XIV

76 13 5
                                    

Sarah é mais pesada do que eu pensava, não necessariamente por sua altura ou aparência física, mas porque coloca todo o seu peso sobre mim. Ela não consegue se sustentar, está exausta.

Correr parece mais difícil do que nunca, mas eu dobro meus esforços. Ao deixar o santuário, sinto que estamos sendo observadas, o que me preocupa. Gregório pode estar por perto, à espreita, pronto para atacar, e se isso acontecer, será o nosso fim.

Não conheço nada por aqui, e sei que, se voltar pelo caminho de onde vim, acabaremos direto na cidade, o que seria um erro, pois Gregório conhece bem aquele lugar. Marco e Laila não vão mais nos ajudar. Ao olhar para o outro lado, vejo uma floresta, densa e completamente escura. É por ali que iremos; não posso hesitar.

Sarah geme de dor a cada passo. Seus gemidos são baixos, mas o suficiente para me deixar inquieta. Cada som é uma lembrança do quanto estamos vulneráveis. A floresta diante de nós é densa, as árvores se estendem como muralhas escuras, e o vento sopra de forma irregular, carregando uma umidade fria que arrepia a pele. Tento manter o foco, mas o cansaço de Sarah me distrai. Ela se arrasta, pondo todo o peso sobre mim, respirando com dificuldade, e a cada tropeço dela, sinto o peso da responsabilidade aumentando em meus ombros.

O chão da floresta está coberto de folhas secas que rangem sob nossos pés. O som ecoa no silêncio opressor. A sensação de que estamos sendo observadas ainda me persegue, e minha mente não para de criar cenários sombrios de Gregório surgindo das sombras.

- O que foi...? - Sarah tenta perguntar, sua voz entrecortada pela dor.

- Precisamos continuar. Não podemos parar agora - digo com firmeza, tentando ignorar o medo crescente. - Ele pode estar perto.

Ela balança a cabeça em silêncio, como se entendesse, mas sei que suas forças estão acabando.

Entramos mais adentro da floresta, o quanto mais fundo íamos, melhor. No entanto, à medida que avançávamos, a escuridão se tornava mais densa, até que nossa visão foi completamente tomada. Pego meu celular no bolso, ligando a lanterna para ver melhor. Em uma mão seguro o celular, iluminando nosso caminho, e na outra mão, seguro Sarah com todas as minhas forças. Ela mantém os olhos fixos nos próprios pés, concentrada em evitar qualquer tropeço.

Não demora muito para o celular dar o seu último apito de bateria, desligando por completo logo após.

- Não! – Falo quase gritando. – Que merda. – Murmuro.

Eu olho para a frente, tentando encontrar algum sinal de luz que pudesse nos guiar, mas tudo o que vejo é a escuridão.

— Espera um pouco — digo, tensa. Solto devagar o braço de Sarah e a conduzo para que se sente. Ela obedece, soltando um gemido de dor. - Tive uma ideia.

Eu me arrasto pelo chão, tateando a terra com as mãos à procura de qualquer pedaço de madeira e duas pedras. "Por que eu não trouxe aquela tocha comigo?", penso, frustrada. O tempo estava se esgotando.

Quando finalmente encontro o que preciso, faço o que sempre ouvi falar: bato as pedras uma contra a outra, tentando gerar faíscas na esperança de acender uma chama. Será que funcionaria? Não sabíamos, mas era a nossa única chance.

Depois de alguns minutos de tentativas incessantes, finalmente uma faísca cai sobre o pequeno monte de galhos, gerando uma chama tímida. Soprei delicadamente, fazendo a chama crescer e se espalhar. O fogo, que eu tanto me esforcei para acender, finalmente surgiu.

Sarah permanecia em silêncio, e eu entendia — falar apenas consumiria mais de sua energia. Mas então, ouço seu sussurro suave:

— Inacreditável.

Vitus Shaitt - WandinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora