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Ana Luísa

Vic: –Até quando tu vai estudar hoje? - Acho que já era a terceira vez que a Victoria me enchia o saco pelo mesmo motivo.

Ana: –Amiga, olha, eu realmente preciso terminar isso, a faculdade tá muito puxada, minha formatura está chegando, minha bolsa está por um fio. Preciso tirar notas boas nesse semestre se quero mesmo me formar. - Digo com um olhar de piedade – Tu sabe que esse bagulho é importante pra mim.

Victoria bufa e se joga na minha cama de barriga pra baixo, como a diva dramática que é. – Você prometeu que ia no baile comigo hoje.

Ana: – E em nenhum momento falei que não iria, só preciso de mais um tempo aqui. – Grifo uma parte importante na apostila de direito penal. – E mermo se a gente não fosse na festa hoje, não íamos perder nada. É sempre a mesma coisa, mesmas pessoas, mesmo DJ. Não muda um final de semana cara.

Vic: – Mas tu não tá entendendo mana, BH vai tá lá – vi um sorriso sapeca surgir em seu rosto – Tô desenrolando com ele já faz cota, tu sabe.

Desde que a Victoria conheceu esse tal de BH ela não me dá sossego um final de semana se quer, é o tempo todo indo pros mesmos lugares que ele pra no final eles nem conversarem e ela mandar uma mensagem do tipo "nossa, te vi em tal lugar". Eu já sabia como essa história ia terminar, mas tem como negar um bagulho desse pra tua melhor amiga?

Vic: – Passo aqui as 22h pra te buscar, e num quero papo tá? Se não tiver pronta te arrasto pelos cabelos pra te fazer passar vergonha. – Ela pega uma bolinha de papel amassada no meu lixo e joga fechando a porta. Ouço ela descendo as escadas e gritar um "tchau tia" pra minha mãe. Dou risada me jogando na cama, não tem como, mais maluca impossível.

Olho no relógio e ainda são 16h, se eu estudar até 18h30 ainda me sobra um tempo pra me arrumar pro tal baile. Porém meu foco tinha ido pro ralo, é difícil você se concentrar sabendo que todo o esforço que você teve nesses últimos tempos pode estar indo ladeira abaixo. Eu sempre fui uma aluna nota 10 no ensino médio, até porque seria minha única escolha se caso eu fosse fazer faculdade. Não sei em qual momento da minha vida decidi que queria cursar direito, talvez seja por conta da minha realidade de ver tanta gente inocente sendo presa por motivo algum, apenas por viver no morro ou então não ter um estilo padronizado e ter aparência de "bandido" como muito fardado da de desculpa. Talvez seja por querer dar uma vida melhor pra minha mãe, a pessoa que eu mais admiro na terra ou então por curiosidade em saber se vou realmente ser alguém na vida. Mas esses últimos meses estão sendo complicados pra eu conseguir conciliar minha vida pessoal e a faculdade.

Minha mãe tem um salão aqui no morro mesmo, não somos as pessoas mais pobres daqui, temos uma condição de vida legal, nunca me faltou nada. Mas ajudar ela no salão tem sido cansativo, mas não me sinto no direito de reclamar. Minha mãe sempre fez de tudo pra me ver feliz, até se endividar pra me colocar em uma faculdade boa e me ver formar. Devo tudo que tenho a ela, mas o cansaço vem tomando conta do meu corpo a cada dia. O único momento que tenho pra estudar realmente é na parte da manhã bem cedo e nos finais de semana. Isso quando a Victoria não me arrasta pra algum canto, igual hoje.

Levanto da cama prendendo meu cabelo em coque frouxo e me sento de frente a minha mesa, me forçando a focar no conteúdo.

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Já eram 21:43 e eu estava pronta, coloquei um vestido preto colado no corpo, um tênis preto da puma e de lei, o escapulário de São Jorge que era do meu pai. Desde quando ele se foi eu nunca mais tirei, usava como símbolo de proteção e também pra representar meu Timão né. Sou nascida e criada no rio, mas meu pai era paulista e corintiano roxo, não tinha como eu ser diferente.

Estava terminando de me maquiar quando escuto passos do lado de fora do meu quarto.

Vic: Tá pronta? – Disse escancarando a porta do meu quarto. A Victoria tava uma gata como sempre, ela nunca deixava a desejar. Seus cabelos longos estavam enrolados pelo baby liss nas pontas, usava uma saia branca em conjunto com um cropped da mesma cor. Nos pés usava um tênis bem parecido com o meu e o destaque eram suas unhas enormes e vermelhas, combinando com o batom em sua boca.

Ana: Olha, sinceramente. Se o BH não te der mole hoje, eu vou fazer questão de te arrumar uns 3, o que não vai ser difícil tá? Tá gata pra caralho – Disse me levantando e fazendo ela dar uma voltinha na gastação.

Vic: – Besta - riu tímida e ficou vermelha no mesmo instante – Vamos logo, tô sentindo que esse baile promete.

Loucura de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora