Prólogo

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Cinza, essa era a cor do céu naquela noite de sábado. Em outro lugar isso tinha apenas um significado, mas estávamos em Nova York, então havia dois. Poluição ou chuva. E é claro que, para minha sorte, era a segunda opção.

— Merda! — Xinguei assim que um relâmpago chicoteou o céu, meus dedos trabalhando na gravata enquanto saía de perto da janela até o espelho do pequeno no meu quarto.

— Cara, vai cair um temporal — Mark comentou da cozinha, uma tigela de cereal na mão e calças pijama com estampas de folhas de maconha.

— É, obrigado por avisar — terminei de subir o nó até o colarinho e vesti o sobretudo por cima do blazer seguindo até a sala.

Inspirei fundo olhando ao redor.

— Podia não ir — ele se jogou no sofá que um dia já foi verde e agora tinha cor de vomito.

Se existiam pessoas completamente diferentes, essas eram Mark e eu. Como paramos juntos, dividindo um apartamento de 60 metros quadrados no Bronx? Dinheiro. Ou melhor, a ausência dele.

O fitei deixando de procurar minha carteira por um instante.

Mark sorriu enquanto mastigava.

Inspirei fundo e voltei a procurar.

— Ela ta falando dessa exposição desde que eu a conheci, eu não posso simplesmente não ir.

Aha! A pequena carteira estava bem de baixo do raque da televisão.

— Então boa sorte — ele berrou enquanto eu seguia para fora do apartamento.

Quase corri até a Estação Park East, subindo os degraus de ferro até chegar à beira da linha de embarque. Era sete da noite, mas ainda havia uma grande quantidade de pessoas do metrô. Eu não podia reclamar, afinal eu não era o único que queria passar o sábado à noite do Soho. O bairro era a última descoberta de Nova York, e foi de um polo de pequenas fábricas a dar de muitos artistas e hoje estava se tornando um centro de arte de alto nível.

A galeria ficava em um prédio esverdeado, com grandes janelas, ricos detalhes de fachada e as características escadas de incêndio. Foi tudo o que eu consegui observar enquanto quase corria com o sobretudo sobre a cabeça, a chuva caindo em gotas grossas sobre o tecido.

Apressado para sair daquele temporal eu me apressei para dentro do edifício, mas fui barrado na porta pelo segurança com duas vezes a minha altura.

— Qual seu nome senhor? — A mulher e roupas pretas formais com uma prancha na não indagou.

— Christopher Smith — respondi me apertando no degrau para a porta de vidro, esperando que ela checasse todas as páginas buscando meu nome, enquanto a outra hostess recebia os outros, deixando que passassem.

Mas eu pacientemente aguardei, olhando para o salão longo, iluminado e já bem ocupado. A abertura de uma exposição de Anselm Keifer, em uma das melhores galerias de Nova York, segundo o Times, foi o que Lindsey disse tantas vezes que decorei. Bom, pela forma que as pessoas estavam vestidas ali dentro, e pelos carros que paravam para deixá-los eu julgo que devia mesmo ser um artista de alto nível mesmo.

— Sinto muito senhor, mas seu nome não está na lista.

Que inferno!

— Eu estou com Lindsey Thornhill, ela já deve estar aí dentro, talvez se você falar com el...

— Eu não posso passar quem não está na lista, senhor — a mulher insistiu, a voz suave, embora enfática.

Inspirei fundo, me afastando mais uma vez para que um homem entrasse.

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