Rosamaria + Gabi 🇧🇷

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O silêncio no vestiário era quebrado apenas pelos sons abafados de risadas e conversas ecoando do lado de fora, onde as outras jogadoras já haviam saído. Rosamaria estava sozinha, sentada em um banco com a cabeça baixa, girando lentamente uma bandagem nas mãos. Seus pensamentos estavam a mil, e ela mal notou quando Gabi Guimarães entrou.

"Rosa, você ainda tá aqui?" Gabi perguntou, surpresa, caminhando em sua direção com um sorriso fácil, o mesmo sorriso que fazia o estômago de Rosa dar voltas há anos. "Achei que você já tinha ido embora com o pessoal."

Rosa levantou o olhar, mas não respondeu de imediato. Gabi estava radiante, como sempre. Com a pele brilhando de suor e aquele brilho nos olhos depois de uma vitória importante, ela era o tipo de pessoa que iluminava qualquer ambiente. E hoje, para o desespero de Rosa, Gabi havia passado quase o jogo todo ao lado de outra jogadora – Amanda, a novata, que havia se enturmado rápido com todo mundo. E Rosa sentiu algo familiar ferver dentro dela: ciúme. Um sentimento que vinha crescendo, silencioso, há algum tempo.

"Só estava terminando de me alongar," mentiu Rosa, tentando manter o tom casual, enquanto amarrava as bandagens com força.

Gabi se aproximou e sentou ao lado dela, sem suspeitar de nada, como sempre. Elas eram amigas há tantos anos, desde os tempos da base, e, por mais que Rosa tentasse ignorar, o relacionamento entre elas parecia ter mudado com o passar do tempo. Pelo menos para ela. O problema é que Gabi não fazia ideia de como aquelas pequenas coisas – como o modo como ela ria com Amanda ou como ficava tão próxima de outras pessoas – mexiam com Rosa. E ela odiava isso. Odiava sentir esse ciúme irracional, como se fosse uma adolescente boba, incapaz de controlar seus próprios sentimentos.

"Você jogou muito hoje," comentou Gabi, com os olhos brilhando de orgulho. "Aquele bloqueio que você fez no terceiro set foi incrível. Salvou a gente."

Rosa apenas assentiu, sem conseguir responder com o mesmo entusiasmo. "Você também jogou bem," murmurou, olhando para o chão, mas sentindo o calor subir pelo rosto. Havia uma parte dela que queria explodir, que queria perguntar o porquê de Gabi ter passado o tempo todo com Amanda, mas outra parte, a mais racional, sabia que aquilo era ridículo.

Gabi franziu o cenho, percebendo o comportamento estranho de Rosa. "Tá tudo bem? Você tá estranha hoje," ela perguntou, inclinando-se para mais perto, o que fez o coração de Rosa acelerar de forma quase dolorosa.

"Eu tô bem, Gabi. Só... cansada."

Gabi ficou em silêncio por um momento, seus olhos escuros analisando Rosa com uma atenção que sempre a deixava desconfortável. Aquelas eram as horas em que parecia que Gabi conseguia ver através de sua fachada. "Tem certeza que é só isso?" perguntou, mais suave agora, como se estivesse pisando em terreno delicado. "Porque se for algo a mais, você sabe que pode me dizer, né? A gente se conhece desde sempre."

Rosa sentiu o peito apertar. Aquela frase – *a gente se conhece desde sempre* – fazia tudo parecer ainda mais complicado. Elas realmente se conheciam, desde os primeiros toques na bola até as seleções de base. Elas sempre estiveram uma na vida da outra. Mas era justamente isso que tornava tudo mais difícil. Como ela poderia estragar tudo confessando o que sentia? E se Gabi não a visse da mesma forma?

Rosa suspirou e, finalmente, se permitiu soltar um pouco da pressão que estava segurando. "Eu... sei disso, Gabi. Eu só..."

Ela parou, as palavras morrendo antes mesmo de ganharem forma. Como ela poderia explicar que, ultimamente, ela tinha sentido ciúmes? Que cada vez que Gabi ria ou ficava muito próxima de outra jogadora, uma pontada de insegurança atravessava seu peito? Que o sorriso fácil de Gabi, que um dia fora apenas algo reconfortante, agora fazia seu coração disparar por razões que ela lutava para não entender?

"O que foi, Rosa?" Gabi pressionou, sua voz suave, mas determinada. Ela esticou a mão e colocou no joelho de Rosa, um gesto simples, mas que fez o coração dela dar um salto involuntário. "Fala comigo. A gente sempre foi aberta uma com a outra."

Rosa engoliu em seco. Ela sabia que não poderia evitar essa conversa para sempre, não com Gabi ali, tão próxima, e tão atenta. As palavras estavam na ponta da língua, mas uma parte dela ainda hesitava, com medo de perder o que elas tinham.

"Eu... não sei como dizer isso," começou Rosa, hesitante, virando-se para encarar Gabi diretamente pela primeira vez. "Mas eu tenho me sentido estranha ultimamente."

Gabi franziu a testa, claramente confusa, mas manteve o contato visual. "Estranha como?"

Rosa respirou fundo. *Vai*, ela pensou, *você já passou muito tempo fugindo disso*. "Eu tenho sentido ciúmes, Gabi. De você. De como você parece se conectar com todo mundo tão facilmente. E de como... como você passa tanto tempo com outras pessoas." Ela parou, envergonhada com a própria confissão, mas agora que as palavras haviam saído, era impossível segurá-las.

Gabi ficou em silêncio por alguns segundos, como se processasse o que acabara de ouvir. E então, para surpresa de Rosa, ela sorriu, mas não com ironia ou desdém. Era um sorriso terno, quase carinhoso.

"Rosa, eu... eu nunca imaginei que você se sentia assim," disse Gabi, seu tom suave. "Mas... agora que você falou, faz sentido. Eu percebi que você estava diferente, mas nunca achei que fosse algo tão profundo."

Rosa ficou em silêncio, o coração ainda batendo rápido, tentando processar a reação de Gabi. Ela esperava confusão, talvez até um pouco de distanciamento, mas o que estava recebendo era algo totalmente diferente. Algo mais... compreensivo.

"Olha, eu... eu preciso ser sincera também," continuou Gabi, pegando nas mãos de Rosa com delicadeza, os dedos dela acariciando a palma da amiga, fazendo-a se arrepiar. "Eu acho que, de certa forma, eu também sinto ciúmes de você. Mas nunca soube como interpretar isso. E, sendo bem honesta, tem algo que eu venho tentando entender em mim mesma há algum tempo."

Rosa sentiu seu coração apertar ainda mais, dessa vez não de medo, mas de expectativa. "O que você quer dizer com isso?" ela perguntou, a voz quase um sussurro.

Gabi respirou fundo, olhando para baixo por um segundo antes de voltar a encontrar o olhar de Rosa. "Eu acho que... eu sinto algo por você que vai além da amizade, Rosa. Mas eu sempre fiquei com medo de te dizer, porque a última coisa que eu queria era perder a nossa conexão. Só que... agora que você falou, eu acho que eu não posso mais ignorar isso."

Rosa ficou estática, o choque e o alívio se misturando dentro dela de uma forma avassaladora. Ela abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra parecia suficiente para aquele momento. Então, em vez disso, ela simplesmente apertou a mão de Gabi, um gesto que dizia muito mais do que qualquer palavra poderia.

"Eu também... Gabi, eu também sinto isso," confessou Rosa, finalmente deixando cair a barreira que havia construído ao longo dos meses. "E é por isso que o ciúme me incomoda tanto. Porque eu não sabia como lidar com o que eu estava sentindo."

O sorriso de Gabi cresceu, e dessa vez foi Rosa quem se inclinou para mais perto, as testas quase se tocando. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas elas duas naquele pequeno espaço de intimidade.

"Então talvez a gente possa tentar entender isso juntas," sugeriu Gabi, sua voz suave, mas cheia de uma certeza nova.

Rosa assentiu, sentindo uma leveza tomar conta de seu peito pela primeira vez em muito tempo. "Juntas," repetiu, o peso da palavra trazendo um sorriso genuíno aos seus lábios.

E, naquele momento, o que havia começado como uma tempestade de ciúmes e incertezas finalmente deu lugar à possibilidade de algo novo, algo real. Algo que elas não precisavam mais ignorar.

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Admito, foi um sentimento diferente com essa história 
Nunca tinha pensado nelas juntas assim.

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