ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ 8: ᴏ ᴘᴇꜱᴏ ᴅᴀ ᴄᴜʟᴘᴀ

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O aroma metálico de sangue seco e a putrefação envenenam o celeiro.
O cheiro de terra misturada com sangue e o feno úmido ainda me enjoa, mas eu continuo a limpar. Cada gesto era mecânico, como se minha mente estivesse em outro lugar, perdida em uma mistura de culpa, tristeza e frustração.

O chão de terra e feno não ajudava muito - esfregar parecia inútil, mas eu não sabia mais o que fazer. Era minha forma de tentar encontrar algum senso no meio de tudo aquilo, de sentir que eu ainda podia ajudar de alguma forma.

O remorso por Carol era o que mais pesava. Eu via a dor dela e me sentia culpada por não ter feito mais. Cada vez que meus olhos cruzavam com os dela, eu sentia um aperto no peito. Não havia palavras suficientes para o que ela estava sentindo, e eu não sabia como ajudar. Eu só via a sombra que ela se tornara, uma mulher antes tão esperançosa, agora despedaçada.
Lori fazia o que podia, mas todos sabíamos que aquela dor, aquele luto, não teria cura.

Mas não era só Carol. Era todo o grupo.

Hershel havia se fechado em seu próprio mundo, Maggie e Beth... elas falavam pouco. O som das lágrimas de Beth à noite era impossível de ignorar, mesmo à distância. E Maggie? A forma como ela desviava o olhar sempre que me via dizia tudo. O peso do segredo que carregamos foi desmoronado em cima de todos nós de uma vez só. A família Greene havia perdido tudo. E eu me sentia como uma intrusa, uma peça deslocada num quebra-cabeça quebrado.

E Daryl... Ele não havia trocado uma palavra comigo desde o que aconteceu no celeiro. Não que Daryl fosse de falar muito antes, mas agora era como se eu fosse invisível para ele. Seus olhos, sempre tão atentos, mal me viam. Quando nos cruzávamos, o que eu recebia eram olhares de desaprovação. Como se eu tivesse traído o grupo, como se ele tivesse esperado algo diferente de mim.
Isso doía.
Mais do que eu estava disposta a admitir.

Nos últimos dois dias, Daryl não falou com ninguém, exceto Carol. Ele se enfiava na floresta, saindo cedo e voltando tarde, sem propósito aparente. Sempre foi um homem de ação, sempre em busca de alguma missão-achar Sophia, encontrar suprimentos, caçar. Mas agora ele parecia andar sem destino, apenas vagando, tentando talvez fugir de seus próprios pensamentos. Eu sabia que ele estava frustrado comigo, mas não era só isso. Parecia mais profundo, como se ele estivesse perdido em um lugar que eu não conseguia alcançar.

Eu não deveria me importar tanto, mas me importava. Talvez porque Daryl tenha sido uma das poucas pessoas em quem eu sentia que podia confiar totalmente nesse mundo caótico. Ele sempre foi duro, mas nunca cruel. E agora, sua distância era como uma faca cravada em minhas costas. Aquele silêncio pesado cheio de julgamentos não ditos me esmagava mais do que qualquer palavra poderia.

Passei as mãos pelo feno, jogando-o em um canto com um suspiro. Tudo estava em ruínas. O celeiro, o grupo, eu... Cada vez que eu tentava me reconectar com o que restava de humanidade dentro de mim, algo me puxava de volta para o vazio. E era isso que eu sentia agora. Um vazio que eu não sabia como preencher.

Limpei o suor da testa com o dorso da mão e olhei para o céu através das frestas de madeira do celeiro.
Dois dias desde que tudo desmoronou, e parecia que cada minuto era um peso em meus ombros. O silêncio ecoava de volta para mim, como se até mesmo os mortos que uma vez ficaram aqui estivessem rindo da nossa desgraça.

Estava tão absorta nos meus próprios pensamentos que quase não percebo quando a porta do celeiro se abriu, o rangido agudo ecoando pelo espaço. Olho para cima e vejo Andrea entrando carregando algo nas mãos. Ela tinha uma expressão preocupada, e quando se aproximou, percebo que era uma maçã.

- Achei que você ia querer comer alguma coisa - um sorriso suave, mas preocupado, surgia em seus lábios. - Você está aqui há horas, Melissa. Não comeu nada.

Dear Daryl - Daryl Dixon FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora