Capítulo 18: Um Dia para Esquecer

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Era segunda-feira, e Isabella acordou com a luz suave do amanhecer invadindo seu apartamento. Os eventos da sexta-feira ainda ecoavam em sua mente. Cada detalhe da noite se repetia em seus pensamentos enquanto ela se preparava para enfrentar mais um dia de trabalho. Tentou afastar a sensação de nervosismo, mas o frio na barriga persistia.

Ela seguiu sua rotina matinal com a precisão de quem havia treinado cada passo para garantir que chegaria no horário. Levantou-se, preparou uma xícara de café, tomou um banho rápido e logo estava na frente do espelho, arrumando seus cabelos. Seu coração ainda acelerava quando pensava em Ethan, mas ela tentava manter o foco no trabalho. Afinal, ela era sua funcionária e não podia se permitir distrações.

Ao sair de casa, Isabella sentia-se confiante. Ela olhou para o relógio e calculou que chegaria ao escritório a tempo. Porém, no meio do trajeto, algo inesperado aconteceu. Ao atravessar uma das ruas mais movimentadas da cidade, ela avistou uma senhora idosa tropeçar e cair pesadamente no meio da faixa de pedestres. Sem pensar duas vezes, Isabella correu para ajudar. Com delicadeza, segurou o braço da mulher e a ajudou a se levantar, enquanto os motoristas impacientes buzinavam e os pedestres ao redor observavam a cena, alguns com indiferença, outros com curiosidade.

O que Isabella não percebeu, no entanto, foi que um dos carros parados no trânsito tinha Ethan ao volante. Ele observava atentamente a cena, vendo Isabella se inclinar para ajudar a senhora e a guiar até a calçada. O rosto de Ethan permaneceu sério enquanto ela conferia se a mulher estava bem antes de seguir seu caminho. Aquele ato de gentileza, tão espontâneo e altruísta, fez com que ele a admirasse ainda mais.

Quando finalmente a senhora estava em segurança, Isabella agradeceu um motorista que também tinha saído do carro para ajudar e seguiu apressada em direção ao trabalho, percebendo que o fato a deixou atrasada. Assim que passou pela entrada, foi recebida por um olhar frio de Zoe, a assistente do RH, que estava sempre vigilante.

— Senhorita Sinclair, posso falar com você um minuto? — Zoe a chamou, seu tom formal.

O estômago de Isabella se revirou. Ela sabia que o atraso era pequeno, mas ainda assim, estava incomodada.

— Claro, Senhorita Pennington — respondeu Isabella, tentando parecer calma, embora sentisse o coração acelerar.

As duas caminharam até uma sala de reunião vazia, onde Zoe fechou a porta atrás de si.

— Você chegou atrasada hoje, e isso não é algo que podemos ignorar. Temos uma política muito clara sobre pontualidade aqui na empresa, e como tal, vou precisar emitir uma advertência formal. — A voz de Zoe era cortante, e o olhar dela não demonstrava qualquer simpatia.

Isabella se encolheu por dentro, mas manteve-se firme. Ela entendia as regras, mas saber que a punição vinha depois de um ato de gentileza a fazia se sentir injustiçada. Porém, preferiu não explicar o motivo do atraso. Qualquer palavra em sua defesa poderia parecer uma desculpa.

— Entendo — respondeu simplesmente, aceitando o documento que Zoe lhe estendia.

Ela saiu da sala sentindo-se reclusa, incapaz de compartilhar com alguém o verdadeiro motivo de seu atraso. O peso da advertência parecia aumentar o cansaço que já sentia, e ao voltar à sua mesa, mergulhou em seus afazeres, tentando esquecer o ocorrido.

Mas o dia não estava disposto a lhe dar trégua.

Na hora do almoço, Isabella saiu do prédio para tentar espairecer, esperando que uma caminhada rápida a ajudasse a aliviar a tensão. No entanto, assim que alcançou a calçada, uma figura familiar se aproximou. Zachary Harper.

— Isabella, que coincidência te encontrar por aqui — disse ele, o sorriso de sempre estampado no rosto, mas seus olhos brilhando com algo mais sombrio.

Ela parou imediatamente, seu corpo tenso. Tentou desviar, mas Zachary foi rápido em bloquear seu caminho.

— Precisamos conversar — ele insistiu, aproximando-se mais do que ela gostaria.

— Não temos nada para conversar, senhor Harper — disse Isabella, sua voz firme, mas o desconforto evidente.

Zachary riu, o som sem qualquer humor.

— Claro que temos. Eu sei que você precisa de... ajuda. Posso fazer isso por você. — Ele fez uma pausa, olhando-a de cima a baixo de maneira que fez Isabella estremecer. — Só precisamos acertar alguns detalhes.

O que ele insinuava era claro, e o asco subiu por sua garganta. Isabella se afastou, sentindo-se pressionada.

— Não, senhor Harper. Você deve estar me confundindo, não vou aceitar nada de você — ela disse com firmeza, sua voz saindo trêmula, mas decidida.

— Não seja teimosa. Eu sempre consigo o que quero. E você, Isabella, está no topo da minha lista. — Ele deu um passo à frente, impondo sua presença invasiva.

Assediada por aquela investida, Isabella sentiu a garganta apertar. Precisava sair dali. Sem dizer mais nada, ela girou nos calcanhares e voltou rapidamente em direção ao prédio da empresa, ignorando os olhares curiosos dos transeuntes.

De volta ao escritório, sentiu o corpo inteiro estremecer de nervosismo. A pressão das palavras de Zachary Harper ainda ecoava em sua mente, e a sensação de estar sendo caçada era esmagadora. Ela não conseguia se concentrar, sua mente constantemente revisitando o encontro.

Nina, que estava por perto, percebeu que algo estava errado.

— Está tudo bem, Isabella? — perguntou, a preocupação evidente em seu rosto.

— Estou bem, só cansada. Foi um dia... longo — mentiu, evitando o olhar dela.

Sabia que não deveria carregar aquilo sozinha, mas a vergonha e o medo de repercussões a impediam de contar a verdade sobre o que havia acontecido.

Passou o resto do dia em um estado de alerta constante, apenas desejando que o expediente terminasse logo. Cada vez que o telefone tocava ou alguém entrava em sua sala, sentia o corpo tenso, como se esperasse que Zachary Harper surgisse a qualquer momento.

Quando o dia finalmente terminou, Isabella se apressou a sair do escritório. Aquele dia havia sido um pesadelo, e tudo o que ela queria agora era voltar para casa e esquecer tudo o que aconteceu.

Assim que entrou em seu pequeno apartamento, soltou um suspiro longo. O silêncio acolhedor do espaço parecia lhe dar o conforto que tanto precisava. Tirou os sapatos e se jogou no sofá, olhando para o teto, sentindo-se completamente exausta — física e emocionalmente.

Ainda processando os acontecimentos do dia, foi até a cozinha, preparou uma xícara de chá quente e se acomodou no sofá novamente, abraçando a caneca em busca de conforto. A sua mente ainda vagava, entre a advertência de Zoe e o encontro perturbador com Zachary.

Ela sabia que aquilo era apenas o começo. Zachary Harper não desistiria tão facilmente, e ela precisava estar preparada. Porém, naquele momento, tudo o que queria era um pouco de paz. Talvez amanhã fosse um dia melhor.

Com esse pensamento, Isabella fechou os olhos, permitindo-se relaxar, esperando que o sono trouxesse o descanso que tanto ansiava. 

Sob a Sombra do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora