Naquela manhã, no dia 4 de Março, Dona Vilma havia pego o jornal para ler, embora ainda esteja aprendendo a ler e a escrever pelos ensinamentos de seu filho adotivo, mas conseguia ler bem só na escrita que era um desafio.
Estava aconchegada na sua rede em sua varanda e estava com o seu chale de cor vinho enrolado em si. O ar estava gélido e a rua parecia um fantasma de tanta névoa que a cobria, e as suas casas devem estar preparadas para o frio que ainda os aguardam.
Um homem um pouco mais velho do que Vilma, estava se aproximando dela, era o seu amigo, José Mathias, estava usando uma calça preta suja de terra e poeira e uma camisa junto com um manto que também estava sujo."Provavelmente estava no campo pelas suas roupas, mas hoje não é dia de colheita ou de semear o solo, que estranho."
O senhor estava em um estado horrível, todo suado e ofegante, parecia ter corrido pela sua vida, e olhos entre abertos e seu peito que sobia e descia em busca de ar, ele não tinha machucados só alguns arranhões. Será que ele foi atacado?
Dona Vilma foi até ele o ajudando a entrar em sua casa. E ele logo se sentou em uma das poltronas, era vermelho com detalhes xadrez, o Hobi e Felix que fizeram para sua avó quando ela comemorou no seu último aniversário.
Ambos não diziam nada, apenas ficaram ali ouvindo os pássaros cantarem na varanda."Nessa momento não é bom ter estresse ou desespero, ele precisa de um tempo pra poder falar o que houve."
A Dona Vilma era uma mulher sensível e cuidadosa, ela sabe o momento de parar ou continuar, então ela sabia o que estava fazendo.
José Mathias respirou fundo e suspirou pesadamente, apoiando as suas mãos em suas coxas que a um pouco tempo antes clamavam por descanso depois de uma grande corrida que foi percorrida por ele. Ele estava pronto para contar:-Vilma, temos problemas.- Diz ele em um tom pesado em sua voz.
-E qual seria, José?
-Os oficiais da Coreia estão em busca dos refugiados das tragédias sociais.
Vilma ficou de queixo caído, ela não esperava por uma notícia dessas e muito menos agora que já estava tudo bem com os garotos. O desespero tomou conta do seu corpo, ela não queria perder os seus garotos, ela os quer perto dela, na sua segurança. Dona Vilma pegou nos ombros do homem que estava ao seu lado e o puxou:
-Por favor, não me diga que eles já estão aqui! Eu não quero perder os meus meninos... Eu não sou nada sem eles... - A sua voz foi fraquejando aos poucos e o seu choro se fez presente. José a abraçou tentando consolar a sua amiga.
-Vilma, nois podemos esconder eles. Eu não vou deixar que nenhum oficial pegue o Lix ou o Hobi. Tá tudo bem. - Ele a abraçou mais forte tentando deixar ela mais tranquila com a sua fala mas ela ainda continuava com medo.
Mesmo que ela descordasse eles não tinham tempo, precisavam esconder os meninos para que não sejam levados. Ela foi até o quarto deles, com tristeza em seu olhar e mãos geladas. Os meninos perceberam que ela não estava bem e foram em passos longos até ela e a fizeram sentar na cama:
-Mãe, está tudo bem? - Felix foi o primeiro a dizer algo.
-Não está, vocês precisam se esconder agora. - Ela levantou da cama puxando os garotos para seguirem ela - E sem perguntas, não temos tempo pra isso.
E José surgiu atrás deles:
-Já os esconderam?
-Você por acaso tá vendo eles dentro do sótão? Claro que não, José. Para de fazer perguntas óbvias. - Ela já estava estressada com isso tudo.
José ficou calado e os ajudou a abrir o sótão e acomodá-los atrás de várias caixas que estavam empilhadas, lá estava escuro e cheio de poeira, o cheiro de mofo predominava no ar mas eles não deviam reclamar, todos sabiam que era algo de vida ou morte, quem não notasse a tensão dos dois idosos querendo a todo custo esconder os coreanos seria um idiota.
Quando eles se sentaram no chão e colocaram um tecido encima deles, a Vilma tentou explicar de forma resumida o que estava acontecendo, antes que os meninos pudessem dizer algo soou um barulho alto vindo da porta, eram batidas. E um déjà vu passou pela cabeça dos refugiados."O abatedouro..."
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𝐀 𝐝𝐞𝐬𝐠𝐫𝐚ç𝐚 𝐞𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐧ó𝐬 -(𝐬𝐨𝐩𝐞)
FanfictionEm um país, uma casa, uma escola que não aceita qualquer forma de amor de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e tendo tragédias sociais. Surge um grupo onde o seu intuito é sobreviver dessas tragédias e também do ódio contra a comunidade. As emoções a...