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🚨 Atenção: este capítulo pode conter mortes, violência, menção a estupro, uso de drogas e pode causar gatilhos. 🚨

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Após receber a ordem de Beatriz, Harry corre para a sala de jantar (segundo Beatriz, sala de chá). Ela tranca as portas e arrasta todos os móveis possíveis até a entrada. Não queria estar ali; desejava enfrentar todos os perigos junto àquela que, por mais que estivesse brigada, jurou entregar sua vida a si e recebeu de volta a promessa de que perderia tal vida para que a dela fosse preservada. Foi uma conversa boba durante uma chamada de vídeo, onde pelo menos três estados nos separavam. Havia um pacto silencioso, simples e básico: “tu és minha alma gêmea”, “somos almas gêmeas”, “soulmates". Nada no mundo, mesmo que essa relação pudesse possivelmente estar abalada, poderia mudar isso, pois os abalos eram apenas simples arranhões perto de todas as histórias que tiveram juntas.

Harry não tinha muito o que fazer. Havia descoberto um mundo novo há poucos dias, um mundo que só tinha o mínimo de acesso nas histórias loucas que a amiga escrevia, mas que agora sabia ser real. Ao menos parte delas, estar com Beatriz era uma gangorra de emoções. Alguns dias, ela estava bem-humorada; em outros, era como lidar com uma pessoa extremamente desequilibrada e sombria. Mesmo que parecesse alegre, era como se uma nuvem negra a rondasse. Não foram raras as vezes em que o telefone tocou e do outro lado havia uma pessoa frágil, quebrada, bêbada, chorosa. Mas, nos últimos dias, essa pessoa parecia ter deixado de existir. Dizem que os olhos são a janela da alma. A Beatriz que um dia Harry conheceu não estava mais cem por cento ali; restavam simplesmente os defeitos que um dia ela disse ter.

Por tais motivos, Harry não desobedeceu. Sabia ser mais sério do que ela imaginava. Os minutos e segundos pareciam durar uma eternidade; tudo para si era lento.

Lento ao ponto de parecer estar em câmera lenta, até as lágrimas que escorriam de seus olhos eram lentas e dolorosas. O sentimento intensificado de medo era como se estivesse no escuro, em um lugar desconhecido. Seus braços se estendiam minimamente para frente do corpo, tentando sentir qualquer coisa, um apoio. Ao mesmo tempo, não queria encontrar nada, pois um passo poderia significar esbarrar em algo; um passo poderia ser uma escada, um buraco... enfim, no escuro.

Segundos, minutos, horas...

Sentada no chão, com os braços envoltos nos joelhos, seu corpo tremia pelo choro compulsivo. Os soluços e a dificuldade em respirar deixavam tudo mais desesperador. A incerteza do futuro a consumia. Já tinha aceitado o fato de que iria morrer, mas não queria morrer, não agora.

Um barulho alto traz a jovem de volta à realidade. O estrondo do artefato rompendo o vidro da janela e os estilhaços de vidro a fazem voltar à consciência. O que antes era lento agora acontece rápido demais: cacos de vidro voam para todos os lados e uma pessoa entra pela janela.

Viver ou morrer.

Se for pra morrer, pelo menos vou tentar.

Ela tenta reunir forças para correr, talvez pegar algo para se defender, mas naquele momento não tinha nada ao seu alcance. Ela começa a se arrastar para trás, se impulsionando com os pés, mantendo a cabeça baixa, sem coragem para olhar para o rosto daquele que lentamente vinha em sua direção. Não demora muito para ser alcançada.

Harry é levantada bruscamente, fazendo com que ela olhe nos olhos da pessoa que a agredia. Os olhos eram negros e sombrios; ele era humano.

— Vou ganhar uma ótima recompensa por você. Sabia que você está valendo uma pequena fortuna? Acho que fiz bem em não esperar a ordem para entrar.

— O... o... que você quer de mim?

— Eu nada, mas o chefe quer muitas coisas.

—  Por favor, me deixe ir — Harry súplica enquanto é puxada pelo braço.

  BLOOD  Sombras de um reinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora