Capítulo 10

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Após o banho, um sorriso leve estava estampado em meu rosto. Meu corpo estava leve e minhas costas já não doíam tanto quanto antes. Pensei que ouviria gritos quando voltasse, já que saí com meu tio tão querido pelo meu pai sem sua total permissão.

Mas não, ele não se impôs, não agiu de forma estúpida e nem sequer mencionou o ocorrido. E isso me deixava feliz.

Era nítido que os momentos de hoje trouxeram uma leveza inexplicável e uma paz genuína. Ao ligar o celular, me deparo com muitas mensagens: grupo da escola, Ukyo falando coisas aleatórias, Elora e Brie conversando entre si, rápidas de responderem. Porém uma única me intriga.

— Orion?

Meu semblante tranquilo se torna confuso. Orion raramente é o primeiro a mandar mensagem. Algo deve ter acontecido com ele. Me troco de roupa o mais rápido que posso, pego meu celular novamente, me sento na cama e o desbloqueio.

"Oi, Liora," — a mensagem dizia.
"Só queria saber se você está bem" — ele continua — "Sumiu o dia todo."

Me alivio um pouco ao ler as mensagens. Por instantes, pensei que algo tinha acontecido com ele. Ajeito os travesseiros na cama e me deito, sentindo o colchão macio em minhas costas.

"Oi, Orion," — respondo — "Estou bem, só fiquei meio ocupada hoje."

"Entendi"
"Aquela sua dor passou?"

"Sim"
"E como você está?"

"Estou bem também"
"Acabei de fazer algumas coisas aqui e tô deitado agora."

Era estranho que Orion tivesse me mandado mensagem, mas isso não muda o fato de que sua preocupação era fofa.

Passamos um tempo conversando. Assuntos da escola, como tinham sido nossos dias, conversas aleatórias.

Não nego que ele me arrancou alguns sorrisos bobos e risadas sinceras. A cada mensagem, era como se sua voz ressoasse aos meus ouvidos. Dava para sentir suas emoções mudando a cada assunto e suas diferentes risadas.

Ele era meu melhor amigo. Amigo...

- Liora, já tá na hora de dormir - minha mãe invade meu quarto sem aviso, me fazendo assustar.

- Tá bom.

- O que você tá fazendo? - Ela pergunta, apoiada na porta.

- Eu... - tento buscar uma desculpa - ...estava falando com as meninas.

- Tá bom então.

Ela me olha desconfiada, mas logo sai. Meu coração acelera a cada passo. Não é um pecado, mas se minha mãe ou meu pai soubessem que estou sorrindo feito boba enquanto converso com um menino, eu teria muitos problemas.

Chega a ser engraçado como eles pensam. "Meninos e meninas nunca vão ser só amigos." Na minha cabeça, isso não faz o menor sentido, até porque, se o que tenho com Orion não é amizade, o que seria?

"Vou dormir agora."
"Boa noite, Orion."

"Boa noite, Liora."
"Durma bem."

Não iria dormir agora, isso era certo. Mas entre terminar a conversa ali e arriscar mais de uma semana sem celular, eu preferia terminar ali.

Coloco o celular para carregar e começo a encarar o teto. O ponto de vista da minha família começa a me assombrar aos poucos, mais especificamente o ponto de vista de meu pai.

"Os Browns não se misturam", é isso que ele sempre diz quando menciono algum amigo ou amiga. É nesses momentos que dou graças a Deus por ele não ter conhecido Orion; seu pavio curto seria um grande problema.

Orion sabe lidar com as pessoas, independente de como sejam, quem sejam ou o que fazem. Ele tinha paciência, até demais. O problema é apenas o meu pai.

Ele não trata minhas amigas com desprezo, mas acho que a ideia de que eu, uma Brown dita como pura e perfeita, estou conversando com um garoto "qualquer" o faria enlouquecer de raiva.

Esperam que eu aguarde meu pretendente surpresa como Rapunzel espera a mãe Gothel, sozinha na torre escondida na floresta. E quando digo isso é ao pé da letra. Espera que um dia eu aceitei um casamento arranjado quando tiver idade para casar.

Mas seu maior medo é de que um dia eu me torne como meu irmão é maior do que seu amor por mim. Por isso me mantém distante de Julian, ele sabe que meu tio me dá liberdade e permite que eu me descubra e aprenda mais sobre mim. Ele tem medo de perder o controle.

Me dizem que meus ancestrais se casaram apenas para continuar nossa linhagem, nunca por amor ou qualquer interesse romantico.

"Browns devem se manter puros de sangue, alma, corpo e mente". Por isso ele me criou para não amar por vontade própria, para não desejar ninguém. E eu não desejo. Eu não desejo o amor; ele é superficial e sem sentido.

Na verdade, por que estou pensando nisso agora? Refletia sobre Orion, então por que?

- Liora, você tá delirando - sussurro para mim mesma, passando as mãos pelos olhos.

Olho pela janela, a escuridão da noite é quase anulada pelas luzes da minha pequena cidade. Mas lá estava ela, a lua.

Meu corpo amolece aos poucos. Aquele grande astro no céu me trazia a paz que poucos conseguem proporcionar. Eu não entendo o porquê disso, por que agora.

Orion é meu amigo, apenas isso e nada mais. Mas por que ele me faz pensar nesse tipo de coisa? Qual a razão de amar? Qual o sentido em amar? Como vou saber que amo alguém? Por que esses pensamentos não saem da minha mente agora?

O que é o amor?

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