𝒪s dias que se seguiram foram como um borrão, uma sucessão de momentos em que a culpa e a dúvida me sufocavam a cada instante. A igreja continuava a ser um refúgio sombrio, e Josh... Josh era um porto seguro que, paradoxalmente, me fazia questionar tudo.
A vergonha de enfrentar Peter crescia cada vez mais. Eu evitava o olhar dele durante os sermões, sempre procurando uma desculpa para não me envolver nas atividades da igreja, onde antes encontrava conforto.
A realidade começava a pesar demais, e tudo aquilo que sentia por Josh, embora intenso e verdadeiro, também trazia consigo um turbilhão de incertezas. Eu não sabia se poderia continuar vivendo entre esses dois mundos sem me despedaçar no processo.
Uma tarde, depois de evitar a igreja novamente, decidi ir à galeria de arte. Tentei ser discreta, sem deixar que ninguém me visse, mas meus passos hesitantes e o olhar perdido me denunciavam.
Já fazia dias que não via Josh, e uma parte de mim ansiava por sua presença, enquanto outra tentava manter a distância.
Eu sabia que voltar àquele espaço traria de volta tudo o que eu estava tentando evitar, mas havia algo irresistível, algo que me puxava para ele como uma maré inevitável.
Quando cheguei, o ambiente parecia mais vazio do que o normal. Talvez fosse o horário ou o clima introspectivo da galeria, mas a sensação de vazio ecoava dentro de mim.
E então eu o vi, do outro lado da sala, examinando uma de suas pinturas mais recentes. Josh, com seu jeito tranquilo, parecia perdido em seus próprios pensamentos.
Por um momento, pensei em ir embora sem que ele me visse, mas antes que pudesse me mover, nossos olhares se encontraram. Ele sorriu de leve, um sorriso que não carregava nenhuma cobrança, mas que, mesmo assim, me fez sentir exposta.
Caminhei até ele, tentando esconder a tempestade que rugia dentro de mim, mas sabia que Josh era bom em perceber o que eu tentava esconder.
— Ene, é bom te ver — ele disse, a voz suave, mas carregada de um tom que parecia dizer mais do que as palavras.
— Eu... não sabia se deveria vir — confessei, as palavras saindo antes que eu pudesse controlá-las. — Não tenho ido à galeria. Acho que preciso de tempo para pensar.
Josh assentiu, seus olhos mostrando compreensão, mas também uma pontada de tristeza.
— Eu entendo. As coisas mudaram, e não quero que você se sinta pressionada por nada. Mas eu senti sua falta. Não só aqui, mas em tudo. — Ele hesitou por um momento, como se buscasse as palavras certas. — Eu me preocupo com você, Eva. Sinto que você está carregando um peso que talvez não precise ser só seu.
Aquelas palavras me atingiram em cheio, como se ele tivesse lido meus pensamentos.
Eu estava carregando um fardo, e a verdade era que parte desse peso vinha da minha incapacidade de reconciliar esses dois lados da minha vida.