O mais lindo luar, Tu.

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Eu e Vinícius resolvemos que nos faria bem tirar uma noite para curtirmos juntinhos, sozinhos, como um casal. Deixando de lado as personas mamãe e papai por um instante, por doze horas que fossem, num acordo silencioso de tentar restaurar algumas partes quebradas desse matrimônio.

Nossa relação ultimamente anda... lenta. Em todos os sentidos. A gente trabalha juntos mas não se vê direito, ele vive no Centro de Treinamento e eu passo cada minuto do dia alternando entre a Clínica e a nossa casa. Os caminhos acabam se desencontrando, e por muitas vezes a gente só se tromba no fim do dia, ambos cansados, impacientes e loucos por um minuto de paz. Nem sempre dá certo se encontrar com alguém nessas circunstâncias, por isso a parte romântica do nosso casamento acabou indo por água abaixo.

Parte dos motivos pelos quais eu decidi que essa viagem seria uma boa foi a necessidade de revitalizar nossa união e ressuscitar aquela paixão ardente que me deixava louca no nosso primeiro ano de namoro.

Ressuscitar parece meio radical, mas é isso mesmo. Mentir não está mais adiantando.

Por isso contratamos a Anita, uma babá. As meninas passaram a manhã e o começo da tarde conosco, mas a noite é só nossa.

— Acho que é isso, né? — chequei a hora no relógio, visando evitar atrasos. — Você tem nossos números e o da recepção. Qualquer coisinha...

— Já sei, Gio. Vai se divertir! Pode confiar!

Encarei ela por alguns segundinhos antes de sentir meu marido me puxando, sendo arrastada para fora do quarto. Era o único jeito de me tirar de lá sem que eu repensasse mil vezes o que estava fazendo. Ser mãe já é uma missão impossível, agora lidar com a culpa que vem junto? Tortura!

— Você tá linda hoje. — dentro do elevador o Vinícius me agarrou a cintura, invadindo meu pescoço com beijos e meu sistema com aquele perfume másculo de homem viril. —  Gostosa, minha gostosa.

Me segurei firme para não fraquejar as pernas e virei o corpo, encarando ele de frente. Retribuí um beijo e depositei dois tapas em seu peitoral, afastando a tentação de mim.

— Câmeras de segurança, garanhão. — apontei com a cabeça, sorrindo.

— Que já devem ter visto coisa pior... — tentou de novo, voltando a se aventurar no meu pescoço. Meus dedos emaranharam seus fios e com quase nenhuma firmeza eu puxei a cabeça dele de lá.

— Se comporta, homem. Ainda temos um jantar pela frente.

— Por mim eu ia direto pra sobremesa, mas você adora se fazer de difícil... — Reclamão. Fechou a cara, se afastando de mim.

Fingi que não vi e esperei ele desencanar da sacanagem assistida. Saímos do elevador de mãos dadas e em silêncio, caminhando até o nosso carro da mesma maneira. O Vinícius tem um jeito muito dele de ser, e é meio parecido com o das nossas filhas: se não é do jeito dele, ele faz bico. Mas diferença aqui é bem óbvia, né? Ele é um adulto completo e formado, as meninas não...

Coloquei o cinto de segurança e liguei o rádio. Mudei de estação até encontrar a minha predileta, a rádio MPB, e me foquei na música ao invés do mau-humorado que eu carregava.

Nosso destino da noite é um restaurante novo na cidade. Eu não tive tempo de pesquisar muito sobre e nem fiz questão, gosto da surpresa de descobrir um novo lugar e me apaixonar por lá sem saber de nada, só procurei saber do endereço e horário de encerramento. Quem me indicou esse lugar não merece ser nomeado aqui, já que eu fiz um pacto interno que me obriga a ignorar toda e qualquer coisa relacionada à ele, mas eu fiquei sem ideias de onde levar o Vinícius e um bar/restaurante promovendo um coquetel chique de inauguração parecia uma boa.

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