𝐈𝐗

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𝒜cordei com a luz suave da manhã invadindo o quarto

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𝒜cordei com a luz suave da manhã invadindo o quarto. Por um instante, não sabia onde estava, até que a lembrança da noite anterior veio à tona. O cheiro de tinta e o ambiente artístico de Josh ao meu redor me fizeram perceber que estava no apartamento dele.

Olhei para o lado e o vi dormindo, o peito subindo e descendo em um ritmo lento, sereno. O calor da noite passada ainda parecia presente, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim começava a mudar.

Levantei-me devagar, tentando não acordá-lo. Vesti-me rapidamente e fui até a varanda, tentando organizar meus pensamentos. A realidade estava voltando com força, empurrando-me para longe daquela bolha de conforto que havíamos criado na noite anterior.

Algo dentro de mim começava a pesar, como uma sombra que se aproximava cada vez mais, ofuscando o brilho de tudo que aconteceu.

Eu me sentia culpada. Era como se o desejo que eu havia nutrido, e finalmente cedido, agora estivesse me sufocando. Pensar na igreja, no Peter, no que isso significava para mim... uma parte de mim queria acreditar que tudo estava certo, que eu havia seguido meu coração. Mas outra parte, aquela que havia sido moldada pelos valores e crenças da igreja, sussurrava que eu havia cometido um erro.

O medo começou a me dominar. E se Peter descobrisse? Como eu poderia encarar a igreja novamente, sabendo que havia cruzado uma linha invisível, mas poderosa? Senti-me dividida entre o que meu corpo e meu coração haviam desejado e o peso das expectativas e da culpa.

Josh apareceu na varanda pouco depois, com o cabelo bagunçado e um sorriso meio sonolento. Ele veio por trás de mim, envolvendo-me em seus braços, mas dessa vez, ao invés de sentir o conforto de antes, senti uma leve tensão.

— Está tudo bem? — perguntou ele, encostando o queixo em meu ombro.

Eu queria dizer que sim, que estava tudo bem, mas a verdade era que não estava. Havia uma tempestade se formando dentro de mim, e eu não sabia como lidar com isso.

— Está, eu acho... — respondi de forma hesitante, sem conseguir encará-lo diretamente.

Josh soltou-me e ficou de frente para mim, tentando ler o que estava se passando em minha mente.

— Ene, se você está se sentindo desconfortável com o que aconteceu, por favor, me diga. Não quero que pense que te pressionei para nada — disse ele, a voz cheia de preocupação.

— Não é isso, Josh — eu disse rapidamente, tentando afastar a ideia de que ele era culpado por qualquer coisa. — É só que... tem muita coisa passando pela minha cabeça. A igreja, Peter... tudo o que isso significa para mim. Eu... eu não sei como lidar com isso.

Ele assentiu lentamente, seus olhos mostrando compreensão. Ele sempre foi sensível às minhas preocupações, e eu sabia que ele entenderia. Mas mesmo assim, a culpa estava ali, latejando em minha mente como um lembrete constante.

— Você se arrepende? — ele perguntou, a voz baixa, como se temesse a resposta.

Eu o encarei por um momento, e a verdade é que não me arrependia dele, de estar com ele. Mas me arrependia de como isso estava me afetando agora, de como estava me deixando dividida.

— Não me arrependo de você, Josh. Mas me arrependo de não ter pensado mais sobre o que isso significaria para mim. Estou confusa, e isso é muito para processar — respondi, com a voz embargada.

Josh suspirou, puxando-me de volta para um abraço apertado.

— Eu entendo. Não vou te pressionar para nada. Se você precisar de espaço ou tempo, eu estou aqui, sempre estarei.

Senti um nó na garganta, sabendo que ele realmente se importava comigo, mas a confusão dentro de mim só aumentava. Era como se eu estivesse dividida entre dois mundos.

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Voltei para casa logo depois, ainda carregando o peso daquela manhã. Cada passo que dava em direção à igreja parecia mais difícil. Peter estava lá, claro, cumprimentando as pessoas com seu sorriso caloroso e aquele ar de segurança. Assim que me viu, o sorriso dele se alargou, mas eu sentia como se estivesse sendo sufocada pelo peso da culpa.

Entrei na igreja, e o lugar que antes me trazia paz agora parecia me acusar. O sermão de Peter começou, suas palavras ecoando sobre pureza, moralidade e o caminho reto a ser seguido.

Cada frase parecia dirigida a mim, como se ele soubesse o que havia acontecido, como se as paredes da igreja estivessem testemunhando a minha fraqueza. Eu não conseguia focar nas palavras dele, minha mente estava em outro lugar, e o sentimento de culpa só crescia.

Peter e eu sempre tivemos uma proximidade que, para mim, era confortável, mas que, agora, parecia cheia de tensão.

Ele era meu confidente, a pessoa com quem eu podia conversar sobre meus medos e dúvidas espirituais. Mas agora, cada olhar dele parecia pesado, como se ele estivesse esperando por algo mais, algo que eu não podia mais oferecer com sinceridade.

Havia uma barreira invisível entre nós, criada pela noite que passei com Josh.

Depois do sermão, Peter veio falar comigo, e eu senti a tensão crescendo. Ele me observava de um jeito cuidadoso, mas também inquisitivo.

— Selene. Está tudo bem? — perguntou ele, sua voz carregada de preocupação, mas havia algo mais ali, um traço de dúvida que me fazia estremecer.

Tentei manter a compostura, forçar um sorriso.

— Sim, só estou... um pouco cansada. Muita coisa acontecendo — respondi, tentando soar convincente.

Peter me estudou por mais um momento, como se estivesse tentando ler algo nas entrelinhas do que eu dizia.

O jeito que ele me olhava era gentil, mas havia uma intensidade que me deixava inquieta. Ele era mais do que apenas um pastor para mim, e eu sabia que ele sentia o mesmo, mesmo que nunca tivesse dito abertamente.

Ele tocou meu braço de leve, e o gesto, que antes me trazia conforto, agora me fazia sentir um frio na espinha.

Assenti, sentindo a culpa pesando ainda mais. O que eu poderia dizer? Como explicar o que estava acontecendo dentro de mim, a confusão, o medo, a insegurança? Como dizer a ele que minha vida, que parecia tão estável, agora estava em ruínas por causa de um sentimento que eu nem sabia como lidar?

— Eu sei, Peter. Eu sei — murmurei, evitando seu olhar.

Despedi-me rapidamente, sentindo que precisava sair dali antes que o peso da culpa me esmagasse completamente. Cada passo para fora da igreja era como um alívio, mas também um lembrete de que eu estava cada vez mais distante daquele mundo que antes era minha única segurança.

Agora, eu estava presa entre duas realidades: o desejo intenso que sentia por Josh, e a vida segura e moralmente impecável que a igreja e Peter representavam. Eu não sabia qual caminho seguir, e a culpa, o medo e a insegurança se entrelaçavam, me arrastando cada vez mais fundo em uma escuridão da qual eu não sabia se poderia escapar.

ㅤ𝓒𝐇𝐑𝐈𝐒𝐓𝐈𝐀𝐍 𝓦𝐎𝐌𝐀𝐍. ✟Onde histórias criam vida. Descubra agora