Carne

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23/09/2024 (00:47)

Devoro este prato cheio, como o amor a arder em minha pele. Cada mordida nessa carne dura me aproxima da verdadeira pessoa que você é. A cada prato servido por você, sinto-me instigado, confuso, sem saber por onde começar. Mas, ao final, percebo que cada mordida nessa carne era uma gota de esperança em meio a minha alma, esperando pela sua volta.

É curioso como o gosto amargo se mistura com o desejo, como se, de alguma forma, esse ritual repetido pudesse trazer você de volta. Mas a carne, sempre ela, se despedaça entre meus dentes, seca e sem vida, como a nossa história. Tento mastigar, engolir o que restou de nós dois, mas tudo que sinto é o vazio de cada prato limpo que você me deixou.

Ainda assim, continuo comendo. Talvez, no último pedaço, eu encontre algum traço seu, algo que restou depois da sua partida. Mas cada garfada é um lembrete de que você não está mais aqui. E eu? Eu continuo comendo, devorando o que sobrou de você.

O ciclo se repete. O prato está sempre cheio, mas minha fome por você, essa, nunca passa.

Textos Ácidos para Pensamentos AdormecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora