𝒪s dias que se seguiram ao beijo foram um turbilhão. Eu não conseguia parar de pensar em Josh, no que havíamos compartilhado na galeria. A sensação de seus lábios nos meus, a intensidade de sua presença... tudo isso estava gravado na minha pele. Mas, ao mesmo tempo, a vergonha começou a me consumir. O que eu havia feito?
Eu evitava a galeria. Cada vez que passava perto, meu coração acelerava, e uma onda de ansiedade me invadia. Josh estava lá, esperando por mim, mas eu simplesmente não conseguia encará-lo. Havia algo em mim que me impedia de voltar, algo que me dizia que havia cruzado uma linha que talvez não devesse ter cruzado.
Em vez disso, busquei refúgio na igreja. Peter me acolheu como sempre, mas algo em seu comportamento havia mudado. Talvez fosse o meu próprio estado emocional, mas comecei a notar pequenas coisas — o jeito como ele me observava com mais intensidade, como suas perguntas sobre o meu bem-estar se tornavam mais frequentes.
Uma tarde, enquanto ajudava nos preparativos para uma missa, Peter se aproximou de mim. Havia uma preocupação velada em seus olhos, mas algo mais... algo que eu não conseguia identificar de imediato.
— Selene, você tem estado distante. Não tenho te visto com tanta frequência nos últimos dias. Está tudo bem? — ele perguntou, sua voz suave, mas com uma nota de inquietação.
Olhei para ele, tentando esconder o turbilhão dentro de mim.
— Está tudo bem, senhor. Só estou... refletindo sobre algumas coisas — respondi, evitando mencionar Josh ou a galeria.
Peter franziu a testa, como se soubesse que eu estava escondendo algo.
— Se precisar conversar, estou aqui para você, sempre. A igreja é seu lugar seguro. — Ele colocou a mão suavemente no meu ombro, e o toque dele parecia mais prolongado do que o habitual.
Senti um desconforto crescente. O que antes era apenas uma orientação espiritual agora parecia carregado de algo diferente. Havia uma tensão no ar que eu nunca havia sentido antes com Peter
— Eu agradeço, senhor, de verdade. Mas estou bem, só preciso de um pouco de tempo — respondi, afastando-me sutilmente do toque.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, mas o olhar que me deu era quase... possessivo? Eu sacudi a cabeça, pensando que talvez fosse apenas minha imaginação. Peter sempre foi atencioso comigo, talvez estivesse apenas preocupado. Porém, havia algo ali, algo que eu não conseguia definir, mas que fazia com que minha pele formigasse.
Naquela noite, não consegui dormir. Minha mente vagava entre Josh e Peter. Josh, com seu jeito livre e apaixonado, havia me mostrado uma nova faceta da vida, uma que eu não estava preparada para enfrentar. E Peter... sua preocupação havia mudado de cor. Era como se ele estivesse mais presente, mais... próximo do que eu gostaria.
Na manhã seguinte, decidi que precisava dar um passo atrás. Precisava de espaço para pensar, para entender o que estava sentindo. No entanto, Peter parecia ter percebido meu afastamento, e a proximidade entre nós aumentou de maneira sutil, quase despercebida. Ele encontrava desculpas para estar por perto, para perguntar como eu estava, para me lembrar que a igreja era meu porto seguro.