17

24 8 9
                                    

O sinal tocou. Mas meu cérebro está em outro lugar, preso em um turbilhão de emoções. A aula? Nem me toquei. A imagem do meu pai, abatido e frágil, ainda me assombrando, como um fantasma teimoso que se recusava a ir embora. Sinto um misto de alívio e angústia, a sensação de que um peso enorme foi tirado das minhas costas, mas, ao mesmo tempo, a consciência de que a batalha ainda não acabou.

Davi me olhava assim como ontem, fazendo eu me sentir inquieta e desconfortável. A cada segundo que passava, a sensação de desconforto aumentava, ainda bem que a aula terminou!

— Vamos, Alice — a voz da Emily me tirou dos meus devaneios, sua expressão era um misto de preocupação e curiosidade. — Você anda tão distraída ultimamente, aconteceu alguma coisa?

— É que tenho pensado muito no meu pai, só isso. — respondi, a voz quase um sussurro. Levantei-me, e nós três caminhamos em direção à saída.

— Você tem notícias dele? — a pergunta da Amanda ecoou no corredor, carregada de uma expectativa silenciosa.

— Ele está bem, se recuperou. — falei, tentando soar confiante, mas a tristeza ainda me oprime. — Daqui a alguns dias, provavelmente estará em casa.

— Aí, meu Deus! E como ficará a situação? — Emily perguntou, a curiosidade estampada em seu rosto.

— Ele não vai ser preso, infelizmente. — a frase saiu como um sopro de ar frio, carregada de uma profunda decepção. — Mas o importante é que ele vai deixar minha mãe em paz.

— Sério? — a voz da Emily soou desanimada, como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre ela. — Pelo menos isso então.

— Fico triste em saber disso. — a voz da Amanda era suave, carregada de compaixão. — Mas o importante é que você e minha tia ficarão bem.

Apenas assenti. A conversa com as meninas me deu um breve respiro, mas a sensação de aperto no peito não passou.

— Vamos sentar aqui um pouco? — a voz da Amanda era suave.

— Por mim tudo bem — respondi, me sentando no banco, e logo elas também sentaram.

— Estou sentindo você muito para baixo, amiga, vamos sair esse fim de semana, apenas nós três? — Emily me olhou com preocupação, seus olhos castanhos brilhando.

— Acho que é uma ótima ideia — respondi, uma ponta de esperança surgindo no meu peito.

Realmente estou muito triste e preocupada, talvez sair com elas eu consiga me sentir melhor.

— Concordo. — Amanda assentiu, e um sorriso tímido se formou em seus lábios.

Davi saiu do colégio. Começou a vir em nossa direção, seus olhos vidrados em mim.

— Alice! — avi se aproximou, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos tinham um brilho de insistência.

— O que você quer agora? — cruzei os braços, a irritação começando a ferver dentro de mim.

— Posso falar com você, rápido?! — ele disse, olhando para as meninas como se estivesse pedindo permissão.

— Fala logo! — falei, a voz mais alta do que eu pretendia, assim que nos afastamos das meninas. — Não tenho muito tempo.

— Alice, calma! —  ele tentou soar calmo,  mas sua voz tremia.  — Eu quero que você me perdoe.

Toda vez que ele diz para eu perdoá-lo, fico com mais raiva ainda dele. Como ele quer que eu o perdoe?

— Eu não vou te perdoar,  não depois do que você fez comigo! —  falei, gritando novamente, tentando colocar a raiva que sinto dele para fora.

— Mas eu te juro que não é verdade — ele insistiu.

— Eu não acredito em uma palavra sua. E se era só isso, tchau. —  Dei as costas para ele.

— Você não quer voltar comigo porque está com o Miguel, não é? —  ele agarrou meu braço, seus dedos apertando com força.  — Me diz se é verdade Alice.

— O que faço da minha vida, não é da sua conta. — tentei me soltar, mas ele apertou ainda mais.

— Então é verdade —  ele disse, sua voz agora carregada de raiva.

— Me solta. Está me machucando —  falei, a dor no meu braço começando a se tornar insuportável.

— Você já estava com ele, não é?  Por isso terminou comigo. —  ele apertou ainda mais, olhando nos meus olhos com uma intensidade que me fez gelar.  — Bem que me falaram que você é uma putinha.

— Aí! —  gritei, a dor me fazendo perder o controle. As pessoas ao nosso redor se viraram para olhar, mas eu só consigo sentir a raiva estou sentindo.

Ele finalmente soltou meu braço, mas a marca de seus dedos ainda ardia na minha pele.

— Nunca mais chega perto de mim. —  falei, a voz tremendo, mas firme.

Ele se afastou e saiu, indo na direção contrária. Mas a humilhação que ele me causou ecoa em meus ouvidos. 

Voltei para perto das meninas, meu corpo tremendo, a raiva e a dor me deixando sem palavras.

— Vamos embora, Amanda —  falei, pegando minha mochila e colocando nas costas.

— O que aconteceu? —  Amanda perguntou, sua voz cheia de preocupação.

— Só quero ir para casa! —  falei, tentando disfarçar a dor e o medo que me invadiam.

Não direi nada para ela, pelo menos não agora. Conheço minha melhor amiga, e ela poderia ir para cima dele,  e eu não quero que ela se machuque.

Como ele pode apertar meu braço daquele jeito?  Quem ele acha que é?  E como pode falar aquilo de mim?  Me chamar de puta só porque não quero estar com ele?  Eu não acredito que namorei aquele moleque e só vi o quanto ele é um babaca agora.

A Força Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora