Depois de tanto tempo, finalmente as aulas voltarão. Não é como se eu gostasse da escola, mas ficar mais de dois anos trancada em casa é bem pior do que vir para cá.Acordei cedo com um e-mail no celular. Era o de sempre, meu tio pedindo um relatório da minha semana. Fico feliz pela atenção que ele tem comigo, mas, por conta do horário, ignorei e corri para me arrumar. Vesti a camisa do uniforme e uma calça jeans qualquer.
A escola ficava do outro lado da cidade, e, considerando onde moro, teria que descer a pé mesmo. Estava tão desesperada para chegar que nem pensei no "cansaço" que sentiria.
Depois de um tempo, finalmente cheguei ao local, lotado de gente. Minha única meta era encontrar minha sala e me sentar.
"Segundo andar, sala três."
Subi até a sala indicada: primeiro ano do ensino médio, turma quatro. Assim que entrei, um alívio tomou conta de mim. Elora e Brie estavam lá.
Comecei a conversar com Elora no sexto ano, embora a conhecesse desde o primário. Sempre fui encantada pelos seus cabelos e olhos, mas a achava um pouco metida. Já Brie, conheci no segundo ano do primário. Começamos a conversar no sétimo ano. Achava seu jeito único, mas também um pouco enjoado e metido.
— Graças a Deus vocês estão aqui — falei, me sentando ao lado de Elora — Pensei que ia ficar sozinha esse ano.
— Também achei que iam separar a gente — respondeu ela, com uma risada leve.
— E eu pensei que nunca mais ia cair na mesma sala que vocês de novo — disse Brie. Estudamos juntas do segundo ao quinto ano do primário, mas, depois disso, nunca mais fomos da mesma sala. Perdemos muitas chances por causa da pandemia.
— Bom, parece que mesmo assim alguns ficaram para trás — falei, mais séria do que queria.
Um sorriso apareceu no rosto de Brie. Ela me olhava com as sobrancelhas levantadas, enquanto Elora, de canto, correspondia. As olhei confusa até perceber o que insinuavam.
— Olha, não foi isso que eu quis dizer — expliquei, colocando minha mochila no chão.
— Se não foi, acho que sua opinião não vai mudar agora, né? — Brie respondeu, olhando para a porta.
Apenas o cheiro de framboesa já indicava a presença de Orion. Arrepiei e sorri sem graça por isso.
— Bom dia, Orion! — exclamou Elora, tentando ser gentil e ao mesmo tempo me provocar.
— Bom dia — respondeu ele, com a voz meio monótona. Eram sete da manhã, não o julgo. — Bom dia, Liora — se dirigiu a mim.
— Bom dia, Orion — respondi, sem me virar para trás, arrepiada pela proximidade da voz.
Fazia tempo que não nos falávamos pessoalmente. Não sabia muito o que dizer, precisava agir normalmente, mesmo com meu coração quase saltando pela boca.
Conheci Orion no sétimo ano, e ele foi o único amigo que fiz sem ajuda de ninguém. Foi uma conversa que poderia ter sido normal, se tivéssemos tido uma introdução mais tradicional. Mesmo assim, ele se tornou um grande amigo, alguém em quem posso confiar.
As meninas tinham uma à outra, conversavam muito e riam também. Mas, para mim, era diferente. Gostava de conversar com Orion. Ele me fazia rir, mesmo quando minhas memórias me assombravam. Nunca admiti isso para ninguém, mas me fazia bem.
As horas se passavam entre introduções a matérias novas e professores novos, mas as horas de sono acumuladas me atormentavam a cada segundo. Minha mente já não estava mais na aula. Perdi as contas de quantas vezes quase bati a cara no caderno ou marquei minhas bochechas com a tampa da caneta.
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Talvez...
ChickLitLiora aparenta ter uma vida normal e bem-sucedida, além de aparentar ser perfeita desde seu nascimento. No entanto, por trás das paredes de sua casa, ela enfrenta um pesadelo constante. A cada dia, Liora luta para esconder os traumas e abusos que a...