CENA II

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(a menina está enrolada até o busto numa toalha; há outra prendendo os cabelos. A mulher está a caráter. Pode-se ouvir a voz do pai de fundo, que está fora do cômodo)

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Dias antes, quarto de ISADORA. Cama e toucador evidentes. Ela e MÉRCIA estão escolhendo qual vestido a garota vai usar no culto.

Mércia (estende ao ar um vestido, que observa sob vários ângulos)
Não... este não. Outro.

(Isadora mostra-lhe outro)

Mércia (pega-o)
Cheio de coisa este aqui, todo... Sei lá. Muito babado.

Isadora (resignada)
Tem este.

(Mércia indica sua aquiescência, depois de examinar o tecido: um vestido que chama a atenção por ser pouco religioso)

Rodolfo (bate à porta)
Amor! Pode me ajudar aqui?!

Mércia (resmunga, deitando o vestido sobre a cama)
Aposto que é a gravata! Ainda não aprendeu. Sou mãe eu!

(Mércia entreabre a porta e põe a gravata no marido. Enquanto isso, Isadora observa a peça escolhida com uma estranha absorção, como que a ponto de entrar nele só com os olhos)

Mércia (volta com ares risonhos e retoma o tecido)
Não disse? Parece um menino! Sim. Vai ser este aqui. Está bom. Agora...

Rodolfo (grita, atrás da porta)
Vocês demoram muito! Vamos, minha gente! (dá uns toquinhos contra a porta) Veste qualquer coisa. Deus não é designer de moda.

Mércia (sem esconder o sorriso, ignora-o, mas fala como que com ele, não se dirigindo à filha deveras)
Ah, sim. Só por que ele está completo. É homem, né? Podem sair todos iguais, e nenhum vai ligar.

Rodolfo (jocoso)
As mulheres que gostam de se exibir, ser o centro das atenções.

Mércia
Queria que eu usasse terno também?

Rodolfo (meio lascivo)
Nunca te vi de terno.

Mércia (indignação simulada)
Vê se pode?! Vai, vai... sei lá! Estamos terminando. Ô... ainda de toalha?

(Isadora, que escutava o debate algo fissurada no rosto materno, acorda e apressa-se a pegar a roupa da cama)

Mércia (tom severo; deixa o quarto)
Se vista logo, estamos atrasadas.

(Isadora dá uma última olhada no vestido, que segura junto ao corpo diante do espelho do toucador, como para ter uma ideia de como lhe cairá)

Eu Vou pro Inferno, e a Culpa É de Isadora LoredoOnde histórias criam vida. Descubra agora