Um tempinho se passou depois que Matteo me deixou no quarto. A nossa conversa, pacífica por assim dizer, virou uma chave na minha cabeça que eu nem sabia que precisava ser girada.
Ouço leves batidas na porta e por ela passa uma senhora, aparentava já ter uns oitenta anos de idade. Seu olhar repousou em mim com ternura e aquilo me trouxe um leve aconchego. Vi que nas suas mãos havia uma bandeja com algumas guloseimas.
— Menina! Trouxe algo para você comer. — ela fala com uma voz esbanjando ternura.
— Eu agradeço! — falo com um sorriso fraco — Qual o nome da signora?
— Meu nome é Marluce. Mas pode me chamar de Luce, menina. — ela fala com um sotaque italiano bem forte.
— O meu é Natalie, mas acho que a senhora já sabe.
— Sim, eu sei! Quando soube que meu menino iria se casar, roguei aos céus pra que fosse uma pessoa boa, e vejo que minhas orações foram atendidas. — ela fala deixando a bandeja na mesa mais ao canto do quarto.
— Acontece que ele não é nada fácil. — digo sem filtro.
— Eu sei disso, menina! — ela se vira para mim e me dá um sorriso confortante — Mas eu acredito que você é a única que vai conseguir resgatá-lo da escuridão em que ele está.
— Eu não sei se tenho mais forças para continuar isso. — confesso cansada — Ele me torturou e me marcou de formas que seja impossível esquecer. — mostro a ela meu braço e a perna, onde estavam alguns cortes.
Seus olhos não pareciam surpresos, ela com certeza sabia o que Matteo fez comigo. Mas ela tinha nos seus olhos um olhar de pena. De compaixão. É isso me irritava um pouco.
— Eu espero que vocês se entendam, no final de tudo isso. — ela se aproxima e segura as minhas mãos com uma delicadeza espantosa — O Matteo não é um homem ruim, ele foi forçado a ser assim por conta das suas obrigações, nesse mundo, nós mulheres servimos apenas para dar herdeiros a eles. Mas o pai do Matteo mudou essa tradição quando se apaixonou de verdade pela mãe dele. — ouço suas palavras com atenção — Domenico foi pressionado a treinar Matteo para ser o seu sucessor, mas o meu neto... — paro de ouvir todas as suas palavras quando ela fala e última parte. Ela era nonna do Matteo.
— O que? — consigo balbuciar.
— Matteo se transformou em uma carranca pior do que o seu pai um dia jamais foi. Eu lamento por tudo que passou, minha menina, mas eu acredito que você pode mudá-lo.
— Eu preciso de um pouco de ar, são muitas informações para absorver. — falo respirando com dificuldade.
— Claro! Venha, vou te levar para o jardim, acredito que você irá amar e se sentir bem. — ela segura a minha mão e começa a me puxar para fora dali. Apenas sigo a sua ação. Ela caminhava vagarosamente, imaginei que por conta da idade. Mas o seu rosto ainda era vivido, uma coisa que eu, na minha idade atual, já havia perdido.
Começamos a andar pela casa, ainda não havia saído desde que o Matteo me trouxe para dentro do recinto novamente.
Descemos as escadas, eu a ajudo descer mesmo ela se negando. Era impressionante a sua disposição.
Chegamos no hall e ela me guiou para fora da casa, eu já havia feito aquele caminho antes, as memórias me atingem como um tapa. Lembro do dia em que eu quase me afoguei. Minha respiração começou a pesar.
— Você está bem mia bambina? — ela me olha preocupada quando chegamos no jardim.
— Estou bem, signora Marluce. Grazie. — ela não parece acreditar, mas não insiste. Seguimos andando até um banco que ficava no canto em meio as flores, ela se sentou e eu fiz o mesmo.
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Prometida a Máfia
RomanceNatalie Martinelli, uma jovem italiana de 17 anos que cresceu em uma família muito conturbada, vê a sua vida mudar de cabeça para baixo, ao completar 18 anos se vê prometida em casamento a última pessoa que ela desejaria conhecer, a sua doçura seria...