Vitus Shaitt - Wandinha

XV

— Sarah! — murmuro, colocando uma das mãos em seu rosto e percebendo que ela está completamente inconsciente. Meu olhar percorre o ambiente, desesperada, em busca de qualquer coisa que possa nos ajudar. O que fazer quando alguém desmaia? Lembro-me de que é preciso elevar os pés da pessoa, então faço isso, tentando ao máximo não machucar seus pés e dedos. Olhando de perto, vejo que a pele onde antes ficavam suas unhas está em carne viva.

Espero que ela desperte rapidamente, mas o tempo passa, e começo a perceber que algo está errado. Ela demora mais que o normal para recobrar a consciência. E se não fosse apenas um desmaio? Talvez tenha sido o cansaço extremo que a fez cair em sono profundo, incapaz de lutar contra o desgaste do próprio corpo.

Essa era minha chance de buscar a planta que Sarah mencionou. Eu precisava ser rápida e voltar antes que ela despertasse. Olho ao redor, até avistar uma folha larga de bananeira não muito longe. Vou até lá, a recolho e cubro o corpo de Sarah com cuidado, na tentativa de protegê-la de qualquer olhar ou ameaça.

Com a madeira em chamas na mão, olho para a floresta densa à minha frente. Como encontrar uma planta específica em meio a tantas outras? Sinto o peso da tarefa, mas não posso hesitar. Lembrando da descrição de Sarah, tento focar nas grandes raízes e nas flores de tom amarelado, quase dourado. Esse pensamento me dá forças, e sigo em direção à escuridão da floresta, determinada a encontrar nossa única esperança.

Cada passo na floresta parece me puxar mais para o fundo de um labirinto sem fim. A escuridão me envolve, e percebo como a floresta é sufocante de uma maneira única — diferente de tudo que já enfrentei. Eu preferiria mil vezes o confinamento frio de um calabouço; ali, o silêncio é conhecido, as sombras são familiares. Mas aqui, a floresta é viva, e cada ruído, cada sussurro de folhas me coloca em alerta.

O tempo passa, e minha paciência começa a se desgastar. Caminho mais fundo entre as árvores, ainda sem sinal da planta. Por um instante, penso que talvez eu não tenha o que é preciso para salvá-la.

Minha mente volta para Sarah. Antes dela, eu era prática, direta. Vivia pela minha própria segurança e pelos meus próprios objetivos. Mas desde que a encontrei, algo começou a mudar. Em outro tempo, em outra situação, eu teria deixado qualquer um para trás sem pensar duas vezes. E ainda assim, aqui estou, mergulhada na escuridão, sozinha, em uma missão que eu nunca pensei que faria.

E me pergunto: isso é bom ou ruim? Essa nova vulnerabilidade me faz mais forte ou apenas me torna mais fraca? Não tenho a resposta, mas sinto que agora, seja como for, não consigo me imaginar voltando a ser quem eu era. A conexão que criei com ela, com alguém além de mim mesma, me transformou. Mas uma coisa era certa, eu não poderei me aproximar mais dela, não como fiz com Tyler. Acreditei que o que eu estava fazendo era certo, até descobrir mais a fundo dele. Mesmo eu já sabendo onde Sarah está metida, tentarei ser apenas uma amiga para tirar ela dessa situação.

Enquanto tento seguir em frente, um movimento rápido entre os arbustos à minha esquerda me faz parar. Meu coração dispara, e eu levanto a tocha, pronta para enfrentar qualquer criatura que tenha se aproximado. Um segundo depois, um coelho sai correndo e desaparece entre as árvores, deixando-me parada, sentindo-me tola por ter me assustado com algo tão insignificante.

Respiro fundo, tentando controlar minha frustração, e então percebo um leve brilho entre as raízes próximas. Um tom dourado, quase reluzente, se destaca no escuro. Meu coração salta, e eu me aproximo cuidadosamente. Ali está ela: a flor de Tynion, com pétalas que refletem a luz da tocha em um tom quente e peculiar. Ajoelho-me, e com um misto de alívio e desprezo, colho a flor. Nunca pensei que uma missão tão ridícula — buscar uma flor — seria tão importante para mim.