Nem tanto esotérica assim.

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Aviso: esse capítulo contém menções de crenças religiosas advindas de religiões de matriz africana. Caso te desconforte ou incomode, recomendo que abandone a história. A única coisa que peço é respeito, sempre. Axé!



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O que sempre esteve presente dentro de mim é o que eu sinto. Como eu sei sentir. Que me tirem tudo, o ar dos pulmões e a alma do corpo, mas me deixem sentir o que é feito.

Na medida do possível eu sempre soube que era médium. Sempre tive sinais, dicas, sonhos e momentos que pensava ser comum; apesar de ser normal, é um normal diferente. Não é todo mundo que sabe bem a hora de sair de um lugar, de quem se aproximar ou não, quando uma alma vai descansar e assim vai. É um sentir muito intenso, poderoso e que te acompanha de sempre pra sempre.

Desenvolver ele é porreta, não vou mentir. Passei por uns maus bocados enquanto entendia os quês e porquês da espiritualidade nesse cosmo. Vibrações enérgicas, ritualísticas, premonições, sentidos. Pensa, uma leiga, largada que nem eu, tendo que entender disso tudo do dia pra noite?

Foram dias complicados, mas muito bem amparados. Eu sempre tive amparo, tanto no carnal quanto no lado espiritual. O sagrado trilhou meu caminho e segurou minha mão no trajeto, quando minhas pernas estavam cansadas e quando eu já não sabia mais pra onde ir. O meu sagrado tá no sangue que corre em minhas veias, nas cores que pintam meus dias, nas risadas e nos choros. Estão em tudo, são tudo.

E como em outras diversas áreas da minha vida adulta, Alexandre também tem dedo nisso. Ele também tem um axé astronômico — todo mundo que o conhece, diz o quanto a alma dele é iluminada. Ele reflete um brilho que não vem daqui, da terra, do barro. Vem de muito, muito tempo.

Então quando eu conheci ele e acabei mencionando minha jornada nos caminhos do axé, ele se ofereceu prontamente pra ser rocha e referência naquilo que eu ainda não compreendia por inteiro. Éramos dois aprendizes, cada um com suas falhas, mas com muito desejo e sede de aprender. Era o que movimentava a gente.

Me levava até o terreiro, me presenteava com livros, me explicava tradições, me ensinou rituais e me acompanhou por vários anos. Eu também acredito que ensinei várias coisas pra ele, já que ele mesmo dizia que "o que eu vejo, só os meus olhinhos são capazes de ver" (mesmo que eu ache que isso era balela de apaixonado) mas gosto de pensar que contribuí pra evolução dele, como ele fez da minha.

Isso também causou uma aproximação ainda maior entre nós dois. Chegou um momento que a gente se entendia tanto, se conhecia tão bem, que parecíamos uma extensão um do outro. Giovanna só fazia sentido se completa, se junta de Alexandre, e vice-versa. Foi virando uma coisa tão séria que veio, também, uma confirmação de que nossa dinâmica era essa muito antes da gente, e vai permanecer depois de nós também. Em qualquer vida. É assim que funciona o que tá predestinado, e na minha cabecinha inocente de jovem, tava pra nascer quem me fizesse desacreditar que nossas almas não eram gêmeas de verdade.

O que foi um grande choque, já que conheci ele como um homem oposto de mim e de tudo que eu pensava acreditar...

Sempre tivemos coisas em comum, mas somos opostos polares. Sou lua e ele sol, noite e dia, sereno e confusão. Energias tão distintas que com o tempo foram se moldando sem nossa permissão pra se tornar algo tão lindo e tão completo.

Entretanto, isso deu espaço pra se instalar o que eu gosto de chamar de loucura, porque foi ali que o nosso fim começou e a ruína se instaurou naquele relacionamento, que até então era perfeito.

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