Ah, aquele cheiro de sangue era agradável, não era tão forte, mas isso me trazia velhas lembranças de volta. A escuridão para muitos é algo considerado desagradável, mas para mim, era como se já me pertencesse, e eu sabia que não havia mais como viver sem.
- Hm, vejo que a mocinha acordou. – Ouço uma voz desconhecida ao meu lado. Abro lentamente meus olhos, sendo cegada pela claridade do sol que adentrava a janela ao meu lado.
Tento deixar meus olhos fechados ou semicerrados, mas sou impedida, não consigo mais voltar para a tremenda escuridão.
- Senhorita Addams, consegue me ouvir? – Eu lhe ouço, mas a minha preguiça é tanta, que não tenho vontade de responder. Assinto o máximo que posso com a cabeça. Para quem eu estava respondendo? – Ótimo.
Quando finalmente consigo vencer a minha preguiça, olho ao redor. Estou em uma cama, cercada por mulheres de branco.
- O que estou fazendo na enfermaria? – Digo ao reconhecer o local. Encaro uma das enfermeiras.
- Você acabou se machucando na Copa Poe, então tivemos que lhe trazer aqui. – Ela estava mexendo em alguns medicamentos ao meu lado. – Não se preocupe, não foi nada grave, não com você.
Como assim não comigo? Olho ao redor, Sarah também estava ali, deitada sobre uma cama, recebendo os mesmos tipos de tratamento. Mas havia algo de diferente nela.
- Não se preocupe. – A moça loira sorria para mim, imaginando que a minha preocupação fosse uma só. - A Copa Poe foi cancelada. Eliza disse que seria a melhor opção, visto que a maioria dos participantes havia sido dopados por uma substância desconhecida.
Dopados?
- Não toca em mim! – Ambas nos assustamos ao ouvir o berro de Sarah. – Vocês não têm esse direito.
- Calma, só estamos aqui para te ajudar. – Uma enfermeira tentava a acalmar. Eu a encarava, e ela sabia disso, pois retribuiu o olhar. – Você precisa tomar esse medicamento, se não nunca irá melhorar.
- Não preciso disso. – Exclamou ela furiosa. – Agora me deixem em paz. Todas vocês!
A enfermeira ao meu lado fez sinal para que todas se afastassem.
- Aperte esse botão se precisar de algo. – Ela fala em minha direção, mostrando um pequeno botão ao lado da cama. – Ele irá soar uma campainha, logo uma enfermeira estará a sua disposição.
Logo, o quarto fica em total silêncio, apenas nós duas ali naquela enfermaria. Haviam flores ao lado da minha cama, Sarah as encarava. Ao seu lado, não havia nada, nem flores, nem uma lembrança.
- Por que você seguiu aquele rastro? – Ela pergunta finalmente.
- Eu-
- Por que você gosta de se meter onde não é chamada? – Ela estava furiosa, e eu não entendia o motivo.
- Quem era ele? – Questiono. Ela franze a testa em negação.
- Para de fingir que não sabe de nada, Addams. – Seus olhos estavam diferentes. Ela estava com medo. – Você sabe quem ele é. Você sabe que ele é Gregório Di Ghringör.
Como ela sabia? Ela não estava la quando Tio Chico me contou sobre ele. Pela primeira vez, sinto-me ansiosa pelo que está por vir.
- Você sabe do que ele é capaz, não sabe? – Nego balançando a cabeça. Ela olha para fora da janela, observando alguns alunos abaixo, conversando. – Se não fosse eu naquele momento, você não estaria mais aqui.
- Então porque me defendeu? – Sinto minhas mãos soarem. – Por que fez isso?
- Por que se não... – Ela dá uma pausa para respirar profundamente. – Você estaria morta. E seria por minha culpa.
Ela volta novamente para as flores ao meu lado, olho para elas também. Margaridas.
- Todos acham que eu lhe machuquei. Pois fui eu quem lhe trouxe até aqui. – Não perguntei nada, somente deixei que terminasse de se explicar. – Me questionaram o que houve, mas eu sabia que não acreditariam em mim. Eles acharam a Tynion na minha mochila. – Franzi os cenhos em confusão. – A substância ao qual todos foram dopados. São pequenas pétalas de flores, desconhecidas para vocês.
- O que você fez? – Foi tudo o que eu consegui perguntar.
- Tynion é uma planta curadora, mas usada de forma errada e em pequenas doses, pode fazer com que a pessoa fique alguns minutos desacordada, nada que vá fazer mal a pessoa. Mas uma dosagem alta, faz com que a pessoa permaneça dormindo por um longo tempo.
- Você os dopou?
- Correto. – Ela abaixa a cabeça. – Mas com pequenas dosagens. – Ela me encara novamente. – Se eu não tivesse feito isso, você acha que essa enfermaria não estaria lotada? Eu o senti lá, durante toda a Copa Poe. Ele mataria a todos nós.
- O que ele quer?
A enfermaria fica em um silêncio incomodador. Não se ouvia nada, nem mesmo os pássaros do lado de fora. Os alunos que estava antes ali embaixo, haviam se retirado.
- Sarah. – Foi a primeira vez que eu falava o nome dela em tom alto e claro. – A escola está em perigo? – Ela confirma com a cabeça. – Então você precisa confiar em mim, me conte o que está escondendo.
- Por que eu faria isso?
- Por que se não, todos da escola irão se machucar.
- Olhe para você, Addams. – Seu rosto estava sério. – Olhe as flores ao seu redor. Todos se importam com você..., mas e comigo? – Senti uma pontada em meu peito. - Perdi a movimentação do meu braço direito te protegendo. – Meus olhos se arregalaram, sem eu querer. – Eu vim a Never More para cuidar de Gregório, não para ficar protegendo vocês.
- Mas-
- Mas o que, Addams? Você se importa? Por que parece que foi o fim do mundo para você quando aquele seu tio careca pediu para você se tornar minha amiga?
- Você estava lá?
- Ela sempre está lá. Esse é o poder dela. – Ouço uma voz vindo pela entrada da enfermaria. Era um garoto, alto, cabelos negros, pele clara como a neve, olhos diamantes como os dela. – Esse é o nosso poder. O poder de um Ghringör.
- Stefan. – Ela fala. – Não deveria estar aqui.
Ele caminha até ela. Roupas escuras, um ar sombrio. Ele era bonito.
- Deveria parar de se aventurar por aí, maninha.
Eram gêmeos.
Ele toca o braço dela, e vejo a cicatriz no braço dele, a mesma cicatriz que eu vi em Gregório. Ela brilha. Quando menos espero, o braço dela se mexe. Ela geme de dor, mas logo levanta o braço como se nada tivesse acontecido.
Ela se levanta e começa a caminhar, passando pela minha cama.
- Você não tem a cicatriz. Eu vi. – Questiono diante a ela.
- Não. – Ela fala. – Por isso que eu canto. – Foi tudo o que ela havia dito antes de se retirar.
Ela era uma Ghringör. Mas então por que ela estaria atrás de Gregório para lhe parar? Nada faz mais sentido, mas finalmente algumas peças estão se encaixando.
Não poderei parar de me meter onde não sou chamada. Sorrio. Por que agora, você está cada vez mais interessante, Sarah Ghringör.
Continua...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Vitus Shaitt - Wandinha
Fiksi Penggemar"Ela é mais misteriosa que você, Wandinha. Se há algo misterioso nesta escola, é ela." Quando Sarah surge como a novata da escola, tudo muda, eventos estranhos começam a acontecer. Lutas, magias, mistérios... Ela é a chave para salvar a escola ou su...