O jantar (Parte II)

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Guto

Quando percebo que estamos trocando olhares na frente de todos,digo tentando disfarçar:

- Muito prazer, Dona Mila...

- Nós já nos conhecemos, vovô - Mila diz também tentando disfarçar o rubor que toma conta do seu rosto.

- Ah é? - Senhor Edgar estranha - De onde?

- Eu bati no carro dele quando estava chegando - Explica.

- Oh minha querida! - Meu chefe exclama - Tem que dirigir com mais cuidado.

- Não foi culpa dela, Senhor Edgar - Defendo - Fui eu quem diminuí a velocidade de repente.

- Entendi... - Ele sorri - Bom, então vamos jantar?

Todos assentimos e vamos até a copa onde a mesa já está posta.

(...)

Durante a refeição, todos conversam animadamente. Até que Dona Leda diz:

- Guto, conta um pouco de como foi a sua vida depois que o seu estágio na Mancini acabou. Afinal, quando o Edgar te reencontrou, você já estava nos Estados Unidos há uns 5 anos, não é?

- Sim... - Confirmo - Eu havia conseguido um intercâmbio em Miami. Era um programa de au pair masculino.

- Au pair? - Lupita pergunta curiosa - Cuidar de niños?

- Isso mesmo! - Respondo - Uma família me acolheu por cinco anos. Eles me pagavam um salário que não era muita coisa, mas dava para pagar despesas pessoais, ajudar a minha família e ainda fazer outra faculdade. Além disso, eu aprendi a cultura deles e em troca trabalhava cuidando das crianças da casa.

- Nossa, que interessante... - Andrômeda comenta - Eu confesso que já tinha ouvido falar nesse programa de "au pair". Mas eu achava que era só pra mulheres.

- Eu também... - Chantal comenta - A mãe das crianças devia ter muita confiança em você!

- Na verdade,eles não tinham mãe - Explico sem graça - Eram dois meninos criados somente pelo pai viúvo. Na época, um tinha 4 anos e o outro, 10.

- Coitadinhos... - Lulu comenta penalizada - E a mãezinha deles faleceu de quê?

- O que eu fiquei sabendo é que ela teve algumas complicações no parto do caçula. O pai criava os dois desde quando ficou viúvo com a ajuda de uma prima. Mas quando ela se casou, o meu antigo patrão entrou no programa pra conseguir alguém para ajudá-lo em casa. O perfil que mais se encaixava com eles era o meu. Assim que fomos apresentados nos demos bem. O dono da casa era receptivo e os garotos lembravam muito a mim mesmo e ao meu irmão nessa idade
Eles também se apegaram muito comigo. Eu era meio que um irmão mais velho para os dois - Explico.

- E você fazia o serviço todo da casa? - Dona Leda pergunta.

- Não... - Digo - Tinha uma senhora que ia para fazer faxina duas vezes por semana. Nos outros dias eu ajudava a manter, mas a minha função mesmo era só cuidar dos meninos. Eu os levava e buscava da escola, preparava as refeições, ajudava nas lições de casa e ficava brincando com eles até o pai que trabalhava o dia inteiro chegar. No fim da tarde, logo que ele me liberava, eu ia para a faculdade.
Cinco anos depois, o intercâmbio terminou e na mesma época eu me formei. Aí quando eu estava decidido a voltar para o Brasil e procurar outro emprego, reencontrei o senhor Edgar que me fez a proposta de trabalhar pra ele.

- Uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida - Meu chefe que está sentado ao meu lado, sorri me dando um leve tapinha nas costas - Esse garoto aqui é o meu braço direito.

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