Brooklyn Baby - Lestappen

Youth

1

Segunda-feira

08:30 AM

Charles estava sentado em uma das cadeiras frias e desconfortáveis da clínica, suas mãos apertadas nervosamente em seu colo, os olhos fixos no chão. Ele tentava controlar a respiração, mas sentia o ar ficando pesado. Era como se as paredes ao redor estivessem se fechando, sufocando-o aos poucos. A sala de espera estava em silêncio, exceto pelo som ocasional de uma enfermeira chamando alguém ou o tilintar distante de equipamentos médicos.

Ao seu lado, Max estava sentado com as costas rígidas, o olhar atento a cada movimento que Charles fazia. A mão dele repousava sobre a perna de Charles, os dedos traçando círculos lentos, em uma tentativa de acalmar o namorado. Mas nada parecia ter efeito naquele momento. A ansiedade de Charles era palpável, e o toque suave de Max, embora reconfortante, não conseguia afastar o medo crescente.

O som da porta do consultório se abrindo fez Charles prender a respiração. O médico apareceu na entrada, chamando o nome dele com uma voz calma, quase neutra. Charles trocou um rápido olhar com Max antes de se levantar, o corpo sentindo o peso de cada passo em direção à porta. As pernas pareciam fracas, e ele precisou reunir toda a força que tinha para manter a compostura.

Quando entrou na sala, o ambiente estéril e iluminado parecia opressor. O médico o guiou até a cadeira em frente à mesa e, após um momento, fechou a porta atrás deles. Charles sentou-se, os olhos fixos nos papéis à frente do médico. O coração batia tão alto que ele quase não conseguia ouvir nada ao seu redor.

— Charles, — o médico começou, folheando os resultados dos exames. — Os resultados do seu exame chegaram.

A respiração de Charles parou. Ele sabia o que estava por vir, mas ouvir as palavras seria outro golpe. O silêncio no consultório era esmagador. O médico continuou, sua voz firme e controlada.

— O exame detectou que você está com AIDS, — disse o médico com a calma clínica de quem já teve essa conversa muitas vezes, mas as palavras caíram como um golpe brutal. Charles sentiu o ar ser expulso dos pulmões e seu corpo parecia afundar na cadeira

As palavras pareciam ecoar na mente de Charles, repetindo-se como um mantra destrutivo. Por um instante, ele ficou completamente imóvel, incapaz de processar o que acabara de ouvir. Ele já suspeitava que algo estava errado há muito tempo. Os sintomas estavam lá: a tosse persistente, a fadiga avassaladora, a fraqueza constante. No fundo, ele sabia. Mas ouvir aquilo em voz alta, tão definitivo, era um soco no estômago.

O médico continuou explicando que os sintomas que Charles vinha sentindo indicavam que o vírus do HIV já estava em seu corpo há bastante tempo. E, apesar de seu sistema imunológico estar seriamente comprometido, era possível iniciar o tratamento. No entanto, o que mais surpreendia o médico era o fato de Max não ter contraído o vírus, mesmo após múltiplos testes.

Charles piscou lentamente, tentando absorver tudo. Como Max não tinha nada? Como isso era possível? A confusão e o alívio se misturavam dentro dele. Parte dele sentia-se incrivelmente grato por Max estar bem, mas outra parte... uma parte mais escura e profunda, sentia culpa. Culpa por ser o único doente. Culpa por ter colocado Max em risco.

O médico falava sobre o tratamento, mencionando uma lista de medicamentos e explicando como Charles precisaria manter uma rotina rigorosa para controlar a doença. Mas as palavras entravam e saíam de sua cabeça sem serem processadas. Ele estava ali, mas sua mente estava longe. A única coisa que ele conseguia pensar era: "Estou doente. Eu tenho AIDS."

Quando o médico finalmente concluiu, Charles assentiu mecanicamente, pegando os papéis com a lista de medicamentos e as instruções para o tratamento. Ele saiu da sala como se estivesse em transe. Ao abrir a porta, seus olhos encontraram os de Max, que se levantou rapidamente ao vê-lo. Charles sabia que seu rosto traía tudo o que estava sentindo. Não havia como disfarçar o peso da notícia.