CAPÍTULO ONZE

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Confiança

    Lena não pareceu muito contente em deixar Apolo se sentar em uma de suas cadeiras, mas acho que ser amigo de Amélia tinha suas vantagens nessa cidade.

    Meu irmão estava de frente para mim, na outra ponta da mesa. Estava mais diferente desde a última vez que eu o vi, que foi no julgamento onde negaram minha adoção para ele.

    Na época ele estava com dezenove anos, tinha uma cara de poucos amigos, olheiras, um corte na boca e o cabelo raspado. Ele não era o mais bonito do mundo na época, mas isso está diferente agora.

    Apolo estava com o cabelo bem cortado, apesar de ainda ter olheiras, não parecia abatido. O rosto perfeito, com uma barba aparada e um sorriso nos lábios que me deixava com calafrios.

    Nem parecia que ele havia saído da cadeia há alguns dias.

    Encarei meu irmão por longos minutos, tentando descobrir como ele havia me achado. Seus dedos tamborilavam na mesa, o braço exposto tinha uma longa tatuagem de cobra e no outro desenhos tribais que eu não entendia nada. Para um ex-presidiário ele estava bem encorpado, com músculos e aparentando estar com uma saúde de ferro. Eu não sei o que ele quer comigo, mas boa coisa não é.

    Quando ele iria falar algo, Lena apareceu trazendo nossos pedidos. Um hambúrguer com fritas para mim e a lasanha especial para meu irmão. A mulher colocou meu prato com delicadeza, enquanto Apolo teve o seu posto de qualquer jeito.

    Não posso culpá-la, meu irmão não tem a melhor das atitudes com as pessoas e quando cheguei, acho que ele iria xingá-la. Por sorte eu intervim antes.

    — Caramba, isso aqui está muito bom — disse Apolo, revirando os olhos enquanto mastigava.

    — Lena sabe o que faz.

    — Fiquei sabendo que se formou em medicina, meus parabéns.

    — Obrigado, não que você se importe de verdade. — Encarei o lado de fora da lanchonete, notando famílias passando por nós. — Como soube onde eu estava?

    — Fui até sua faculdade, me falaram sobre um tal de Jace e ele me falou sobre a Amélia, que provavelmente vocês tinham vindo para Riverbroke juntos.

    Não acredito que aquele idiota me delatou.

    — Agora que está aqui, quanto tempo vai levar para você me pedir a herança dos nossos pais?

    — Tecnicamente eu também tenho direto a...

    — Você perdeu esse direito quando me tratou feito lixo por vários anos, Apolo. Até mesmo os nossos pais sabiam que você não seria confiável com esse dinheiro e decidiram apostar em mim, que era apenas um recém-nascido.

    — Calma, não precisa se exaltar, maninho. Estou em paz aqui, não quero mais esse dinheiro.

    — Conta outra, acha mesmo que vou acreditar nisso?

    Apolo soltou um suspiro e colocou o garfo e faca no prato, empurrando para o lado o restante de sua lasanha. Encarei meu hambúrguer, não havia nem mesmo dado uma mordida ainda.

    — Esse tempo que passei na cadeia me fez refletir, eu estava sozinho, nem mesmo aqueles que eu chamava de amigos vieram me visitar. No fundo eu tinha esperança de que você viria me ver, nem que fosse para me humilhar. — Apolo cruzou os braços e recostou no banco estofado. — Eu fui um péssimo irmão mais velho, devia te proteger e acabei apenas te colocando em problemas.

    — Quer mesmo que eu acredite que a cadeia te mudou? Apolo, eu não sou idiota. Aposto que não vai levar nem mesmo um mês para você me arranjar problemas.

LUNARES - COMPANHEIRO DO ALFA (EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora