CENA V

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(Isadora está com aquele vestido algo extravagante)

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(Sala de estar da família Loredo, ISADORA e a mãe conversam, à ausência do pai, que está no banheiro. Acabaram de chegar do culto inicial da moça)

Mércia (joga-se no sofá e arreda os sapatos)
O que achou, Isadora?

Isadora (em pé, como sem saber em que local se acomodar, na sala ou algures, exprime-se meio travada)
Bom.

Mércia (começa a usar o celular)
Vai sentar, não? (Isadora senta-se numa poltrona) A música, gostou do que toca lá?

Isadora (cândida)
Já tinha ouvido.

Mércia (põe o aparelho de lado, estala os dedos a fim de lembrar)
É... poxa, esqueci. Ouviu a letra?

Isadora (tenta fitá-la, já um pouco constrangida)
Ouvi. É bonito o louvor.

Mércia (apoia o cotovelo ao braço do sofá, de modo a espalmar a cabeça, e acelera-se para acrescer, num tom passivo, às palavras da garota)
Melhor parte é o refrão. Dá até vontade de dançar.

(Isadora abaixa o olhar)

Mércia (sadicamente)
Se eu fosse jovem tinha dançado. Às vezes as meninas se apresentam. Dançam mesmo. Fala com o Pastor Vinicius, ele vê. São dancinhas bestas, nada de mais. (acantoa a sutileza) Ele deixa na hora. Sabe que tu danças; todo mundo, aliás.

(Isadora, engolindo uma possível resposta, curva-se para desamarrar a sandália branca; demora-se na tarefa)

Mércia
Os olhos dele brilharam quando te viu lá. "Aleluia!" Ele deve estar dizendo. Hoje, vai orar por ti (enfática:), e aquele sabe falar com Deus! Ainda por cima é bonito.

(Isadora olha na direção donde está o pai, como que ansiosa pela presença dele)

Mércia (com pata de gato; mantém o tom contrário à suposta eutrapelia)
É o nosso Caio Castro. As meninas, misericórdia. Mas a gente avisa: "Pode não". Mas que é bonito, é. Disse até uma vez, eu disse a ele: "Nunca pensou em virar modelo?" Ele sorriu, meio sem graça. Coitado. Um monte de mulher que parece nunca ter visto um como ele. Foi nascer bonito, no que deu. Até esqueço que ele é nosso pastor. (incisiva e mais audível) Agora seu também.

(Isadora, algo pasma, respira ao rever o pai ao longe, chegando)

Eu Vou pro Inferno, e a Culpa É de Isadora LoredoOnde histórias criam vida. Descubra agora