Capítulo 9

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— O que tanto aflige meu neto de coração? — É o que o avô de Jimin me questiona.

Ele me pediu para ser chamado de avô também, ou vovô, como ele mostrou preferir. E não é como se eu me importasse, claro, eu o tenho em meu coração como se realmente tivéssemos uma ligação sanguínea. Só que, no entanto, ter o mesmo sangue nunca foi sinônimo de família. Logo, eu sei que não preciso ser seu neto de sangue para ser considerado de tal forma.

Eu passei dias incrivelmente felizes desde meu primeiro beijo com o meu grande amor, e Jimin tem sido o melhor de todos comigo a todo instante. Sempre que estamos juntos, eu sinto meu coração bater rápido, sinto borboletas no estômago e sinto que poderia rasgar as bochechas de tanto sorrir. É uma sensação que nunca tive antes, exceto se tratando dele, mesmo quando mantínhamos unicamente uma amizade.

Nossa amizade sempre foi íntima demais, e mesmo assim muito mudou desde o nosso primeiro encontro, onde nos beijamos, nos tocamos e nos tornamos ainda mais próximos do que sempre fomos.

O que está me incomodando hoje, duas semanas após aquela noite, foi a mensagem que recebi de minha mãe. Nessa mensagem, ela diz que sente minha falta e que gostaria de recomeçar comigo, mas que não vai se separar do meu pai e que vai seguir as crenças que ele vê como corretas. Ah, e eu preciso voltar a ser normal para ser aceito naquela casa outra vez.

Isso só me faz pensar que ela não sente tanta saudade assim de mim. Ela sente saudade do filho que ela pensava que tinha, aquele que eu mostrava ser mesmo que eu odiasse. Aquilo nunca foi real.

— É complicado, vovô. — Murmuro, virando panquecas como se minha atenção realmente estivesse nisso. — Eu tenho uma relação conturbada com meus pais. Agora ela é inexistente, na verdade.

— E você quer me contar o motivo disso? — Ele indaga. — Sabe que eu sou diferente dos outros da minha idade, não sabe? Os vizinhos me acham insano por eu aceitar tão bem a sexualidade do meu neto e a relação que vocês dois têm.

— Você é mesmo diferente de todos. — O dou um sorriso, verdadeiro dessa vez. — Mas talvez isso seja estranho para você também. Vou contar, porque confio muito no senhor.

— Me conte! — Ele sorri para mim.

E eu sinto medo do julgamento, sinto medo de que ele me veja diferente ao saber da verdade. Mas, mesmo assim, eu o sinto como parte da minha família e sei que mesmo estranhando, ele não vai me abandonar ao saber.

— Eles sempre foram rígidos e nunca aprovaram minha amizade com o Ji. Sempre disseram que ele me levaria para o mau caminho de um jeito ou de outro. — Reviro os olhos, virando a última panqueca. — Eu nunca me importei de verdade com isso, relevava porque pensava que seus comentários eram da boca para fora. Mas eles não eram, nunca foram.

Seguro a travessa com as panquecas e a coloca na frente do senhor Park, junto com a colher para que ele coloque o recheio que fiz. Ele gosta de me ajudar na cozinha, então eu sempre divido as tarefas com ele.

— Eu sempre soube que era diferente dos meus colegas, mas Jimin parecia sempre me entender e apoiar, então eu não me sentia sozinho e nem tão estranho. — Dou de ombros. — Mas isso nem ele sabia. Vendo minhas colegas, de saias, roupas delicadas e acessórios coloridos, eu comecei a me sentir estranho. Não porque eu não me via como homem ou coisa assim, mas porque eu queria ser um homem que usava roupas como elas. Especialmente as saias.

Faço uma pausa, percebendo que seu olhar sobre mim segue exatamente o mesmo. Nada mudou.

— Então eu fiz uma compra online, e quando chegou eu resolvi experimentar. Só que eu não tranquei a porta do quarto... — Sussurro, agora picando legumes para refogar. — Meu pai me viu vestindo uma saia e simplesmente surtou dentro de casa. Eu fugi para dentro dos braços que sempre me causaram a proteção e o amor de um lar, e eu jurei que ele também olharia estranho para mim... mas você sabe, Jimin é incrível.

— Você também é, Jun. — Ele sorri. — Seus pais não, eles não merecem você. Nem merecem esse título, honestamente.

— É, eles preferiram me ver indo embora de casa do que aceitar minhas escolhas, e eu preferi morar com Jimin por saber que somente assim eu seria livre do preconceito deles. — Continuo. — Eu pensei que seria pior, que eu não me acostumaria com esse abandono afetivo, mas a verdade é que eu nunca os tive completamente comigo. Tanto por suas ocupações, quanto pelo ódio nítido que eles tinham.

— Meu neto é uma pessoa incrível, Jun, ele faria tudo por você. — Ele diz. — Ele é apaixonado demais por você, Jun.

— Eu também sou. — Digo baixinho. — Mas, então? Continuo o mesmo para você?

Apesar de meu tom brincalhão, é óbvio que eu sinto receio. Não por ele, mas porque outras pessoas que juravam me amar fizeram isso comigo em um passado não tão distante. É natural que eu sinta medo.

— Por que não continuaria? Suas roupas não definem seu gênero. Quem você beija não define o seu gênero. Nada disso define o seu caráter. Você é o meu neto do coração, você é o grande amor de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Eu o veria diferente se você fosse o oposto de quem é, meu bem, mas você é ótimo, você é incrível e eu amo você.

Com sua fala, eu sinto meus olhos cheios de lágrimas e acabo me aproximando para o envolver em um abraço apertado, onde acabo quase em seu colo de tanto que o agarro. Eu nunca tive muito contato com meus avós, então eu sou grato por ter alguém como ele tão próximo a mim. Eu tenho certeza de que o cuidaria mesmo que não fosse pago para isso, porque ele é muito importante para mim.

Agora, é ainda mais.

— Obrigado, vovô. — Sussurro, o apertando e sendo apertado de volta.

— Você não tem que me agradecer por fazer o mínimo.

— Como estão as minhas pessoas favoritas? — É a voz animada de Jimin que quebra o nosso abraço, e seu sorriso morre quando ele vê meus olhos encharcados de lágrimas. — Quem foi?

— Ji...

— Quem te fez chorar? — Ele insiste, se aproximando de mim após deixar um selar na testa de seu avô. — Quem foi, meu amor?

Como sei que sempre me sinto melhor quando desabafo com Jimin, o entrego o meu celular para que ele leia a mensagem enviada por minha mãe. Se fosse um pouco mais irracional, ele jogaria meu celular no chão ou o apertaria com força o bastante para quebrar, mas não é isso que Jimin faz. Ele bloqueia a tela, respira fundo e fecha seus olhos por alguns instantes, provavelmente em busca de se acalmar.

— Por que eles simplesmente não te deixam em paz? — Ele esbraveja. — Sério, eu não consigo entender!

— JiJi, fique calmo, Jun está aqui, e nós vamos cuidar dele. — Seu avô diz, me arrancando um sorriso em meio as lágrimas. — Ele não está chorando pela mensagem.

— Na verdade, você sabe que eu sou chorão. — Digo ao Ji. — Eu estava contando sobre o que me fez sair de casa, sobre as roupas que eu gosto de vestir...

Jimin observa seu avô e sorri aliviado, provavelmente por constatar o mesmo que eu, que ele é um senhor incrível que nos aceita completamente.

— Agora que ele sabe, por que não veste? — Jimin diz, então. — Comprei para você.

Ele me entrega uma sacola que estava no sofá. Eu o observo em dúvida. Uma coisa é aceitar, outra bem diferente é vestir esse tipo de roupa na frente do senhor Park e esperar por uma boa reação.

— Tenho certeza de que vai ficar adorável. — É o que ele diz, então. — E mais confortável do que usando esse jeans apertado. Vá logo, querido.

E ao ter um selinho roubado de Jimin, eu vou.

Seu presente nada mais é que uma saia do mesmo modelo de todas que ele me dá, em um tom amarelo quase pastel, junto a uma blusa branca com detalhes brilhosos que é quase um suéter por sua grossura.

Fica adorável junto ao par de tênis de botinha que eu já vestia. Ao me olhar no espelho, me sinto ótimo. Mas andar na direção de Jimin e seu avô e ver o sorriso que eles me direcionam, faz com que eu me sinta ainda mais importante e especial.

E é assim que eu ignoro totalmente a mensagem enviada por minha mãe, porque eu definitivamente não preciso de um amor falso como o que ela e meu pai querem me dar.

Eu tenho um amor forte e verdadeiro bem aqui.

Delicate | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora