Capítulo 6: A Primeira Magia

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O ar ao redor de Elara parecia pesado, quase sufocante. O mundo à sua volta estava em silêncio, exceto pelo som de seu próprio coração, que batia com força no peito. Ao seu lado, Aldren observava atentamente, suas mãos apoiadas no cajado de madeira que ele sempre carregava, os olhos fixos no que estava prestes a acontecer.

Elara havia sido treinada em algumas das formas mais simples de magia quando criança — pequenos feitiços para controlar a água ou acender uma fogueira, coisas triviais que muitos em Eryndor conheciam. Mas o que sentia agora era diferente. Era como se a magia dentro dela estivesse viva, pulsando com uma energia que ela não sabia como controlar. As visões que tivera nas últimas semanas, o sussurro das estrelas, o ritual da aldeia oculta — tudo parecia convergir para aquele momento.

— Concentre-se, Elara — disse Aldren suavemente, sua voz profunda ecoando no ar parado. — A magia dentro de você é antiga, mas ainda está crua. Para controlá-la, você precisa primeiro entender sua fonte.

Elara assentiu, respirando fundo. Eles estavam em uma clareira dentro da floresta, cercados por árvores tão altas que pareciam tocar o céu. A luz do sol filtrava-se através das folhas, lançando pequenos pontos de luz no chão de terra e folhas. Era um local escolhido por Aldren por sua tranquilidade, longe da interferência das aldeias ou dos curiosos que poderiam atrapalhar o processo.

Ela fechou os olhos, tentando acalmar sua mente. A energia mágica dentro dela era como um rio revolto, fluindo de maneira descontrolada e selvagem. Havia dias em que sentia o poder crescer tanto que quase a dominava. Aldren acreditava que ali, naquela clareira, ela poderia finalmente dar o primeiro passo para aprender a controlar esse fluxo.

— Sinta a terra sob seus pés — continuou Aldren, andando lentamente ao redor dela. — Ela é sua âncora. A magia flui da terra, do céu, das estrelas. Ela não é sua, mas você pode ser um canal para ela. Respire e deixe a energia se conectar a você.

Elara respirou fundo, sentindo o solo frio sob seus pés descalços. Ela estendeu as mãos para frente, tentando se abrir para a energia ao redor. No início, não sentiu nada além do silêncio e da leve brisa que soprava através das árvores. Mas então, como um toque suave, ela começou a sentir o poder. Era sutil, quase como um sussurro, mas estava lá — uma corrente de energia que fluía pela terra, através dela, e para o céu acima.

Conforme a sensação se intensificava, Elara começou a sentir a magia fluir dentro de si. Sua respiração ficou irregular, e seu coração começou a acelerar.

— Isso é... forte demais — murmurou, sem abrir os olhos. — Eu não sei se consigo controlar isso.

— Não tente lutar contra a magia — aconselhou Aldren. — Lutar apenas faz com que ela se rebeli. Em vez disso, seja como a água. Deixe-a fluir através de você. Controle não significa suprimir, mas permitir que a magia siga seu curso, enquanto você direciona sua intenção.

Elara tentou seguir as instruções de Aldren, mas a energia dentro dela crescia cada vez mais, ameaçando escapar de seu controle. Seus dedos começaram a formigar, e uma luz fraca e azulada começou a brilhar ao redor de suas mãos.

— Aldren, eu não consigo... — começou Elara, mas antes que pudesse terminar a frase, uma explosão de energia saiu de suas mãos, atingindo as árvores ao redor. As folhas se agitaram violentamente, e um redemoinho de vento se formou na clareira, levantando poeira e folhas secas no ar.

Aldren ergueu as mãos, criando uma barreira mágica ao redor deles para conter o impacto. A força do vento e da energia mágica que emanava de Elara era impressionante, mas desordenada. Ela estava liberando uma quantidade enorme de poder, mas de forma caótica, sem controle.

— Elara! — gritou Aldren por cima do som do vento. — Você precisa encontrar o equilíbrio!

Elara lutava contra o caos que havia se formado ao seu redor. O poder dentro dela era como uma tempestade, e a cada segundo que passava, parecia mais forte, mais furioso. Ela tentou se lembrar das palavras de Aldren: não lutar contra a magia, mas guiá-la.

— Eu posso fazer isso... — sussurrou para si mesma, forçando-se a respirar devagar, a sentir novamente o chão sob seus pés.

Ela fechou os olhos e, lentamente, começou a visualizar o fluxo de energia dentro de seu corpo. Era um rio, sim, mas um rio que ela poderia guiar. Aos poucos, tentou direcionar o fluxo da magia, imaginando-o como água que corre por um leito de rio, sem forçar, apenas fluindo naturalmente.

O vento ao redor começou a diminuir, e a luz ao redor de suas mãos foi ficando mais suave. A energia, antes caótica, começou a responder aos comandos de Elara. O redemoinho de poeira e folhas foi se dispersando, e a clareira voltou ao seu estado de calma.

Quando finalmente abriu os olhos, Elara percebeu que estava ofegante, mas aliviada. A energia dentro dela ainda estava presente, mas agora era controlável. Ainda era intensa, mas não mais ameaçadora.

Aldren baixou as mãos e sorriu levemente. — Muito bem. Esse foi o primeiro passo.

— Isso foi... — Elara hesitou, tentando encontrar as palavras. — Intenso.

— E será ainda mais à medida que você avançar — respondeu Aldren. — Mas agora você viu como é possível controlar a magia sem ser controlada por ela. O que você sentiu foi apenas uma fração do que é capaz de alcançar.

Elara sentou-se no chão, exausta, mas satisfeita. Tinha sido uma luta, mas o fato de ter conseguido controlar aquele poder, mesmo que por pouco tempo, lhe deu esperança. Pela primeira vez desde que seus poderes haviam despertado, ela sentiu que talvez fosse capaz de dominá-los.

Aldren sentou-se ao lado dela, o cajado ainda firme em suas mãos. — A magia em Eryndor é vasta e antiga. Muitos tentaram controlá-la e falharam, porque pensaram que podiam dobrá-la à sua vontade. Você precisa entender que ela é uma força da natureza, algo que você pode guiar, mas nunca dominar completamente.

— Você acha que a Tríade... — começou Elara, sem completar a pergunta. O pensamento da Tríade, o lendário conjunto de artefatos mágicos, sempre a deixava inquieta. Se o que ela acabara de sentir era apenas uma fração de seu poder, o que a Tríade poderia fazer?

— A Tríade é mais poderosa do que qualquer um de nós pode imaginar — disse Aldren, entendendo sua pergunta sem que ela precisasse terminá-la. — Mas é por isso que precisamos estar prontos. Se a Tríade cair nas mãos erradas, Eryndor será destruída.

Elara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O peso da responsabilidade que carregava parecia mais real a cada momento. Ela não estava apenas aprendendo magia para si mesma, mas para algo muito maior.

— O que devo fazer agora? — perguntou, olhando para Aldren.

— Continuaremos a treinar — respondeu ele. — Há muito o que aprender, e o tempo está se esgotando. Mas, por hoje, você deu um grande passo. Seu primeiro contato real com a magia foi um sucesso.

Elara assentiu, embora o medo e a excitação ainda dançassem em seu peito. Sabia que a estrada à frente seria longa e cheia de desafios, mas pelo menos agora sentia que tinha o poder para enfrentá-los.

Enquanto o sol começava a se pôr, lançando um brilho dourado sobre a clareira, Elara olhou para as mãos, ainda sentindo a leve vibração da magia correndo por seus dedos. Este era apenas o começo, mas um começo promissor. As estrelas haviam sussurrado para ela, e agora, finalmente, estava aprendendo a ouvir.

Corações da TríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora