Pri Daroit 🇧🇷

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A luz dourada do entardecer atravessava os janelões da academia de vôlei, iluminando cada detalhe do ambiente. O som das bolas quicando no chão, o farfalhar das redes e o eco das vozes faziam parte da rotina de Pri Daroit. Com os 33 anos, a jogadora de vôlei já havia passado por momentos de glória e tensão, altos e baixos que a tornaram uma das atletas mais respeitadas de sua geração.

Ela estava acostumada ao barulho, ao ritmo frenético das quadras, mas ali, naquela tarde quase silenciosa, o som que mais se destacava era a respiração de uma pessoa que vinha se tornando, de forma inesperada, uma constante em sua vida. Sentada na arquibancada da academia, com um olhar atento e um sorriso no rosto, estava Clara.

Clara não fazia parte do mundo do vôlei. Designer gráfica, dona de uma personalidade tranquila, ela havia conhecido Pri através de um amigo em comum, meses atrás, em um evento social despretensioso. Não demorou muito para que uma conexão genuína surgisse entre as duas, algo que começou com longas conversas sobre música, filmes e a vida cotidiana, mas que foi crescendo e tomando forma em algo mais profundo.

Pri, que sempre foi discreta em relação à sua vida pessoal, não havia planejado se envolver de novo tão rapidamente. O vôlei consumia grande parte de seu tempo, e ela estava acostumada a manter seus relacionamentos em segundo plano, especialmente depois de algumas decepções do passado. No entanto, Clara era diferente. Havia algo na maneira como ela a olhava, como sorria, como parecia ouvir de verdade cada palavra que Pri dizia.

Naquele dia em especial, enquanto Pri finalizava mais um treino intenso, Clara a observava em silêncio, admirada pela força e habilidade da jogadora. Ao final da sessão, com a quadra vazia, Pri foi até ela, enxugando o suor com a toalha.

"Você vai ficar me olhando assim o dia todo?" Pri provocou, com um sorriso brincalhão nos lábios.

Clara riu. "Não consigo evitar. É fascinante ver você jogar."

"Fascinante?" Pri arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa. "Acho que nunca ouvi essa palavra sendo usada para descrever um treino exaustivo."

Clara se levantou e caminhou até Pri, parando bem em frente a ela. "Para mim, é fascinante. Ver a sua paixão pelo que faz, a dedicação... E, claro, você jogando não é nada ruim de se assistir."

Pri deu uma risada leve e se aproximou mais, tocando delicadamente o rosto de Clara. O toque era suave, mas carregava a intimidade que as duas vinham cultivando ao longo dos últimos meses.

"Você está tentando me conquistar com elogios, Clara?" Pri perguntou, com um tom de brincadeira.

Clara sorriu de canto. "Será que está funcionando?"

Pri inclinou-se ligeiramente, seus lábios tocando os de Clara em um beijo terno, porém intenso. O gosto familiar, o calor daquele momento, fez com que o mundo ao redor das duas desaparecesse, deixando apenas a conexão que compartilhavam. Quando se afastaram, ambas estavam sorrindo, os olhos brilhando com uma compreensão silenciosa.

Clara limpou delicadamente o lábio inferior, como quem brincava com a intensidade do momento. Pri observou o gesto com curiosidade, mas antes que pudesse dizer algo, Clara riu.

"Foi só para provocar você," ela disse, piscando, sabendo exatamente o efeito que causaria.

Pri balançou a cabeça, fingindo uma expressão de incredulidade. "Sério? Você limpa meu beijo agora?"

Clara sorriu, divertida. "Quem sabe eu estava guardando para mais tarde."

A jogadora riu, puxando-a pela cintura em um abraço apertado, o calor de seus corpos se misturando. Clara sempre soube como desarmá-la com uma simples piada, e isso era algo que Pri adorava. A descontração que Clara trazia para sua vida era um alívio bem-vindo em meio à pressão das competições e treinos exaustivos.

"Eu deveria ficar ofendida," Pri murmurou no ouvido de Clara, sem soltar o abraço.

"Não deveria," Clara respondeu, acariciando de leve as costas de Pri. "Mas você pode tentar me convencer com outro beijo, quem sabe."

Pri afastou-se um pouco, olhando nos olhos de Clara, e deu um sorriso que ela sabia ser irresistível. "Acho que posso fazer isso."

Elas se beijaram de novo, e dessa vez o beijo foi mais longo, cheio de promessas silenciosas e um carinho que não precisavam verbalizar. A relação das duas não era feita de grandes gestos, mas de momentos como aquele, onde a simplicidade e a leveza prevaleciam. Não havia pressa ou expectativas irreais. Havia apenas o agora, e o que construíam juntas, dia após dia.

Ao se separarem, Pri segurou a mão de Clara e a puxou para a saída da academia. "Vamos sair daqui. Você ainda precisa me mostrar aquele lugar de que tanto falou, lembra?"

Clara assentiu, lembrando-se do café escondido em um beco, que adorava frequentar. "Você vai adorar. Tem a melhor torta de limão que já provei."

"Então, se a torta for boa mesmo, posso perdoar você por limpar meu beijo," Pri brincou, dando um leve apertão na mão de Clara.

Elas riram juntas, e o som da risada delas se misturou ao som distante das ondas que batiam na praia próxima. Pri não conseguia se lembrar da última vez que tinha se sentido tão leve. Clara trazia essa sensação para sua vida, e, embora o futuro fosse sempre incerto, Pri sabia que queria que Clara continuasse fazendo parte de seu presente.

No caminho para o café, Clara passou o braço pela cintura de Pri, e as duas seguiram em silêncio por um tempo, apreciando a companhia uma da outra. Para Pri, esse tipo de paz era algo raro. Ela passara tanto tempo focada em sua carreira, em alcançar a próxima meta, que não se permitia viver momentos assim – simples, sem o peso de uma medalha ou a pressão de um campeonato.

Clara, com seu jeito calmo, mostrava a ela que existia mais na vida do que as quadras. E, aos poucos, Pri estava descobrindo que essa nova perspectiva não significava perder o que ela amava no esporte, mas sim encontrar um equilíbrio. E naquele equilíbrio, Clara havia se tornado uma parte fundamental.

Quando chegaram ao café, Clara pediu duas fatias de torta e, enquanto esperavam, elas se perderam em mais conversas, como costumavam fazer. O brilho nos olhos de Clara ao falar sobre seus novos projetos artísticos era algo que Pri adorava observar. E, embora o vôlei ainda fosse a grande paixão da vida de Pri, ela descobriu que, com Clara, estava se permitindo sonhar com outras coisas também – com viagens, com dias tranquilos, e talvez, com um futuro onde elas pudessem construir uma vida juntas, além das quadras e dos compromissos de uma carreira esportiva.

Naquela tarde, entre risadas, brincadeiras e torta de limão, Pri percebeu que o amor que compartilhava com Clara era a parte mais sincera e verdadeira de sua vida naquele momento. E isso, para Pri, era a maior vitória de todas.

One Shots - Vôlei Onde histórias criam vida. Descubra agora