Carol Gattaz 🇧🇷

498 26 0
                                    


O final de mais um treino na temporada era marcado pelo som abafado das bolas de vôlei batendo no chão, os murmúrios das jogadoras e o leve eco dos tênis deslizando pela quadra. Carol Gattaz, veterana de 42 anos e um dos nomes mais respeitados do vôlei, respirava fundo enquanto passava a toalha pelo rosto suado. O ritmo era intenso, mas a pressão dos anos havia moldado nela uma calma inabalável. Afinal, depois de tantas competições, títulos e desafios, havia poucas coisas no mundo do esporte que a faziam tremer.

Ela caminhava em direção ao vestiário quando avistou uma figura familiar sentada nas arquibancadas, observando tudo com um sorriso discreto. Ana Clara, com seus 32 anos e cabelos levemente desgrenhados, tinha um olhar que misturava admiração e algo mais que Carol nunca conseguira decifrar completamente. As duas se conheciam há alguns anos, desde que Ana Clara começara a trabalhar como fotógrafa esportiva, capturando os momentos mais marcantes da carreira de diversas atletas, incluindo Carol.

O relacionamento entre as duas sempre foi leve, marcado por conversas rápidas e brincadeiras nos bastidores, mas ultimamente, havia algo diferente no ar. Um tipo de energia que Carol, por mais racional que fosse, não conseguia ignorar.

"Você veio me espionar de novo?" Carol perguntou em tom de brincadeira, enquanto se aproximava de Ana Clara.

Ana Clara sorriu, ajeitando a câmera no colo. "Espionar, não. Apenas capturar mais alguns dos seus momentos de glória."

Carol riu e se sentou ao lado dela, esticando as pernas cansadas. "Glória no treino? Acho que você vai precisar de uma lente especial para tornar isso interessante."

Elas riram juntas, e, por um momento, o som da quadra parecia desaparecer, deixando apenas o eco suave das risadas. Para Carol, esses pequenos momentos fora da rotina de pressão e treinos eram uma fuga bem-vinda, e Ana Clara era uma companhia que ela não sabia que precisava tanto até começar a notá-la mais de perto.

"O que você vai fazer hoje à noite?" Ana Clara perguntou, olhando para Carol de relance, como quem joga uma pergunta ao vento, mas esperando algo mais em troca.

"Provavelmente descansar. Os treinos têm sido pesados." Carol olhou para Ana Clara, percebendo um brilho de expectativa no olhar dela. "Por quê?"

Ana Clara mordeu o lábio, como se estivesse pensando na resposta. "Bom, pensei que talvez pudéssemos sair. Nada demais, só jantar e conversar um pouco... se você quiser."

Carol hesitou por um segundo. Embora já tivessem saído algumas vezes em grupo, a ideia de um jantar a sós parecia diferente. Havia um subtexto ali que ela não conseguia ignorar. Mas, por algum motivo, a ideia não a assustava – pelo contrário, havia uma pequena excitação surgindo em seu peito.

"Jantar parece uma boa ideia," Carol respondeu, com um sorriso contido. "Mas só se você prometer não me fazer parecer muito velha nas fotos."

Ana Clara riu e balançou a cabeça. "Prometo. Só quero capturar o que vejo."

Essa última frase deixou Carol pensativa. O que Ana Clara via nela? Era algo que ia além das quadras, das vitórias e da imagem pública que Carol cultivava há tanto tempo? Ela não sabia, mas estava disposta a descobrir.

---

Mais tarde, naquele mesmo dia, elas se encontraram em um restaurante discreto, longe do burburinho da cidade e da movimentação dos fãs de vôlei. O ambiente era aconchegante, com luz baixa e uma trilha sonora suave ao fundo. Carol chegou primeiro, sentindo-se um pouco deslocada em um lugar tão intimista. Não era o tipo de cenário que ela frequentava com frequência, mas havia algo agradável na atmosfera, algo que parecia sugerir que aquela noite seria especial.

Quando Ana Clara chegou, com um vestido simples e um sorriso que parecia iluminar todo o ambiente, Carol sentiu um leve frio na barriga. Era uma sensação rara para alguém que, na maioria das vezes, mantinha controle sobre tudo à sua volta. Mas com Ana Clara, a ideia de perder um pouco desse controle não parecia ruim.

"Elas servem o melhor vinho aqui," Ana Clara comentou enquanto se sentava à frente de Carol.

"Você me conhece bem," Carol respondeu, sorrindo. "Como sabia que eu precisaria de uma taça hoje?"

Ana Clara apenas deu de ombros, servindo duas taças. "Eu conheço o suficiente para saber que você merece relaxar de vez em quando."

A conversa fluiu naturalmente, como sempre fazia entre as duas. Elas falaram sobre o cotidiano, sobre a pressão da carreira de Carol e os novos projetos fotográficos de Ana Clara. No entanto, conforme a noite avançava, os temas ficaram mais pessoais. Carol, que geralmente mantinha suas emoções guardadas a sete chaves, se sentia estranhamente à vontade para compartilhar mais sobre si mesma – seus medos, suas inseguranças, o cansaço acumulado ao longo dos anos.

Ana Clara ouvia atentamente, seus olhos sempre fixos nos de Carol, como se cada palavra fosse a coisa mais importante do mundo naquele momento.

"Às vezes, eu penso em como será quando tudo isso acabar," Carol disse, gesticulando vagamente. "Quando eu não estiver mais jogando. Será que vou sentir falta da adrenalina? Ou será que vou finalmente conseguir descansar?"

Ana Clara fez uma pausa antes de responder. "Acho que você vai encontrar um novo tipo de adrenalina. Algo que não tem a ver com vitórias em quadra, mas talvez... com outras vitórias, mais pessoais."

Carol franziu a testa levemente. "E o que seriam essas 'outras vitórias'?"

Ana Clara sorriu de lado, inclinando-se um pouco mais para perto de Carol. "Acho que você já sabe."

Houve um momento de silêncio entre as duas, um tipo de tensão que era ao mesmo tempo familiar e novo. Carol, que sempre soube lidar com a pressão das quadras, sentia-se perdida naquela troca de olhares. Era como se, pela primeira vez em muito tempo, ela estivesse prestes a entrar em um território desconhecido.

"Eu vejo muito mais em você do que a jogadora de vôlei que todo mundo conhece," Ana Clara continuou, a voz suave, mas firme. "E é isso que me faz querer estar perto de você. Não apenas a atleta, mas a mulher por trás disso tudo."

Carol sentiu o coração acelerar. Havia algo no modo como Ana Clara a olhava, como se estivesse vendo além das camadas que Carol tantas vezes erguera ao longo da vida.

"Você sempre tem essa facilidade de me deixar sem palavras, sabia?" Carol confessou, com um sorriso tímido.

Ana Clara sorriu, e sem pensar muito, estendeu a mão sobre a mesa, entrelaçando seus dedos aos de Carol. O toque era quente, reconfortante, e Carol sentiu-se mais vulnerável do que jamais se permitira ser com alguém. Mas, ao mesmo tempo, havia uma segurança inesperada naquele gesto, como se, finalmente, ela estivesse exatamente onde deveria estar.

"Eu gosto quando você fica sem palavras," Ana Clara brincou suavemente. "Porque isso significa que, por um momento, você não está se preocupando em ser perfeita. Você só está sendo... você."

Carol olhou para Ana Clara e, pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se acreditar que havia algo mais para ela além do vôlei. Algo que envolvia sorrisos discretos, mãos entrelaçadas e a simples, porém poderosa, sensação de ser vista por quem realmente era.

E naquele momento, entre olhares e sussurros, Carol percebeu que estava, talvez, começando a viver a sua vitória mais importante: o amor.

———————————————————————————————————
Um clichê para um chazinho da tarde, né galera.
Como eu amo essa velha

One Shots - Vôlei Onde histórias criam vida. Descubra agora