Capítulo 3

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O relógio marca cinco da manhã, mas minha cabeça está a mil. Deveria estar dormindo, mas aqui estou, tentando juntar pensamentos soltos para escrever o relatório semanal que meu tio me pediu. Ele fez o que pôde para manter minha sanidade durante a pandemia, e essa era uma das suas ideias: enviar um e-mail contando como foi minha semana.

Meus dedos pairam sobre o teclado, sem saber por onde começar. O que teve de produtivo na minha semana? Nada além de pensamentos caóticos e dias que parecem se arrastar.

— Vamos lá, Liora — murmuro para mim mesma, abrindo o e-mail.

"Caro subtenente Julian,

Peço desculpas pela demora, não tenho tido dias fáceis, emocionalmente falando. É como se minha carne estivesse quente, mas minha alma, fria.

As aulas voltaram, e reencontrei meus amigos. Espero conseguir mantê-los desta vez. Alguns professores são os mesmos, e imagino que o primeiro ano seja tranquilo.

Sinto sua falta. Espero que possamos nos ver em breve ou que me convide novamente para visitar a escola onde leciona. Não sabia que subtenentes podiam lecionar, mesmo em uma escola militar.

Fico feliz por você ter conseguido juntar o útil ao agradável. Aguardo seu retorno.

Atenciosamente, 
Liora Brown."

Após clicar em "enviar", desligo o celular e me arrasto para fora da cama. Já são seis e meia. O tempo parece correr quando você quer que ele pare. Coloco o uniforme sem pressa. A neblina começa a dissipar, e o calor toma conta assim que piso na rua.

Minha cabeça parece querer explodir. Cada som, cada passo, cada carro passando soa amplificado. O bater dos cadernos nas costas das pessoas ecoa como marteladas. Meu coração pulsa na cabeça, latejando a cada segundo.

"O que está acontecendo comigo?" Tento focar, mas a dor é insuportável. Cada som, cada ruído... até que...

— Liora? Tá tudo bem? — uma voz me tira do transe. Viro-me, assustada, mas disfarço. Já cheguei à escola? O quão rápido andei?

— Oi, Órion — respondo, tentando parecer tranquila. — Eu tô bem, e você?

— Fui obrigado a vir hoje. Como você acha que eu tô? — diz, com seu tom irônico de sempre. — Acordei tomando um flashbang na cara.

— Flashbang? — pergunto, tentando lembrar o significado.

— É, abri a cortina achando que o dia estava nublado, mas o sol me cegou.

Dou uma risada sem graça enquanto ele continua falando. Sua voz é o que meus ouvidos precisavam. Por alguns instantes, o caos na minha cabeça diminui.

Entramos na sala, e lá estavam elas: Elora e Brie, rindo de algo no celular de Elora, cuja capinha desbotada de cor rosa me faz sorrir. Elora tem um gosto "único" para essas coisas.

Coloco minha mochila ao lado da cadeira, estalo os dedos e as costas, e respiro fundo antes de forçar um sorriso no rosto.

— Primeira aula é de quê? — pergunto, me abaixando para pegar meu estojo.

— Matemática.

Reviro os olhos.

— Matemática no primeiro horário é foda — reclama Órion. E, pela primeira vez hoje, concordo plenamente.

A professora entra. Ruiva de cabelos tingidos, com o rosto tenso. Não presto muita atenção no que ela diz. O sono começa a me dominar. A segunda aula passa. Depois a terceira. Não consigo me concentrar em mais nada. Minha cabeça parece prestes a explodir.

Talvez...Onde histórias criam vida. Descubra agora