Capítulo 8

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Lizie

Talvez fosse mesmo raro alguém ganhar no jogo para o Lucas, porque a alegria que Fernando e tio Saulo ficaram mostrava claramente quem era o vencedor naquele jogo, até aquele momento. Eles estavam literalmente comemorando a minha vitória de forma mais descarada e cheia de zoação.

— Caramba, Lucas, por essa eu não esperava.

— Acho que nem ele, Nando.

Observei o rosto bonito do Lucas tomado por surpresa e decepção. E eu estava adorando isso.

— Amiga, arrasou, eu sabia que você ia dar uma surra nesses três exibidos. — Sue ergueu a mão e bati na sua palma comemorando.

— Estava mentindo quando disse que nunca jogou, pode falar a verdade — Lucas me acusou com uma mistura de revolta e decepção. — Que coisa feia, loirinha.

— Está querendo dizer que jogou de qualquer jeito porque pensou que eu era uma adversária fraca?

— De certa forma sim. E tenho certeza de que já está bem familiarizada com esse jogo.

Respirei fundo para não mandar o homem se foder, ou para o quinto dos infernos, além de duvidar de mim, ainda me chamar por esse diminutivo horrível.

— Já vi uma vez ou outra alguém jogando na época da faculdade, eu mesma nunca me sentei para jogar. Todo mundo diz que é difícil, mas achei fácil até demais. Ao menos ganhar de vocês foi sopa.

— Trapaceira.

Juro que estava tentando me controlar, mas ele estava tentando me tirar do sério.

— Não pode me acusar disso, joguei honestamente, mas pelo visto não está acostumado a perder, ou não ficaria tão bravinho.

— Não estou bravinho.

— Dizem que azar no jogo, sorte no amor, será que vai começar a ter sorte na vida amorosa agora, Lucas? — Fernando alfinetou fazendo Lucas bufar contrariado. — Já que pelo visto a sorte no jogo foi pelo ralo.

— Tem razão, Nando, acho que agora ele encontra o caminho da felicidade.

Sorri, mas por dentro senti uma certa pontada. Se para ele a sorte no jogo estava acabando, a minha sorte no amor teria acabado de vez? Com toda certeza. Meus três últimos relacionamentos existiram para mostrar isso. Ou talvez a minha história de vida denotasse exatamente a minha total urucubaca sentimental amorosa.

— Querem mais uma? — perguntei só para implicar mais um pouco.

— Claro — respondeu prontamente retesando o corpo, se preparando para a batalha.

— Isso quem vai decidir é você, Lizie, ganhou o jogo, esse era o combinado — Fernando interveio.

— Por mim foi suficiente.

— Está com medo de perder? Se nunca jogou antes foi sorte de principiante. Não acontece sempre.

Ele realmente não estava acostumado a perder.

— Vamos parar por aqui, não que esteja com medo de perder, mas porque realmente prefiro ouvir dois homens lindos e talentosos cantando para mim.

O primeiro a levantar foi tio Saulo ostentando um sorriso triunfante. Ele se sentou no sofá com um violão no colo e logo a Júlia sentou-se ao lado dele. Sentei-me ao lado da Tatiane, um pouco mais perto do fogo, já que a noite começou a soprar um vento gelado. Fernando pegou o outro violão e caminhou para sentar-se ao lado da namorada. Lucas sentou-se ao lado da Tatiane.

Fernando começou com "Tocando em Frente". Depois de algumas canções e sabe-se lá quantos copos de vinho, e drinks feitos pela Sue, eu já estava puxando as meninas para dançar comigo, totalmente esquecida da presença desagradável do Lucas. Fernando e tio Saulo pararam de tocar, colocamos uma música dançante e fizemos a nossa própria festa.

— Nunca mais vou beber — proferi a costumeira frase que toda pessoa que exagera no álcool diz no dia seguinte.

Era cliché demais, porque provavelmente eu estaria em pouco tempo ainda mais bêbada do que fiquei na noite anterior. Não lembrava muito como havia terminado a noite anterior. Acordei no apartamento da Sue, que era ao lado do Fernando, e já passava das dez da manhã. Também não fazia ideia onde ela havia dormido.

— Amiga, beba um pouco desse suco, Fernando disse que cura ressaca que é uma beleza — sugeriu me entregando um copo com um líquido vermelho. — Em minutos vai estar nova em folha — estendeu um comprimido —, esse é para ajudar na dor de cabeça.

O primeiro gole foi para testar a capacidade do meu estômago em não colocar o conteúdo para fora. O gosto era horrível, mas se iria me ajudar a melhorar, não reclamaria.

— Estou atrapalhando a sua manhã de domingo? — perguntei com uma pontada de culpa. — Sinto muito, às vezes esqueço que você e Júlia agora são comprometidas.

— Não, amiga. Fernando foi jogar com meu pai e alguns amigos no clube inclusive chamou a gente para almoçar com eles lá, topa?

— De jeito nenhum. Ainda mais se aquele chato estiver lá.

Ela se jogou na cama ao meu lado rindo muito.

— Não entendi muito bem a implicância de vocês dois no início, mas depois que você contou o que aconteceu compreendi. Estranho demais, Lucas é uma pessoa tão... perfeita.

Revirei os olhos, o que causou uma dor imensa na cabeça fazendo me arrepender mais uma vez de ingerir muito álcool.

— Definitivamente, nunca mais vou beber. E provavelmente esse cara é uma fraude, deve fingir o tempo todo ser o que não é. Ele é um chato, preconceituoso, metido a besta.

— Ele não é assim, o santo de vocês dois não bateu, só isso. Papai e Fernando, inclusive a Júlia, o adoram, mas não vamos mais falar desse assunto. O que quer almoçar?

— É melhor mesmo. No momento não consigo nem pensar em comida, só quero descansar mais um pouquinho.

— Está bom, vou ligar para a Júlia avisando que não vamos lá no clube.

— Não faz isso, você pode ir. Não quero ser um pé no saco.

— Você não é e nunca será um pé no saco.

— Eu sei, sou legal demais para isso, mas, sério, confesso que às vezes me sinto meio deixada de lado. Esqueço que você e Júlia agora têm namorado e não vão querer mais fazer programa de solteira comigo. Acho que preciso achar uma nova amiga — fiz drama.

— Lizie, pare de graça. Não seria melhor achar um namorado?

Olhei para ela boquiaberta.

— Tá falando sério? Para ter a companhia das minhas melhores amigas vou ter que mudar o status?

— Claro que não, sua boba. Vai ser sempre bem-vinda. Deixaremos os namorados para sair com você, se preferir, mas saiba que Fernando não se importa de me dividir com você. Agora descanse e pare de drama, você não é dessas.

— Não mesmo.

Sue me deixou sozinha desligando a luz do quarto antes de sair. Deitei novamente fechando os olhos sentindo a cabeça martelar de dor.

— Nunca, nunca mais vou beber desse jeito.


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⏰ Última atualização: Sep 24 ⏰

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