Capítulo 19: Sombras do Passado

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Isabella acordou ainda com as palavras de Zachary Harper ecoando em sua mente. A forma agressiva com que ele havia insistido na conversa do dia anterior não a deixava em paz. Tentou afastar o incômodo enquanto se preparava para mais um dia de trabalho. Olhou-se no espelho e respirou fundo. "Não vou deixar isso me afetar", decidiu, tentando encontrar a firmeza em suas próprias palavras.

A manhã, felizmente, começou a entrar no eixo. Ela mergulhou em seus afazeres, tentando manter o foco nas tarefas que precisava concluir. Sentia-se melhor à medida que o tempo passava, com a cabeça ocupada e longe dos pensamentos sombrios sobre Zachary.

No entanto, enquanto estava em sua mesa, seu telefone vibrou com uma nova mensagem.

O nome que apareceu na tela fez seu estômago revirar: Zachary Harper.

Ela hesitou antes de abrir a mensagem, já prevendo o conteúdo.

"Como conseguiu meu número?" foi a primeira coisa que ela digitou, sua frustração transparecendo.

A resposta veio rápida e assustadoramente precisa.

"Eu já te disse, Isabella. Consigo tudo o que quero."

A frieza das palavras fez um calafrio percorrer sua espinha. Ela não respondeu, não queria alimentar o contato, mas ele insistiu. Mensagens começaram a chegar de forma mais agressiva, com insinuações e ameaças veladas.

"Não pense que pode me ignorar. Vou ter o que quero, mais cedo ou mais tarde."

Isabella sentiu a respiração acelerar. Não sabia o que fazer, mas uma coisa estava clara: ela não podia mais subestimar Zachary Harper. Tentou ignorar as mensagens e se concentrar no trabalho, mas seu corpo estava em constante estado de alerta.

Quando o relógio marcou o horário do almoço, Isabella decidiu sair para espairecer. Caminhava rapidamente, quase na esperança de que a simples ação de andar pudesse afastar as palavras dele de sua mente. No entanto, enquanto virava a esquina, deu de cara com Zachary.

Ele estava esperando por ela.

— Eu sabia que te encontraria por aqui. — Ele disse, com um sorriso que parecia ainda mais ameaçador ao vivo.

— O que você quer, Zachary? — Isabella perguntou, tentando parecer firme, mas o nervosismo estava evidente em sua voz.

— Apenas uma conversa. Não precisa ser tão hostil. — Ele colocou a mão no ombro dela de maneira possessiva, forçando-a a se virar na direção de um restaurante próximo. — Vamos almoçar juntos.

Sem saída, Isabella teve que ceder. No restaurante, enquanto Zachary falava, ela mal conseguia prestar atenção. O medo e a ansiedade a dominavam. Ela nem sequer tocou na comida, apenas observava enquanto ele falava, explicando suas intenções, que ficavam cada vez mais claras e perturbadoras.

— Você sabe que não vou desistir de você, certo? — Ele disse, inclinando-se sobre a mesa. — Não importa quanto tempo leve.

Aquilo foi o suficiente para Isabella. Ela se levantou de repente, sentindo-se enjoada.

— Eu tenho que voltar ao trabalho — disse, já se afastando da mesa antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

Ela voltou ao escritório apressada, seu corpo ainda tremendo da tensão do encontro. Ao sentar-se em sua mesa, a ansiedade finalmente a venceu, e ela começou a sentir-se mal. Sua cabeça rodava, seu estômago embrulhado, e sua respiração ficou curta.

Nina, sempre atenta, notou imediatamente o estado de Isabella.

— Você está bem? — perguntou, colocando a mão no ombro dela.

— Acho que não... me sinto mal... — Isabella mal conseguiu completar a frase antes de quase desabar.

No exato momento, Ethan passou pelo corredor e, vendo a cena, apressou-se em ajudar.

— O que aconteceu? — A voz dele estava preocupada enquanto ele se aproximava.

— Ela não parece bem... e talvez não tenha comido nada — respondeu Nina, lançando um olhar preocupado para o chefe.

Ethan franziu a testa, seu tom imediatamente mais severo.

Ethan franziu a testa, sua postura ficando mais rígida.

— Isabella, você não pode negligenciar sua saúde desse jeito. — Sua voz soou mais firme do que ele pretendia, e Isabella se encolheu, surpresa pela severidade. — Trabalhar é importante, mas você precisa se cuidar.

Ela sentiu como se estivesse sendo repreendida, algo que a fez recuar de imediato. A lembrança das inúmeras vezes em que fora criticada no passado voltou à tona, e por um instante, sentiu-se pequena, vulnerável. Não estava acostumada com alguém se importando, e, por mais que a crítica de Ethan tivesse um tom de preocupação, aquilo a abalou.

— Eu... não consegui comer — sussurrou, com a voz embargada, tentando encontrar uma explicação, embora sentisse que não bastava.

Ethan trocou um olhar com Nina, que ainda observava a cena de perto.

— Nina, providencie algo leve para ela comer, por favor — disse ele, sua voz suavizando, enquanto fazia um gesto discreto para a assistente.

Nina assentiu e saiu rapidamente para buscar algo. Ethan, por sua vez, voltou sua atenção completamente para Isabella. O olhar duro de antes foi substituído por algo mais terno e preocupado. Sem dizer uma palavra, ele a ajudou a levantar-se da cadeira e a guiou até sua sala.

— Sente-se um pouco — ele sugeriu, apontando para o sofá. Isabella o obedeceu sem protestar, ainda processando o turbilhão de emoções que sentia.

Com delicadeza, Ethan a observou enquanto ela se acomodava, o silêncio entre eles carregado de significados não ditos. Ele respirou fundo, tentando entender por que aquilo mexia tanto com ele, por que a ideia de vê-la mal o afetava de um jeito que ele não esperava.

— Você precisa se cuidar melhor, Isabella — ele repetiu, mas agora, seu tom era quase um sussurro, carregado de uma preocupação que ele mal sabia como expressar.

Isabella permaneceu em silêncio, seus olhos observando Ethan enquanto ele falava. Aquele gesto inesperado de preocupação a tocou de uma maneira que ela não sabia explicar. Até então, apenas Elena havia mostrado esse tipo de cuidado com ela, e sentir isso de alguém como Ethan, seu chefe reservado, a deixou profundamente emocionada. Uma onda de sentimentos tomou conta dela, e antes que pudesse evitar, seus olhos se encheram de lágrimas silenciosas.

— Por que você está fazendo isso? Não precisa se preocupar, eu estou bem. — perguntou em um sussurro, sem ter coragem de encará-lo diretamente.

Ethan, pego de surpresa pela pergunta, hesitou. Parecia que ele mesmo não havia refletido sobre o motivo.

— É meu trabalho garantir que todos aqui estejam bem. — Ele hesitou por um momento, e então continuou, mais suave. — E porque, de alguma forma, me importo.

Isabella abaixou a cabeça, lutando contra as emoções que borbulhavam dentro dela. Aquela gentileza inesperada a desarmava por completo. Não sabia como lidar com isso, com alguém vendo além da superfície, além da fachada de eficiência que ela sempre se esforçava para manter.

E Ethan, embora tentasse manter a racionalidade, também estava visivelmente confuso com o que sentia. Ele se repetia que era apenas sua responsabilidade como líder, mas algo em seu interior gritava que havia mais. Uma conexão que ele não sabia como explicar ou sequer queria admitir.

O silêncio entre eles ficou pesado, carregado de sentimentos não ditos, até que a porta da sala se abriu e Nina retornou com a refeição. Ethan fez um leve gesto com a cabeça, incentivando Isabella a comer.

— Coma, vai te fazer bem — Disse ele, o tom mais calmo, mas ainda com aquela nota de cuidado que a fazia sentir-se estranhamente protegida.

Isabella assentiu, pegando o prato e começando a comer devagar, ainda se recuperando da confusão de emoções. Embora o nervosismo ainda estivesse presente, o gesto de Ethan a confortava. Pela primeira vez em muito tempo, ela não se sentia uma pessoa invisível ou a garota frágil de seu passado. Sentia-se importante, como alguém digno de atenção e cuidado. E isso mexia profundamente com ela. 

Sob a Sombra do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora