XII

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A única coisa que eu sabia naquele momento era que precisava ajudá-la. Mas como encontrar algo que não se sabe onde está?

— Wandinha? — O rapaz à minha frente aguardava, ansioso, uma resposta, uma confirmação mais clara.

Fico parada por alguns segundos, sem dizer uma palavra ou sequer piscar.

Ouço um ruído ao meu lado, como se algo fosse colocado sobre a mesa. Era Laila, depositando uma caixa velha ali. Neste momento volto a piscar.

— Um segundo — diz Laila, dirigindo-se à entrada da cafeteria. Ela fecha a porta e vira a placa para 'fechado'. Olha ao redor, como se não quisesse que ninguém nos visse. — Agora sim.

Olho para ela, sem falar nada, na esperança que ela continuasse o que estava prestes a fazer.

— Olha, Wandinha — ela diz, meio sem jeito. — Vou ser sincera com você. Eu e Marco — o homem à minha frente agora tinha um nome, pensei — não gostamos nem um pouco dessa história. Só aceitamos acomodar Stefan porque ele implorou, e só no final, quando Gregório apareceu, ficamos sabendo de tudo.

Marco não falava nada, esperava apenas que Laila terminasse.

— Por isso, entenda, não vamos ajudar. Já tivemos muito prejuízo com tudo isso — diz ela, abrindo a caixa com a ajuda de uma tesoura que estava sobre a mesa. — Mas também sabemos que Sarah e Stefan estão em perigo, assim como você, por se envolver nessa confusão.

Ela faz um gesto para que eu me aproxime. Hesito por um momento e só me levanto quando Marco acena com a cabeça, indicando que eu a obedeça.

Quando me aproximo, olho dentro da caixa. Lá dentro, havia algumas peças de roupas velhas e um par de sandálias antigas.

- Stefan logo que foi embora quando Gregório apareceu, pediu para que guardássemos essa caixa. E assim foi feito – Marco levanta da mesa e também se aproxima. – Mas, quando ele retornou há alguns dias, pediu que entregássemos a caixa a você caso aparecesse.

Encaro ambos. O que Stefan estava pensando quando me entregassem uma caixa com suas roupas velhas? Queria que eu as lavasse?

— Havia uma única ordem vinda dele, depois de tantos 'obrigados' e 'desculpas' — Marco franziu o cenho, em sinal de negação. — Não poderíamos abrir a caixa, de jeito nenhum. Mas, agora que olho para dentro dela, não vejo o motivo para esse pedido.

Devia haver algo importante naquela caixa. Caso contrário, não teria sido tão crucial para ele pedir que não a abríssemos.

— Olha — digo finalmente, — sei que ele trouxe muita tragédia para vocês, e também que serão bem compensados quando tudo isso acabar. Se Gregório voltar a aparecer por aqui, poderão entrar em contato comigo; faremos o possível para evitar mais confusões. Mas, por agora, eu preciso ir embora. – Falei sendo o mais séria possível.

Eles se entreolham.

— Sabemos. Encontre Sarah, salve-a e resolva isso. Por favor — diz Laila, com um tom de insegurança.

Aceno com a cabeça. Pego um bilhete que estava no caixa principal e uma caneta, anoto meu número de telefone. Por mais incrível que pareça, Enid estava certa ao dizer que eu deveria decorar essa sequência de números, apesar de eu ter insistido que não era importante.

Pego a caixa, juntamente com o livro e, antes de sair, lanço um último olhar para ambos. Percebo a preocupação em seus rostos, mas tenho certeza de que ficarão bem. Saio da cafeteria, sem rumo. Olho ao redor, refletindo sobre meus próximos passos.

Caminho até encontrar um lugar onde me sinto segura para finalmente ver o que há dentro da caixa. Paro ao lado da floricultura, o mesmo lugar onde, mais cedo, a senhora idosa havia testado minha paciência.

Vitus Shaitt - WandinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora