[7] Até que Você Nem É Tão Ruim Assim

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— Mentira que ela te disse isso!

— Juro por tudo! Tô até agora sem entender também, tipo — Gabriela exclamou, gesticulando com as mãos enquanto caminhava pelos corredores do CT ao lado de Nina.

O som de tênis batendo no chão e o murmúrio distante dos treinadores preenchiam o ambiente. Foi então que uma voz grossa interrompeu a conversa.

— Gabi, Nina, já não deu o horário da academia? — Zé perguntou, erguendo uma das sobrancelhas com um olhar brincalhão.

— Ih! — A morena exclamou olhando para o horário em seu celular. — Obrigada por avisar Zé! Estamos indo.

As duas aceleraram o passo em direção à academia. O lugar estava em movimento constante, com as demais atletas se movimentando em um ritmo coordenado. As duas chegaram eufóricas e desengonçadas, indo cada uma para os aparelhos de suas designadas séries, que por sorte do destino, ficavam lado a lado.

— Vai, continua!

— Continuar o que?

— Ué, a história?

— Ah, claro. Mas não tem muito mais o que eu falar. Ela só mandou aquela mensagem estranha, sem pé nem cabeça. Não sei nem como responder! — A mais velha comentou, uma careta engraçada surgiu em seu rosto.

— Meu Deus, a carne realmente só cai no prato do vegano! — foi a vez da mais nova, brincando e arrancando risadas de algumas jogadoras próximas que se distraíam com a conversa.

Nina balançou a cabeça, se juntando às risadas.

— Depois dessa bomba você tava é precisando de uma daquelas "trends românticas" da Renata! Vai que você encontra alguém interessante! — Nina implicou enquanto movimentava as mãos.

— Uhum, só não se esqueça que você também faz parte das solteiras da seleção, viu? — Gabriela provocou com um sorriso travesso. — E sabe quem mais? Sua querida Julia!

A capitã foi correspondida quase instantaneamente por um revirar de olhos.

— Ai Gabriela! Licença, né? Não pode dar uma brechinha pra vocês, te contar, viu?! — Resmungou Nina, terminando seu exercício e se distanciando da parceira, que ria de sua reação.

Enquanto Nina se afastava de Gabi e se concentrava em seu próximo exercício, seus pensamentos inevitavelmente voltaram para Julia. A relação entre elas sempre fora complicada. Desde o início, havia uma tensão palpável, uma mistura de rivalidade e algo mais que Nina não conseguia definir completamente.

Ela lembrava de todas as provocações, os olhares e os momentos em que a ruiva parecia se importar, mesmo que fosse por um breve instante. Era difícil entender o que realmente se passava na cabeça da maior. Será que havia algo mais por trás daquela fachada de indiferença?

Nina suspirou, levantando o peso com um esforço concentrado. A dor no ombro ainda estava presente, um lembrete constante do incidente de um dos últimos treinos. Mas, mais do que a dor física, era a confusão emocional que a incomodava. Por que Julia tinha que ser tão difícil de ler? E por que ela mesma se importava tanto com o que a outra pensava?

Enquanto completava mais uma repetição, Nina tentou afastar esses pensamentos. Precisava se concentrar no treino, no objetivo maior: as Olimpíadas, que estavam a apenas duas semanas de distância. Apesar de, no fundo, saber que resolver a questão com Bergmann era essencial para ela e para o sucesso do time. A rivalidade entre elas não podia continuar a atrapalhar.

Talvez fosse hora de tentar algo diferente. Talvez tentar entender Julia? Quem sabe, por trás de tanta competitividade, houvesse alguém tão confusa quanto ela.

Tie-break • Julia Bergmann Onde histórias criam vida. Descubra agora