da rocinha.
MK: Bota gata nisso. – Escutei ele falando e logo depois o BH imitando um barulho de vômito, o que me fez soltar uma risadinha e mostrar o dedo do meio pra ele.
Ana: Se vocês queriam ter vindo era só ter me pedido entrada, e não entrarem igual criminosos. – disse ainda abraçada com a Victoria, enquanto ela me balançava pra lá e pra cá.
BH: O foco é, nós é criminoso, doutora. – Se juntou no abraço igual um palhaço que ele era, enquanto eu gritava pra eles me soltarem.
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Depois de toda a confusão ser esclarecida, voltamos e levamos os meninos lá pra dentro, para eles poderem curtir o restante da minha formatura. Não tinha ficado brava, muito pelo contrário, apenas fiquei confusa, pois era bem mais fácil o BH ter me contado na hora que estava me trazendo, e eu poderia ter facilitado o lado deles, mas também entendia que eles gostavam de uma confusão.
Bebemos muito e quando começou a tocar algumas músicas do tiktok, nós soltamos e nos divertimos bastante tentando ensinar algumas coreografias pros meninos. Decidi me afastar um pouco, pois minha barriga doía de tanto dar risada, e o calor estava ficando cada vez mais intenso, mesmo com o clima fresco em que se encontrava a madrugada do Rio de Janeiro. Levantei meus cabelos, numa tentativa de amenizar o calor, mas acabei piorando tudo, pois naquele momento, consegui reparar melhor no MK. Assim como o amigo, ele estava com uma roupa no estilo "esporte fino", porém, depois de uma dança ou outra, ele já estava apenas com a camisa social branca, que dava contraste com sua pele morena, destacando algumas das suas tatuagens. Ele também estava com um leve rubor no rosto, indicando que o clima estava mesmo abafado, e um sorriso que encantava qualquer um.
Senti meu coração palpitar, e aquilo não era sinal de boa coisa. Decidi afastar meus pensamentos voltando a pista de dança.
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Loucura de Amor
Non-Fiction"Faz uma loucura por mim Fala que ninguém te pega igual o teu nego Coloco tanta grife no teu corpo Sou tão carinhoso e tão longe de apego (...) Faz uma loucura por mim Assiste o jogo do meu time mesmo sem cê torcer por ele Divulga nosso lance em t...