a chegada | sina

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A viagem até a Universidade Camel é feita em um silêncio confortável, interrompido apenas pela música que toca nos meus fones de ouvido. Sabina está concentrada na estrada, dirigindo sua caminhonete que ganhou dos seus pais quando éramos mais novas, e eu estou perdida em meus pensamentos. Toronto passa como um borrão de cores e movimento do lado de fora da janela, e me pego pensando em tudo que deixei para trás. Minha família, minha infância, minha vida antiga... todas as coisas que moldaram quem eu sou, mas que, de certa forma, também me prenderam.

O campus da Universidade Camel finalmente aparece à vista, imponente e grandioso, como se tivesse sido tirado de um catálogo de arquitetura. A mistura de edifícios históricos com estruturas modernas é fascinante, uma combinação que reflete a própria dualidade da cidade de Toronto — o antigo e o novo coexistindo em harmonia.

Sabi estaciona o carro em um dos poucos espaços disponíveis, e eu tiro os fones de ouvido, guardando-os cuidadosamente na bolsa marrom escura. Enquanto saímos do carro, sinto um frio na barriga, como se estivesse prestes a mergulhar em um oceano desconhecido, o que não deixa de ser verdade.

A fachada principal da Camel é uma obra-prima, com colunas de pedra que sobem imponentes, quase tocando o céu, e vitrôs que reluzem com a luz do sol. A grandiosidade do lugar é opressora, mas também inspiradora, como se estivesse nos desafiando a sermos maiores, melhores, a transcendermos nossas próprias limitações.

— Isso é... gigantesco — murmuro, mais para mim mesma do que para Sabi.

— E impressionante — completa ela, sua voz cheia de admiração. — Eu li sobre o campus antes, mas nada se compara a vê-lo pessoalmente. Acho que vamos nos encaixar bem aqui, espero pelo menos, Sininho.

Eu apenas assinto, ainda absorvendo a magnitude do lugar. Caminhamos em direção ao prédio principal, onde os novos alunos devem se apresentar e pegar as chaves dos quartos. O saguão está lotado de pessoas — estudantes e suas famílias, todos com expressões que variam entre a excitação e o nervosismo. Eu não sou exceção. Cada passo que dou parece me levar mais fundo nesse novo capítulo da minha vida, um capítulo cheio de incertezas, mas também de possibilidades.

Após alguns minutos de espera, finalmente conseguimos nossas chaves e as instruções para chegar aos nossos quartos. Aparentemente, Sabina e eu tivemos sorte de conseguir quartos adjacentes no mesmo bloco de apartamentos estudantis, embora eu fosse da Arquitetura e ela da Psicologia.
Acomodar-nos em nossos novos espaços será o primeiro passo para transformar este lugar desconhecido em um lar.

Quando chegamos ao prédio de apartamentos, uma construção moderna com janelas enormes que deixam a luz do dia inundar os corredores, sinto uma estranha mistura de ansiedade e antecipação. Este será meu espaço, meu santuário. Um lugar onde poderei ser eu mesma, longe das expectativas dos outros.

Abro a porta do meu quarto e dou uma olhada ao redor. O espaço é simples, com paredes brancas, uma cama, uma escrivaninha e um armário embutido. Nada de muito especial, mas tem potencial. A primeira coisa que faço é abrir a janela. O ar fresco de Toronto entra, trazendo consigo o cheiro da cidade — uma mistura de árvores, asfalto e algo que sempre me lembra do lar, mesmo estando longe.

— Uau, seu quarto tem uma vista ótima — diz Sabina, espiando por cima do meu ombro. — Eu tenho vista para o estacionamento. Nem se compara.

Eu dou de ombros, tentando conter um sorriso. — Sorte, eu acho.

Ela entra e começa a me ajudar a desempacotar as coisas. Enquanto tiro as roupas da mala e as coloco no armário, Sabi começa a decorar a minha escrivaninha com alguns objetos que trouxe de casa. Há fotos da nossa infância, bilhetes antigos e uma pequena planta em um vaso que ela insiste que eu deveria manter viva. Coloco meus pôsteres de arquitetura, alguns desenhos que meu pai fez para mim e que guardo desde pequena e alguns desenhos da minha mãe, todos preto e branco. Também encontro um espaço especial para adequar meus livros, velas e meus incensos.

— Você precisa de algo verde para alegrar o ambiente — ela diz, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Claro, vou tentar não matá-la. — Apesar do tom sarcástico, eu realmente aprecio o gesto. A Hidalgo sempre soube como me animar, mesmo nas situações mais estressantes.

Assim que terminamos de organizar meu quarto, vamos para o dela. O layout é semelhante, mas a personalidade de Sabina já começa a aparecer nas pequenas coisas. A colcha colorida, os pôsteres de bandas clássicas que ela ama, e a pequena coleção de vinis que ela carrega para onde quer que vá. Enquanto ela coloca um disco para tocar, eu me jogo em sua cama, ouvindo as notas suaves preencherem o espaço.

— Isso é tão surreal, — ela comenta enquanto ajusta um dos pôsteres na parede. — Estamos oficialmente na Universidade Camel. Quem diria?

— Surreal é pouco, — concordo, observando o teto. — Ainda me sinto como se estivesse sonhando. Como se, a qualquer momento, fosse acordar e descobrir que ainda estamos no ensino médio, tentando descobrir que faculdade escolher.

Sabi ri, uma risada leve que ilumina o ambiente. — Bom, se isso for um sonho, é um dos bons. Quero continuar sonhando.

Concordo em silêncio. Este é, de fato, o início de algo novo. Uma nova cidade, uma nova vida, e, espero, um novo começo para mim. Mas, por mais que eu tente me focar nas possibilidades, não consigo evitar a sensação de inquietação que se esconde sob a superfície. A Universidade Camel é conhecida por ser um lugar de prestígio, mas também de intensas pressões. Será que estou preparada para isso? Será que posso lidar com tudo o que vem pela frente?

Essas perguntas ecoam em minha mente enquanto ajudamos uma à outra a terminar de arrumar nossos quartos. A música de Sabina continua tocando ao fundo, "Fly me to the moon" ecoava, criando uma trilha sonora suave para esse dia de mudanças.

Quando finalmente terminamos, o sol já está se pondo, pintando o céu de laranja e rosa através das janelas. A vista é incrível, e, por um momento, consigo esquecer minhas preocupações. Talvez, apenas talvez, tudo fique bem.

Após nos instalarmos, decido dar uma volta pelo campus sozinha, Sabi resolveu ficar no seu quarto lendo os seus milhares de livros sobre Psicologia e a mente humana. Há algo em explorar um novo lugar que me acalma, e sinto que preciso de um momento para processar tudo, mentes bagunçadas precisam de espaço para surtar, isso é um fato.

Caminho pelos jardins bem cuidados, passando por estudantes que parecem tão perdidos quanto eu. Alguns estão em grupos, rindo e conversando, enquanto outros, como eu, estão sozinhos, absorvendo o ambiente.

Minha caminhada me leva até um pequeno parque no meio do campus, onde decido sentar-me em um dos bancos. A música continua nos meus ouvidos, e me pego cantarolando baixinho. Estou tão imersa na minha própria bolha que quase não percebo quando alguém se aproxima.

— Você deve ser nova por aqui — diz uma voz masculina, interrompendo meus pensamentos. Olho para cima e vejo um garoto com cabelos claros curtos e olhos cinza-claro esverdeados. Ele é alto, com uma presença tranquila, quase enigmática. Usa uma camiseta preta solta no corpo e uma calça cargo verde-militar, o ar é de imponência.

Ele é lindo.
Estou fudida, namoral.

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