depois | narradora

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A manhã seguiu com uma leveza estranha, como se o peso de tudo que aconteceu entre Sina e Noah na noite anterior não estivesse realmente lá, ou talvez estivesse apenas escondido em algum canto, aguardando o momento certo para emergir. Eles se moviam pelo apartamento em uma dança silenciosa, evitando falar sobre o que havia se passado, mas a atmosfera estava carregada com algo indefinido.

Após o café, Noah recolheu os pratos e os lavou sem qualquer cerimônia, enquanto Sina se acomodava no sofá, observando cada um de seus movimentos. Ela estava enrolada em uma manta fina, sentindo o frescor matinal entrar pelas janelas. Era uma imagem tão comum, tão rotineira, que por um momento ela quase conseguiu esquecer que o homem à sua frente era Noah, o cara que ela evitava e detestava por tanto tempo.

— Você é sempre assim depois...? — Ela quebrou o silêncio, sua voz carregada de uma provocação leve.

Ele olhou para ela, secando as mãos com um pano de prato. — Assim como? 

— Normal. Você está agindo como se... nada tivesse acontecido.

Noah soltou uma risada baixa, a expressão em seu rosto mais relaxada do que de costume. — O que você quer que eu faça? Uma dança da vitória ou algo assim? — Ele se apoiou contra o balcão, cruzando os braços, claramente confortável com a situação.

Sina ergueu uma sobrancelha. — Talvez um pouco mais de... desconforto seria apropriado. Sei lá, alguma conversa esquisita sobre o que tudo isso significa.

— Não sou muito bom em 'conversas esquisitas' — ele respondeu com um sorriso de canto. — E, sinceramente, não parece que você seja fã delas também. —

Ela suspirou, jogando a cabeça para trás no sofá, seus olhos fixos no teto por um momento antes de voltarem para ele. — Você está certo. Isso não é o meu estilo.

Por um tempo, ficaram apenas trocando olhares silenciosos, e Sina percebeu que, de alguma forma, eles estavam mais à vontade do que imaginava que estariam. Era como se aquela barreira invisível que os mantinha afastados tivesse desaparecido muito rapidamente.

— Então... qual o plano agora? — Ela perguntou casualmente, mas havia uma tensão em sua pergunta. Não era apenas sobre aquela manhã. Era sobre o que eles fariam a partir dali.

Noah caminhou lentamente até o sofá, sentando-se ao lado dela, mas mantendo uma distância confortável. Ele olhou para frente, pensativo por um instante antes de responder. — Não faço ideia. Acho que continuo tentando entender o que aconteceu.

Sina deu uma risada curta, inclinando-se para pegar sua xícara de café na mesinha de centro. — Bem, boa sorte com isso. Se você descobrir, me avisa.

Eles riram juntos, a tensão entre eles diminuindo um pouco mais a cada momento. Havia algo reconfortante naquela interação — talvez porque ambos sabiam que não precisavam de respostas naquele instante. Havia tempo para descobrir as coisas, e por agora, estar ali, compartilhando aquele silêncio, era suficiente.

— E você? Vai continuar me ignorando pelos corredores da faculdade, fingindo que nada mudou? — Ele a olhou de soslaio, um sorriso brincando nos lábios.

Sina deu de ombros, mas o brilho malicioso em seus olhos não passou despercebido. — Eu posso ser boa em fingir. Mas não sei se vai ser tão fácil agora. — Ela deu um gole em seu café, ainda sorrindo.

— Eu te desafio a tentar — ele respondeu, o sorriso em seu rosto se alargando.

Por um momento, Sina ponderou sobre como as coisas haviam mudado de forma tão repentina. Era quase surreal que estivessem ali, juntos, conversando de maneira descontraída e natural. O Noah que ela conhecia — ou pensava conhecer — era um mistério, alguém que ela queria manter à distância. No entanto, ali estavam, compartilhando um café após uma noite intensa, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Isso aqui... — Sina começou, hesitante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Foi uma única vez, certo? Sem complicações, sem rótulos. Só... aconteceu.

Noah assentiu devagar, mas o sorriso em seu rosto tinha algo mais, algo que Sina não conseguia decifrar completamente. — Sim, só aconteceu.

Sina sabia que deveria se sentir aliviada, e parte dela realmente se sentia. Não era como se ela quisesse que aquilo se transformasse em algo sério. A última coisa de que precisava era complicar sua vida com sentimentos confusos. Mas, ao mesmo tempo, a maneira como Noah a olhava, com aquele olhar intenso e misterioso, deixava uma dúvida pairando no ar.

— Ótimo. — Sina finalmente falou, seu tom firme. Ela se levantou do sofá, caminhando até a cozinha para colocar sua xícara vazia na pia. — Então acho que estamos bem.

— Sim, sininho, estamos bem — Noah respondeu, sua voz baixa enquanto ele a observava com atenção.

Enquanto o dia começava a tomar forma, Sina sentiu uma mistura de emoções crescer dentro dela. Algo havia mudado entre eles, isso era inegável. Mas se aquilo seria o início de algo mais ou apenas uma experiência isolada, ainda não estava claro. E, por enquanto, talvez fosse melhor assim.

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