Capítulo 2: Sussurros das Estrelas

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A escuridão havia caído completamente sobre a aldeia de Faëlen. No céu, um manto de estrelas brilhava intensamente, como se quisesse iluminar os segredos que permaneciam escondidos nas profundezas da terra e nos corações dos que ali viviam. Elara estava deitada na cama, mas o sono não vinha. Seus olhos, voltados para a pequena janela de madeira, observavam as constelações no céu, buscando respostas que ela sabia que as estrelas não poderiam oferecer.

O silêncio da noite era quebrado apenas pelos sons do vento que uivava através das árvores e pelo ocasional farfalhar das folhas que se moviam ao sabor da brisa. No entanto, havia algo mais naquela noite — algo que Elara não conseguia definir. Era como um sussurro, suave e distante, vindo de um lugar além do que seus olhos poderiam ver.

Fechando os olhos, ela tentou afastar a sensação de inquietação que a perseguia desde o dia anterior. A tempestade, os estranhos poderes que haviam emergido dentro dela e as palavras de Aldren continuavam a ecoar em sua mente. Não era mais possível ignorar a verdade: algo havia despertado, tanto dentro dela quanto no mundo ao seu redor. E fosse o que fosse, estava apenas começando.

Ela se levantou devagar, os pés descalços fazendo pouco ruído ao tocarem o chão de madeira. Elara sentiu o impulso de sair, de respirar o ar da noite, como se algo estivesse chamando por ela. Vestiu seu manto e saiu de casa, fechando a porta suavemente atrás de si.

Lá fora, o ar estava frio, mas o céu estava claro. Ela caminhou em direção ao pequeno morro no limite da aldeia, um lugar onde costumava ir quando criança para observar as estrelas. Era um refúgio para ela, um lugar onde o silêncio lhe permitia ouvir seus próprios pensamentos, agora tão confusos e fragmentados. Subiu a colina lentamente, sentindo a grama úmida sob seus pés, e sentou-se no topo, olhando para o vasto céu estrelado que se abria à sua frente.

— Por que sinto como se você estivesse tentando me dizer algo? — murmurou ela, como se falasse com as próprias estrelas.

De repente, a brisa suave que soprava sobre o morro pareceu mudar, tornando-se mais fria e densa, quase como um sussurro no próprio ar. Elara arregalou os olhos, e seus músculos se retesaram. O vento trazia palavras. Ou, pelo menos, algo que soava como palavras.

— Elara... — sussurrava o vento, de forma tão suave que ela mal conseguia acreditar que não fosse apenas sua imaginação.

Ela se levantou rapidamente, o coração disparado. Sentia como se fosse observada, mas o campo ao redor estava vazio, apenas o céu estrelado e o silêncio da noite.

— Quem está aí? — perguntou, dando um passo para trás, seu olhar varrendo o horizonte.

Mais uma vez, o vento pareceu murmurar seu nome, mas desta vez, as estrelas no céu começaram a brilhar com mais intensidade. Elas cintilavam, piscando de forma quase rítmica, como se estivessem tentando se comunicar com ela. Elara não sabia como explicar, mas podia sentir uma conexão, um laço invisível que a atraía para algo maior, algo ancestral.

— O que você quer de mim? — perguntou ela novamente, sua voz se quebrando entre o medo e a curiosidade.

O brilho das estrelas aumentou mais uma vez, e Elara sentiu uma súbita vertigem, como se estivesse sendo puxada para longe de seu próprio corpo, para além da colina, para o próprio firmamento. Ela caiu de joelhos, os olhos se fechando instintivamente enquanto a sensação de desorientação crescia dentro dela.

Quando abriu os olhos novamente, já não estava mais no campo. Estava em outro lugar, um vasto salão coberto por sombras e um brilho tênue vindo do teto, que parecia imitar o céu estrelado. As estrelas, antes distantes e silenciosas, agora pareciam tão próximas que Elara sentia que poderia tocá-las se esticasse a mão. Ao redor dela, figuras encapuzadas e sem rosto murmuravam em uma língua desconhecida, seus movimentos suaves como o vento.

— Onde... onde estou? — sussurrou Elara, sua voz ecoando pelo salão vazio.

Uma das figuras se aproximou, e Elara recuou, seu corpo tremendo. A figura não falava, mas quando estendeu a mão em sua direção, Elara sentiu uma onda de poder varrer seu corpo. Seu coração disparou, e seus pensamentos se tornaram confusos, como se estivesse sendo invadida por uma força externa.

A figura ergueu o braço lentamente, apontando para o teto onde as estrelas brilhavam. Elara seguiu o gesto, e naquele momento, ela entendeu. As estrelas não estavam apenas brilhando — elas estavam se movendo. Lentamente, as constelações começaram a formar padrões que Elara jamais havia visto antes. Símbolos e runas antigas que pareciam gravados nas estrelas piscavam e dançavam diante de seus olhos.

— O que isso significa? — perguntou, a voz quase um sussurro. Ela não esperava uma resposta, mas as palavras saíram de sua boca antes que pudesse se conter.

A figura encapuzada não respondeu, mas de alguma forma Elara sentiu a resposta dentro de si. A Tríade. As estrelas estavam falando sobre a Tríade, os três artefatos de magia antiga que, segundo as lendas, guardavam o poder de destruir ou salvar Eryndor.

Elara sentiu seu coração se apertar. O que aquelas figuras queriam dizer com isso? Por que a estavam mostrando esses símbolos agora? Ela mal sabia sobre a existência da Tríade até recentemente, e agora as próprias estrelas pareciam estar conspirando para revelar mais segredos.

— Por que eu? — perguntou, virando-se para a figura mais próxima, que permanecia imóvel e silenciosa.

As figuras se afastaram, como sombras dissolvendo-se ao amanhecer, e o salão começou a desaparecer ao redor dela. O céu estrelado desapareceu, e de repente, Elara estava de volta à colina. Ela ofegava, o corpo suado, como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo. O vento ainda soprava suavemente, e as estrelas ainda brilhavam lá no alto, mas agora ela sabia que algo muito maior estava em jogo.

No dia seguinte, Elara caminhava pela aldeia, suas pernas ainda pesadas pela falta de sono e pela inquietação da noite anterior. Não podia compartilhar o que havia experimentado com ninguém — quem acreditaria nela? As estrelas haviam sussurrado segredos antigos e poderosos, e ela sentia o peso dessa responsabilidade crescente em seus ombros.

Ao atravessar a praça da aldeia, ela viu Aldren, o ancião, sentado em um banco de pedra sob a sombra de uma árvore antiga. Ele a observava com um olhar que parecia penetrar em sua alma. Sem dizer uma palavra, ela caminhou até ele e se sentou ao seu lado.

— Está escrito nas estrelas, não é? — perguntou ele calmamente, sem tirar os olhos dela.

Elara ficou em silêncio por um momento, tentando processar o que ele havia dito. Como ele sabia? Será que as estrelas falavam com mais alguém além dela?

— Eu vi... — começou ela, com a voz hesitante. — Vi as estrelas se movendo. Elas formaram símbolos, imagens... e eu ouvi vozes. Sussurros. Elas estavam me mostrando algo sobre a Tríade, mas eu não sei o que significa.

Aldren assentiu lentamente. Ele parecia tranquilo, mas havia uma preocupação oculta em seus olhos. — As estrelas sempre guardam segredos, Elara. E há aqueles que podem ouvir seus sussurros. Você é uma dessas pessoas. Não é por acaso que o poder despertou dentro de você ao mesmo tempo em que os sinais começaram a aparecer.

— Mas por que eu? — perguntou ela, sentindo a frustração crescer. — O que eu tenho a ver com a Tríade?

— Isso é algo que apenas o tempo poderá responder. — Ele suspirou, seus olhos voltando-se para o céu, mesmo sob a luz do dia. — Mas uma coisa é certa: o despertar de seus poderes está ligado ao destino de Eryndor. As estrelas estão tentando guiar você, Elara. Cabe a você decidir se vai seguir esse caminho ou não.

Elara ficou em silêncio, contemplando as palavras de Aldren. O que quer que estivesse reservado para ela, sabia que não podia fugir. As estrelas haviam falado, e seus sussurros não podiam ser ignorados.

Corações da TríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora