“Perder seu caminho é a maneira de encontrar o caminho”.
Uma semana depois da minha estupidez.
O dia estava passando tranquilamente, mas minha consciência não me deixava ter um minuto de paz.
Todos os dias acordava atordoada, achando que meu pai descobriria o que eu tinha feito.
Se ele não descobrisse, do jeito que sou estúpida, eu me entregaria.
Não conseguia comer e nem dormir, parecia que eu tinha cometido um crime.
Havia roído todas as minhas unhas, estava impaciente, inconstante.
Não sou muito boa com mentiras, o ato de mentir para mim era muito fácil, mas sustentar a mentira era outra história.
Não entendia ainda o motivo de não ter conhecido meu noivo, também não perguntaria, talvez achassem que eu estivesse interessada em saber.
Espero que ele tenha desistido, que se sentir ridicularizado por eu ter sumido quando ele queria me conhecer, fizesse com que não aceitasse mais essa união.
Em meu quarto, olhava o teto que encarei a semana inteira, ainda tendo os mesmos pensamentos.
Buscava lembranças daquela noite, de como parei na cama de um desconhecido.
Era para ter sido só um beijo.
Me remexia na cama, bagunçado toda a arrumação dela, enquanto me jogava de um lado para o outro, xingando todos os meus antepassados por ter um jeito tão impulsivo.
Isso era de família, minha mãe casou com o meu pai com 1 mês de namoro. Ele fez o pedido e ela aceitou sem nem pensar direito.
Como eu pude ser tão irresponsável?
Eu já tinha uma lista muito grande, mas nada como isso, nada que meu pai realmente me bateria até me matar se possível.
Toco os meus lábios, ainda na mesma posição que fiquei durante todos os dias deitada nessa cama, lembrando do olhar daquele homem como um replay na minha mente, toda hora.
Ficava martelando em meus pensamentos o seu olhar e o seu beijo o tempo inteiro.
Aqueles olhos é que não saem da minha cabeça.
Como não esbarrei com esse homem antes?
Estava tão ocupada fugindo do meu pai e de todos os pretendentes, que percebo agora que não conheço quase ninguém aqui.
O que aconteceu para que eu aceitasse ter ido para cama com ele? E pior, eu cogitava a ideia de que poderia ter sido eu que sugeriu isso.
Não duvido da minha estupidez, aceito ela.
Devo só estar pensando muito nele, porque foi o meu primeiro, essa deve ser a desculpa para tudo isso.
— Esquece isso, Giulia — digo a mim mesma, colocando as mãos no rosto.
— Giulia — minha mãe entra no quarto, quando sobressalto na cama pelo susto.
— O que houve?
O que seria? Ela descobriu? Meu Deus!
— Sairá com a sua sogra e cunhada hoje, arrume-se rapidamente para não se atrasar.
Solto a respiração, não sabendo se fico feliz ou não, de não ter sido o que aconteceu o motivo da conversa.
— O quê? — Sento na cama. — Não, de forma alguma, eu não vou me prestar a esse papel de moeda de troca entre vocês — falo, mas logo me arrependi, a dor de cabeça me incomodava.
— Giulia, não teste a paciência do seu pai — ela falava manso, mas sabia que estava quase enlouquecendo pelas minhas últimas "birras".
Ela saiu do quarto, não se dando o trabalho de discutir isso.
Levanto da cama, me sentindo um pouco tonta.
Fiquei a semana inteira deitada, sem conseguir nem comer, se eu desmaiasse agora, seria uma benção.
Não queria ter que ir para lugar nenhum, mas fiz o que a minha mãe queria, porque independente de tudo, eu sempre cedia.
Me aprontei e esperei alguma delas aparecerem.
— Luna ligou, disse que não vai poder vir lhe buscar, pediu que as encontrasse no shopping — minha mãe me informou e assim eu fiz.
Luna era a irmã do meu noivo, espero não esquecer do seu nome.
Essas novas obrigações como um tipo de teste para entrar na família, estava me tirando do sério.
O fato de não ter ainda feito mais discussões sobre o casamento com o meu pai, é porque desta vez eu tinha medo dele descobrir o segredo que eu estava guardando.
Agora parecia que realmente eu tinha que aceitar tudo que ele quisesse, como se agradar por alguns minutos fosse mudar o que aconteceria comigo quando ele descobrisse.
Pedi um táxi e fui ao encontro da minha nova família.
Ela queria me encontrar em uma loja de lingerie.
Não estava muito confortável com isso, eu nem conhecia e uma aproximação assim, era desconfortante.
Caminhei no shopping, não lembrava a última vez que eu vim aqui.
Pela primeira vez eu estava sozinha, não porque eu tinha fugido, mas porque me permitiram. Era diferente, até libertador.
Me pergunto como meu futuro marido será comigo.
Minhas experiências em casa com meu pai não era as melhores. Minha mãe aceitou muito suas mudanças, antes mesmo de estarmos fazendo parte disso. Eu cederia como ela? Aceitaria ser comprada com bolsas caras e brincos de diamantes para fingir não ver como o casamento estava fracassado tudo para manter as aparências?
Apesar de tudo, aqui casar significa uma união entre famílias. Viver e morrer por você. Era isso que deveria ser.
Só que não é bem assim, se você crescer, eu cresço junto. Então suas vitórias se tornam as minhas, mas suas derrotas se tornam apenas minha culpa.
Passo pelas lojas, encontrando a que minha mãe avisou que elas estariam me esperando.
Logo adiante vi que não estava apenas a minha sogra aqui, tinha mais três mulheres com ela, uma jovem que deve ser a tal Luna e mais duas senhoras.
Elas notam a minha presença, conforme eu ia me aproximando.
— Oi, sou Giulia... — Fui interrompida por uma das senhoras.
— Sua mãe não lhe ensinou a ser pontual? — Repreendeu, me mostrando o relógio de pulso. — Estamos te esperando há 30 minutos.
— É de se imaginar, Capo permitiu que a famiglia se misturasse tendo esses mestiços que não tem sangue italiano fazendo parte da organização — comentou a outra senhora, pautando sempre o terror que era aceitar alguém como eu aqui.
Eu nem cheguei direito e estava sendo bombardeada.
— O quê? — Eu não havia entendido nada. — Eu as aguardei em casa, mas avisaram de última hora que não me buscariam.
O que era tudo isso?
Era só o que me faltava, saí de uma guerra em casa para um campo minado aqui.
— Está louca? — Perguntou minha sogra, que da primeira vez que a vi, tinha sido mais educada. — Eu nunca disse que lhe buscaria em casa.
— Já estamos atrasadas, vamos entrar logo — disse a mais jovem, Luna.
O que aconteceu aqui?
— Andiamo — acena minha sogra a mim com uma expressão não muito contente.
Deixei elas passarem na frente, quando a última passou, me parando.
— Sou Luna, irmã do Louis — se apresentou, "limpando" uma sujeira em meu braço. — Fica esperta, garota, acha que eu deixaria meu único irmão se casar com alguém como você? Meus pais não se importam, sua família tem dinheiro, mas não sujarei o nome da minha família com o meu irmão casando com uma mestiça.
Então foi essa louca que deve ter falado com a minha mãe mais cedo.
A desgraçada armou para mim.
— Acha que eu estou soltando fogos de artifício por me casar com alguém daqui? Principalmente seu irmão? — Desvio do seu toque, segurando em seu braço agora. — Não se ache tanto, se fossem tão importantes, eu conheceria pelo menos seu sobrenome.
— Você é bem faladeira para alguém da sua patente — que cretina, ela age como se não tivesse a mesma que a minha. — Não me surpreende vindo de um sangue sujo igual ao seu. Adivinha só quem teria mais poder aqui, eu ou você? — Perguntou, mas não esperou que eu respondesse. — Farei a sua vida um inferno e ninguém lhe salvará de mim — se afastou, seguindo a mãe.
Sabia que se algo acontecesse, mesmo se as provas mostrassem que foi ela, eu que levaria a culpa.
Era só o que me faltava.
Retorno a caminhar, não participando da conversa, até porque, não estavam me incluindo nela.
Elas me entregavam o que queriam que eu usasse, enquanto eu as seguia.
Mordia o lábio toda vez que sentia vontade recrutar.
Não estava em condições de fazer isso, precisava ser mais obediente, até para quando meu pai descobrir o que aconteceu na semana passada, não está totalmente irado comigo.
Por outro lado, era difícil me controlar recebendo os olhares e cochichos entre elas rindo de algo em mim.
De canto de olho, me olho no espelho, observando a roupa que usava e até o salto que me prestei em colocar para ficar mais arrumada na frente da minha sogra.
Parecia tudo no lugar, vestido floral e delicado em perfeito estado, os saltos brancos limpos, ainda bem, mas o que elas estavam rindo? Por que estavam tentando me ridicularizar? Eu nunca nem falei com essas pessoas, por que fazem isso comigo?
— Meu filho está em uma viagem com o pai, ele voltará em duas semanas — diz, agora olhando de fato para mim, me incluindo na conversa. — Quando ele voltar, lhe encontrará como deveria ter acontecido na semana passada.
— Tudo bem.
— Use essa daqui, quero que fique linda para ele na sua primeira vez — me entregou uma lingerie vermelha, passando a mão pelos cabides, escolhendo mais peças. Tenho que pensar em algo para caso ele queira dormir comigo antes do casamento. — Ele ficou louco quando descobriu que você ainda era intocada — mal sabe ele da surpresa que vai ter. — Não se preocupe, ele será delicado com você.
Eu só sabia fingir normalidade, mas por dentro parecia que meu mundo ia desmoronar.
— Você é bem jovem — comenta a senhora mal-educada de agora há pouco, tocando em seu relógio de pulso caríssimo. — Pena que está magra demais.
— Farei com que ela engorde um pouco, não tanto, não quero que fique tão flácida quando gerar meu neto — minha sogra dá um sorriso forçado. — Ainda estou escolhendo o nome dele.
Que ótimo!
— Sabe cozinhar? Quero que meu filho tenha uma boa alimentação em casa — continuou.
Acho que ele não estava a procura de uma esposa, queria era uma doméstica/prostituta sem comissão.
— Com tanto dinheiro e não tem condições de contratar alguém para fazer isso — murmuro para mim mesma, dando um sorriso para ela. — Você não faz ideia do meu dom na cozinha.
Se ela soubesse...
— Está sendo debochada?
Eu era minoria, eram quatro contra mim, então precisava segurar um pouco meus comentários.
— De forma alguma — respondo, voltando a olhar os sutiãs.
— Você segure essa sua língua quando estiver na minha presença — ela para ao meu lado, tentando mostrar autoridade. — Percebi seus cochichos com a sua mãe aquele dia, eu não sou ela, se for para te educar, eu farei isso do meu jeito.
— Vou me casar com você? — Indago.
Giulia, cala a boca!
— Sua garota atrevida... — Seu espanto não era tanto quanto das outras mulheres. — Quanta petulância!
— Ela precisa se educar — as outras se aproximam. Me sentia na época das aulas, rodeada e sempre em minoria. — Não quer envergonhar seu sobrenome, não é, Luara?
— Pelo amor de Deus — reviro os olhos, virando na direção delas. — Não sou ingênua, querem minha simpatia, mas não querem ser gentis? Sou como um espelho, refleto o que fazem comigo. Não tentem me tirar como idiota, posso parecer não ter interesse nas mesmas ideias de vocês aqui dentro, é porque na verdade eu pouco me importo. Crescer ou não nesse lugar. Ganhar mais dinheiro ou menos. Nada para mim é atrativo. Então guardem para vocês suas metas — olho para a minha futura sogra. — Se eu me casar com seu filho, que eu espero que não seja um encostado que nem a irmã, que me julga, mas também não vejo uma aliança em seu dedo, eu espero mesmo que ele não venha com essa mesma postura que agiu comigo, porque pelo que vi, estamos no mesmo barco — dou um sorriso forçado. — É isso, tenham um resto de dia radiante, acredito que não precisarão mais de mim.
Saio, não muito segura agora.
Meu pai vai me matar.
Eu disse, sou autodestrutiva, eu me causo danos em mim sem querer.
Estava a caminho de casa, pensando em várias possibilidades de driblar o meu noivo.
Se ele não querer casar comigo, os boatos vão rolar.
Quem vai querer uma moça não virgem na minha patente como esposa?
Ninguém.
Entro em casa, que por sorte estava em silêncio. Procuro pelo meus pais, dando graças aos céus que nenhum dos dois estavam aqui.
Vou para o meu quarto, trancando a porta.
Olho pela janela do quarto, verificando se elas viriam aqui. Acredito eu que a família D'mico estava tão desesperada para casar o filho, que não iam se irritar com o que aconteceu, se fosse para esperar mais um pouco, esperavam eu casar com ele, assim era mais fácil de me regrar quando estivesse totalmente em seu mundo.
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LA VITA NELLA MAFIA - Salvazione
Romance* O LIVRO JÁ FOI CONCLUÍDO, MAS ESTOU REPOSTANDO NESSA CONTA* Segundo livro - Salvazione Em meio a tantas mudanças, o destino traça a vida de duas pessoas totalmente opostas, unindo de um modo que esse laço nunca mais será desfeito. Giulia Müller é...