CAPÍTULO NOVE

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Sonhos

    Eu nunca achei que pudesse tirar a vida de alguém, ainda mais de três pessoas em um curto período de tempo. Eu, um médico formado, alguém que deveria salvar vidas, arranquei a cabeça de três homens com mordidas.

    Eles mereciam, isso eu sei, mas cabia a mim decidir?

    Quando voltamos para casa, ainda na nossa forma de lobo, eu nem esperei por Ethan. Apenas voltei a minha forma humana, o que foi extremamente fácil, e corri para meu quarto. Tranquei a porta e me encostei contra a parede, encarando o teto.

    Sou um assassino. Meu irmão foi preso por menos, o que vai acontecer comigo? Sei que jogamos os corpos naquele penhasco, mas será que eles tinham família? Talvez pais e mães esperando que os filhos voltem, mas isso não vai acontecer.

    Ouvi os passos de Ethan do outro lado, ele devia estar como eu, pelado e todo sujo de sangue. Me encolhi, abraçando meus joelhos. Percebi que ele hesitou por alguns segundos, parando em frente a porta, mas logo deu duas batidas fracas.

    — Ares, posso entrar? — Fiquei em silêncio. — Suas emoções estão mais afloradas agora que é um lobo, não fica pensando no que você fez.

    — Me deixa sozinho, Ethan.

    — Tudo bem, vou estar aqui se precisar de mim. Tome um banho e descanse, lobinho.

    Novamente ouvi os passos de Ethan, dessa vez indo em direção ao quarto dele.

    Encarei minhas próprias mãos, estavam sujas de sangue e terra. Minha boca tinha gosto de morte e meu corpo estava dolorido da caçada.

    Senti meus olhos se encherem de lágrimas, escorrendo por minhas bochechas e pingando no chão. Kyros estava silencioso, parecia respeitar meu momento, assim como Ethan.

    Me levantei do chão e peguei minhas coisas, levando para o banheiro. Ethan não estava no corredor, parecia estar na cozinha, então aproveitei para tomar meu banho em paz.

    Levei algum tempo dentro do banheiro. Queria o mais rápido possível tirar aquele gosto de sangue humano de minha boca. Meu estômago revira ao pensar nessas coisas e principalmente no que eu fiz.

    Quando saí do banheiro, voltei para o quarto e o tranquei. Me joguei na cama, abraçando meu próprio corpo. Pensei em contar para Amélia, mas acho que isso não é algo que se diga por telefone. Talvez eu não conte para ela, melhor minha amiga não saber que sou um assassino.

    Não sei quanto tempo fiquei naquele quarto, encarando a parede de madeira escura, mas pude ouvir Ethan bater na porta algumas vezes. Da primeira ele veio avisar que o jantar estava pronto, mas não tinha estômago para comer algo agora.

    Da segunda vez ele avisou que iria deixar o prato do lado da porta, que se eu sentisse fome era para comer. Mais uma vez recebendo silêncio, pude ouvi-lo suspirar preocupado.

    Não quero deixá-lo daquela forma, mas também não tinha coragem e vontade de sair da cama. Apenas o ouvi se afastar, murmurando algo para si mesmo.

    Fechei meus olhos, deixando o cansaço me vencer e antes que eu pudesse evitar, eu estava sonhando.

    No meu sonho, eu caminhava por alguns corredores. As paredes de madeira escura, quadros de santos e pinturas religiosas estavam pregadas na parede. Além de crucifixos e imagens de Jesus.

    Rapidamente reconheci o orfanato onde eu cresci. Vi um garoto de cabelos castanho-claros correndo por mim, ele ria e logo atrás dele um outro garoto. Esse negro, de cabelos cacheados e olhos verdes.

LUNARES - COMPANHEIRO DO ALFA (EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora