𝒪s dias que se seguiram foram um caos de medo e oração. Cada canto do meu apartamento parecia tomado por uma presença que eu não conseguia ver, mas sentia com toda a clareza.
A entidade que me rondava se manifestava de formas sutis: o vento que soprava levemente pela janela fechada, as luzes que piscavam sem motivo, o frio que me arrepiava a espinha até nos dias mais quentes.
Tudo parecia me empurrar para o limite da sanidade.
Comecei a orar mais do que nunca. Cada manhã e cada noite eram preenchidas com preces fervorosas, as palavras sussurradas entre lágrimas.
Eu pedia por proteção, por uma forma de expulsar aquela presença que me assombrava. Porém, quanto mais eu rezava, mais intensas as manifestações se tornavam, como se minha fé estivesse sendo testada ou desafiada.
Peter se tornou meu refúgio. O guia, que sempre foi uma figura acolhedora em minha vida, agora era a única pessoa em quem eu conseguia confiar plenamente.
Suas palavras, sempre cheias de esperança e conforto, eram um alívio para a minha mente perturbada. Eu me via indo cada vez mais à igreja, buscando refúgio não apenas em Deus, mas também na presença reconfortante de Peter.
Uma tarde, após um sermão particularmente pesado, procurei por ele. Meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, o medo estampado em cada linha do meu rosto.
Ao me ver, Peter imediatamente percebeu que algo estava errado. Sem hesitar, ele me levou para seu escritório nos fundos da igreja, um espaço acolhedor com paredes de madeira e o cheiro suave de incenso.
— Ene, o que está acontecendo? — perguntou ele, sua voz cheia de preocupação. — Você não parece a mesma. Há algo que está te atormentando, e quero que me conte o que é.
Eu sabia que não poderia mais esconder a verdade. Respirei fundo e comecei a contar tudo: sobre a sensação de ser observada, as noites sem dormir, as sombras que me seguiam, e, finalmente, sobre o sussurro terrível que havia ouvido.
Enquanto falava, lágrimas escorriam pelo meu rosto, e minha voz tremia com o medo que estava guardando por tanto tempo.
Peter me ouviu em silêncio, seus olhos fixos nos meus, absorvendo cada palavra. Quando terminei, ele ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse a gravidade da situação.
— Isso é mais sério do que eu imaginei — disse ele finalmente, a voz firme, mas gentil. — Ene, há forças no mundo que muitas vezes não compreendemos. Algumas delas se alimentam de nossos medos e dúvidas. Mas saiba que você está segura aqui, na casa de Deus. Vamos orar juntos. Vou pedir ao Senhor que te proteja dessas trevas.
Suas palavras me trouxeram um alívio momentâneo, mas o medo ainda estava lá, latejando sob a superfície. Gabriel me conduziu até um pequeno altar na sala, onde uma cruz de madeira repousava.