(Des)encontros e (des)acertos.

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Estávamos de acordo que minha única compra na farmácia seria o tal do dipirona, né? Certo, estávamos.

Só que de algum jeito, em algum momento dessa jornada eu acabei com um cesta cheia de compras no braço, ao telefone com a Maristela, que me passava os detalhes dos produtos que ela queria enquanto eu recolhia tudo da lista dela. A madame resolveu aproveitar minha viagem para reabastecer todo o nosso banheiro, porque aparentemente todos os produtos dela de skincare acabaram.

— Água micelar, Maristela? Tu vai me fazer comprar água pra ti na farmácia? — perguntei enquanto lia as propriedades da versão engarrafada e o spray, mas tudo pra mim parecia o mesmo: água, que também é encontrada na torneira.

— Já coloquei na cesta, patroa. Seguindo em frente... protetor solar, né?

Não é minha primeira vez nessa posição, só executando as ordens da maioral enquanto ela relaxa no nosso sofá, mas os cosméticos num geral são compras mais sensíveis lá em casa. A Maristela é tri vaidosa, super boneca de porcelana, sistemática ao quadrado, e realmente sente prazer nessas pequenas coisa.

Já entendi que minha sina é namorar mulheres que dão mais valor ao cabelo do que eu, e por falar nisso...

— Embalagem dourada, sei. Me lembro. — e lembrava bem, já que a última vez que errei o shampoo dela, passei uma semana no castigo. Tempos sombrios.

— Vou levar logo os três. — me referindo ao kit de produtos capilares, shampoo e condicionador e a máscara, todos com aquele cheirinho característico da minha namorada. — E finalizamos aqui, Maristela. Chega de consumismo por hoje.

Corri os olhos pela cesta que eu carregava para conferir tudo antes de desligar, e lá estavam as compras: os itens pro rosto, cremes hidratantes pra pele, protetor, bolas de algodão, preservativos, sabonete líquido e alguns remédios necessários no dia-a-dia que também acabaram na nossa pequena farmácia pessoal.

— Beleza, vou pro caixa. Beijo, minha linda, lhe amo. — o romântico refém da incessante enxaqueca desliga, dando um suspiro aliviado quando se findou a ligação. Meu corpo clamava por uma cama quentinha e um travesseiro macio, e só.

A caminho do caixa, me lembrei de um item mais que essencial pra mim naquela viagem. Há alguns anos, ainda jovem, me toquei que esse lance de barba por fazer só dá certo com atores globais ou nos filmes, na vida real isto é furada. Então lá fui eu buscar um tubo de creme para barbear.

Preso no mundo da lua, cantarolando músicas que tocavam, na falha tentativa de relembrar o nome da marca que me causava alergia, fui puxado pra fora do transe por uma vozinha estridente e meio rouca que me chamava pelo nome.

Lixandre? — tá aí uma variação do meu nome que eu nunca ouvi. Me assustei, claro, mas virei o rosto curioso pra saber quem era.

E ao contrário da expressão neutra que eu tinha no rosto, meu interior se assemelhava à um parque de diversão em chamas. Bagunça total. Como que essa menina se lembra de mim?!?!

Carolina?! Cê tá fazendo o que aqui, guria? — perguntei bestinha, arregalando os olhos, encarando ela sem parar.

Bicuda feito a Giovanna, ela torceu o nariz e tombou a cabeça.

— Tá sozinha? Cadê sua mãe, sua irmã? — me abaixei na altura miúda dela só pra escutar meu joelho estalando em alto em bom som, anunciando a todos o quão velho eu sou.

— Gato comeu sua língua, coisinha? — abri um sorriso pra ver se aquilo ajudava, mas pareceu acanhar ela mais ainda. Curioso, né? Ela quem me procurou.

Solstício de Dezembro. Onde histórias criam vida. Descubra agora