|𝟎𝟕 𝐄𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐨 𝐏𝐚𝐬𝐬𝐚𝐝𝐨 𝐞 𝐨 𝐏𝐫𝐞𝐬𝐞𝐧𝐭𝐞|

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O caminho de volta para casa foi mais longo do que deveria ser

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O caminho de volta para casa foi mais longo do que deveria ser. Cada curva, cada trecho da estrada parecia ecoar os pensamentos que giravam na minha cabeça. O rapaz na colina. Aquele olhar... tão profundo, tão cheio de perguntas que eu mesma não sabia como responder. Por breves momentos, pareceu que havia algo entre nós, uma conexão inexplicável. Mas a verdade é que eu não queria isso. Não podia.

O que ele viu em mim? Não sei, mas tenho certeza de que não estou pronta para deixar que ele veja mais. As cicatrizes que carrego são profundas demais, e ele, por mais que parecesse entender, jamais poderia chegar tão perto. Se ele soubesse... se visse o que escondo, fugiria como todos os outros. Ou, pior, tentaria ajudar. E a última coisa que quero é alguém tentando consertar o que está partido dentro de mim.

A verdade é que sempre lidei com as coisas sozinha. E mesmo com a presença dele a mexer comigo de formas que não conseguia entender, a sensação de ter alguém a tentar quebrar as minhas barreiras era desconfortável, quase aterrorizante. Queria esquecer. Fingir que não havia sido nada. Mas os olhos dele, tão intensos e cheios de uma dor que eu reconhecia, não me saíam da cabeça.

Assim que cheguei à casa, as luzes estavam acesas. Sabia que o Nicollas estaria à minha espera. O meu irmão nunca conseguia esconder a preocupação, e eu sabia que teria que enfrentá-lo. Assim que desliguei a mota, vi-o à porta, de braços cruzados, com aquele olhar típico de quem estava a milímetros de uma explosão. Respirei fundo antes de tirar o capacete e descer da moto. Não estava com paciência para mais uma discussão.

"Sorellina!" a voz dele estava cheia de preocupação. Ele deu alguns passos na minha direção, mas parou ao perceber a minha falta de pressa em falar. "Onde raios estiveste?"

"Por aí" murmurei, evitando seus olhos. Meu corpo estava exausto, mas minha mente ainda estava presa à colina. Presa a ele.

"Por aí?" Nicollas repetiu, irritado. "São quase duas da manhã! O pai estava ao ponto de chamar a polícia. Achámos que tinhas desaparecido!"

O peso da culpa atingiu-me, mas continuei andando em direção à porta. Ele bloqueou meu caminho, os olhos fervendo de frustração.

"Valentina, não me trates como se eu não existisse aqui. O que está a acontecer contigo?"

Não conseguia encará-lo. O meu irmão sempre foi aquele com quem eu podia contar, mas a verdade é que ele não sabia metade do que se tinha passado nos últimos dois anos. Não sabia sobre as noites em que segurei a minha mãe depois de mais um dos seus episódios de bebedeira, ou as vezes que eu mesma tive que arrastá-la para a cama quando ela mal conseguia ficar de pé. Como é que eu podia contar-lhe tudo isso agora?

"Não é nada, Nic. Eu só... precisava de um tempo para respirar." A mentira escorregou fácil, mas ele não se moveu.

"Isso não é suficiente, Valentina. Não podes continuar a fugir. O que se passa contigo? Porque nunca falaste comigo sobre o que realmente aconteceu com a nossa mãe?"

Congelei. Nunca tinha contado ao Nicollas tudo o que eu sabia. Ele sempre achou que a doença dela era apenas depressão, uma consequência da separação com o nosso pai. Mas a verdade era muito mais sombria. Eu segurei o olhar dele, tentando encontrar as palavras certas, mas tudo o que saía era o silêncio.

O silêncio entre nós era pesado. Seu olhar, ansioso, queimava minha pele. Eu precisava falar, mas as palavras estavam presas na garganta.

"Sorellina?" a voz dele agora estava mais baixa, quase suplicante. "Por que nunca me contaste?"

Eu o encarei, o peso da confissão finalmente caindo sobre mim.

"Porque não queria que soubesses. Não queria que tivesses que carregar isso também."

Ele ficou a olhar-me, confuso.

"O quê? O que estás a esconder?"

"Ela... Ela estava pior do que tu pensas, Nic." As palavras saíam com dificuldade. "A mãe não estava só a lutar com a depressão. Ela... estava a afundar-se no álcool e nas drogas. Foi assim que acabou no hospital."

A expressão no rosto dele mudou instantaneamente, os olhos arregalados de choque. Ele sempre achou que a mãe estava apenas doente, mas nunca soube do ciclo vicioso em que ela havia caído. Eu nunca lhe contei. Não queria destruir a imagem que ele ainda tinha dela.

"Porque nunca me disseste nada?" A voz dele estava cheia de dor agora, "Eu podia ter ajudado..."

"O que é que ias fazer?" Minha voz saiu mais alta do que esperava. "Abandonar os teus planos para ficar a cuidar dela? Eu não ia permitir isso. Eu cuidei dela sozinha. E agora... já não há mais nada a fazer."

O silêncio caiu sobre nós como uma muralha. O rosto de Nicollas mostrava uma mistura de dor e frustração, não comigo, mas com a situação. Tudo o que havíamos perdido.

Finalmente, o peso da conversa começou a nos cansar, e ele suspirou, mudando de assunto.

"Vais para a mesma escola que eu na próxima semana" disse ele, mudando de assunto com uma voz cansada. "Eu e o pai estamos a tratar da matrícula. Vais poder recomeçar."

Eu olhei para ele, ainda atordoada com tudo o que acabara de confessar. Não sabia se estava pronta para recomeçar. Na verdade, não sabia se queria. Mas não tinha escolha.

"Obrigada" murmurei, minha mente distante. Longe de tudo, presa nas lembranças da nossa mãe. E presa no rapaz da colina.

Nicollas deu um passo para trás, entendendo que eu precisava de espaço. Subi as escadas, cada passo mais pesado do que o anterior. Quando entrei no quarto e fechei a porta, sentei-me na cama e olhei para as minhas mãos. Elas tremiam ligeiramente.

Toda a pressão que tentei esconder parecia estar finalmente desabando sobre mim. Sabia que, eventualmente, teria de enfrentar tudo isso. Mas agora... agora eu só precisava respirar.

E, quem sabe, um dia, eu voltaria àquela colina. Talvez ele estivesse lá. Talvez fosse a chave para entender o que realmente estava a acontecer comigo.

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Muito obrigada por teres lido até aqui! Mais um capítulo concluído, e espero que ames todos os próximos.🖤
Eu espero que estejas amar a história tanto quanto eu estou a amar escrevê-la. O apoio é extremamente importante para mim!

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Até o próximo, a revelação foi feita ao irmão, será que vai os reaproximar? ✨

Entre Vidas e DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora