Culpa

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Mila

Pouco antes do almoço, Chantal e eu estamos analisando alguns documentos quando de repente, Júpiter aparece na porta que está aberta e diz sorridente:

- Com licença, prima...

- Oi primo! - Sorrio - Entra aí.

Júpiter entra e diz:

- Eu vim saber se vocês entrevistaram mais alguma candidata. Já vai fazer uma semana que eu estou sem secretária - Completa com um ar de desânimo.

- Eita, primo! Eu me esqueci completamente, desculpa... - Respondo sem graça - Eu prometo que essa semana ainda vamos contratar uma secretária pra você. Por enquanto a Chantal vai te ajudando como ela já vem fazendo nos últimos dias. Eu vou falar com a madrinha pra ela te emprestar a Nicole um pouco também.

- Tudo bem, eu só não quero sobrecarregar a Chantal - Diz lançando um olhar charmoso pra minha secretária - O Planetão aqui vai se sentir muito culpado se uma moça tão bonita ficar estressada por minha causa - Se aproxima e pegando em sua mão deposita um beijo ali.

- Fica tranquilo, Senhor Júpiter - A morena ri puxando levemente a sua mão - Eu prometo continuar ajudando o senhor o tempo que for preciso até vocês conseguirem uma secretária.

- Obrigado,gata... - Pisca fazendo com que a minha secretária abaixe o olhar sorrindo envergonhada.

Seguro o riso e me viro para ela antes de dizer:

- Obrigada, Chantal - Pendo a cabeça para a porta indicando que ela pode se retirar.

- Com licença... - Sorri cordialmente para Júpiter e eu antes de sair.

- Toma jeito, primo! - Digo repreendendo Júpiter depois que ficamos sozinhos em minha sala - A Chantal é noiva do chef de cozinha da Galeria... Depois alguém vê você cheio de galanteios pra cima da secretária, te acusam de assédio e eu não vou poder fazer nada.

- Oh, priminha... - Ele sorri - Você sabe que eu só estou brincando com ela. A Chantal é linda, mas o Léo é meu brother. Eu jamais teria segundas intenções com a noiva do nosso próprio funcionário.

- Acho bom... - Lanço-lhe um olhar malicioso.

- Bom, a mamãe e eu estamos indo almoçar na Galeria. Quer vir conosco? - Júpiter convida.

- Oh primo... - Suspiro - Fica para a próxima. Eu vou almoçar em casa hoje. Tenho que ir conversar com a diretora do colégio do Rafa.

- Algum problema com ele? - Júpiter pergunta preocupado.

- Pelo que deu pra entender, o seu afilhado se envolveu em alguma confusão - Suspiro revirando os olhos.

- Isso é estranho hein? O Rafa sempre foi um bom menino - Ele comenta.

- Pois é... Justamente por isso eu tenho que saber o que está acontecendo.

- Então, tá bom, prima. Eu vou encontrar a minha mãe e depois você me conta tudo. Você ainda volta pra empresa hoje?

- Volto sim! - Sorrio - Estou cheia de trabalho hoje.

- Até mais tarde então - Ele diz e se despede de mim com um beijo no rosto.

Pego a bolsa e vou até o estacionamento onde entro no carro e dou partida rumo à minha casa.
Ao chegar, encontro Rafa já penteado e uniformizado.
Almoçamos com Senhor Furtado e Marieta que por serem como parte da família,todos os dias sentam-se à mesa conosco.
Em seguida, Rafael se despede dos funcionários e após colocá-lo no carro, dirijo até o colégio.
Quando chegamos, a inspetora o recebe e diz que a diretora e a professora dele estão a minha espera.
Dou um beijinho no meu filho e caminho até a diretoria.
Encontro a diretora Maya e a professora Paulina a minha espera.

- Mila, obrigada por ter vindo - Maya diz.

- Olá, Maya. Confesso que fiquei preocupada quando recebi o comunicado. O que aconteceu com o meu filho?

- Mila, eu vou direto ao ponto - Diz séria - O Rafael sempre foi um menino doce, carinhoso e cheio de amigos. Mas de uns tempos pra cá vem constantemente entrando em conflito com as outras crianças. Está agressivo e muito arredio. Eu fiquei preocupada,pois ele não era assim. A professora Paulina vai te explicar melhor.

Olho para a professora e ela diz:

- Tudo começou na semana passada no dia do brinquedo. O Rafael chegou perto de mim um pouco choroso e relatando que foi brincar com uma amiguinha de "papai e mamãe" e um dos alunos provocou dizendo que ele não podia ser o pai das bonecas porque ele não sabia o que era pai já que não tinha um - Paulina diz sem graça.

- Que absurdo! - Exclamo.

- Sim, eu obviamente repreendi o menino e eles voltaram a brincar normalmente. Porém ontem durante o intervalo, a inspetora relatou que o mesmo menino havia provocado o Rafael com essa história de que ele não tem pai e eles brigaram novamente. Dessa vez houve agressões físicas e o outro menino se machucou. Eu conversei com os pais explicando o que de fato aconteceu,mas eles ficaram bem chateados em ver o estado do filho - Paulina explica.

- Desculpa, professora. Eu não quero justificar o meu filho ser agressivo com um colega de escola, mas o outro menino o provocou primeiro - Retruco - O Rafa sempre foi muito bem resolvido com o fato de não conhecer o pai biológico. Afinal, amor foi algo que nunca faltou para o meu filho. E o lugar de pai nunca esteve totalmente vazio. O meu avô e o meu primo sempre fizeram esse papel.

- Nós sabemos, Mila - Maya diz - O fato preocupante é que o Rafael nunca foi de brigar com ninguém na escola. Nós achamos sim que ele tem o direito de se defender. Mas não com agressões, entende?
Nós estamos diariamente conversando com a turma inteira sobre a importância de respeitar o próximo e se fecharmos os olhos para acontecimentos como esse, vamos estar burlando as regras que nós mesmos criamos.

- Eu entendo, mas sinceramente eu não sei o porquê dessas crianças resolverem implicar com o Rafael justamente agora - Digo apreensiva.

- Criança é assim mesmo... - Paulina diz - Eles crescem e vão aprendendo a ver maldade nas coisas.

- Mila, a única coisa que nós queremos é que você converse com o Rafa assim como nós já conversamos aqui na escola. Faça ele entender que violência não leva a nada - Maya diz.

- Tudo bem, eu vou fazer meu papel de mãe e conversar sério com o meu filho. Mas eu gostaria que do mesmo jeito que vocês me chamaram aqui, chamassem também os pais do outro garoto. Ele também precisa aprender a tratar as pessoas com respeito e entender que muitas vezes uma palavra dói muito mais do que um tapa - Digo.

- Tudo bem, Mila. Nós ficaremos mais atentas e vamos considerar sim convocar os pais da outra criança para uma reunião - Maya me tranquiliza.

- Eu agradeço - Digo.

Após me despedir da gestora e da professora, saio em direção ao meu carro. No caminho, fico remoendo tudo o que foi falado e uma sensação de culpa me invade.
Com tanto homem no mundo, eu tinha que escolher logo o Hans pra ser pai do meu filho?
Um homem que nunca quis saber dele, que quando soube que eu estava grávida, fez questão de debochar de mim e ainda insinuar que o filho não era dele...

Com lágrimas aos olhos, entro no meu carro e após enviar uma mensagem para o senhor Furtado pedindo que busque o Rafa no colégio mais tarde, dirijo até a gravadora.

Coração de Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora