CENA VI

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Igreja. Na área mais distante do púlpito, perto dos garotos, acha-se ISADORA. Recordemo-nos que o local jaz algo isolado, devido ao sábado. Começa a oração coletiva, para cuja realização, às palavras do pastor, ele próprio e os demais fiéis ficam de pé e cerram os olhos. ANDRÉ está pronto. Como uma voz esporádica, a prece do pastor também participa da cena.

(André, após uma caminhadinha na ponta dos sapatos, senta-se no banco da menina. Na contramão de seu planejamento, ela percebe de imediato a sua presença e abre os olhos. O diálogo seguinte ocorre ciciado)

(voz do pastor:
- [...] a Tua Santa Presença...)

(Isadora olha o rapaz de cima, algo perturbada)

André (de olhos arregalados, sem saber o que fazer)
Opa...

(voz do pastor:
- [...] irmanados em Ti.)

(ainda estupidificada, a jovem insinua voltar à reza)

André (à pressa de falar-lhe algo)
André, é o meu nome. Sou o filho da Irmã Xênia.

Isadora (como inventasse o que dizer, com incômodo educado e brando)
Irmã Xênia...

(voz do pastor:
- [...] que seremos todos além de pó?)

André (desnorteado, insinua levantar-se, mas resiste, e permanece sentado; exprime-se com frustração)
Atrapalhei você. Foi mal. Não sei o que me deu, quer dizer. Não tive a intenção. Obrigado. (recomeça a erguer-se)

(voz do pastor:
- [...] na alegria desses jovens, Teus servos.)

Isadora (mesma civilidade)
Quer falar comigo?

André (radiante, deixa-se no assento, ao responder-lhe de imediato, cheio de avidezes)
Quero! Quero dizer... Sim, quero falar.

(voz do pastor:
- [...] e que não se deixem levar pelos seus desejos...)

André (olha em volta, o olhar sem rumo)
Na verdade, não. Só pensei em me apresentar. Não como antes, tipo: - Oi, meu nome é André... (como para si mesmo:) Se bem que seja exatamente o que eu fiz aqui...

(Isadora olha para a frente e fecha os olhos, acabando com um sorrisinho pelos tropeços de André)

(voz do pastor:
- Sejam vocês, mancebos, sobretudo caridosos. "Sujeitem-se uns aos outros"; "Amem-se".)

André (percebe que ela sorriu, também sorri)
Pelo menos não fiz chorar. Desculpa mesmo se... (para si mesmo de novo, pensando em voz alta:) Ela tá orando. Que merda.

(o sorriso dela fica mais evidente)

André (constrangido pelo que falou e ao notar o sorriso que dessa vez deplora, levanta-se.)
Foi mal. (inicia a sair de junto da moça)

(voz do pastor:
- [...] quando venceu o deserto. Amém.)

Isadora (simultaneamente ao "Amém" respondente da congregação, o instante em que descerra os olhos, diz ao rapaz, com discrição)
Oi.

(à mesma hora, André dirige a vista para a dela, que se senta de uma maneira convidativa. Sem hesitar, André se senta)

Isadora (estende-lhe a mão, com recato)
Isadora, o meu nome. Sou a filha da irmã Mércia.

André (como que aliviado e sonhador, aperta-lha)
Eu sei.







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⏰ Última atualização: Sep 22, 2024 ⏰

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Eu Vou pro Inferno, e a Culpa É de Isadora LoredoOnde histórias criam vida. Descubra agora