Capítulo 4: Além das Fronteiras de Erion

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O vento soprava com força nas terras ao redor da cidade-estado de Erion. O vasto território que se estendia para além de seus portões era conhecido por sua paisagem implacável, habitada por criaturas selvagens e repleta de perigos tanto naturais quanto mágicos. Os habitantes da cidade raramente ousavam ir além dos muros, e os que o faziam raramente retornavam com suas vidas intactas.

Elara caminhava em silêncio ao lado de Aldren, o manto puxado sobre a cabeça para protegê-la das rajadas de vento gelado. O ancião mantinha um passo firme e decidido, como se já tivesse percorrido aquele caminho incontáveis vezes. Era difícil acreditar que alguém da idade dele fosse tão resiliente, mas Aldren era tudo menos um homem comum.

A paisagem ao redor estava cada vez mais desolada à medida que avançavam. Atrás deles, os muros de Erion se tornavam sombras distantes, engolidas pela névoa espessa que cercava as terras além. Para Elara, a cidade-estado já parecia um sonho distante — um lugar onde sua vida era segura, mas também limitada, e onde ela nunca suspeitara que o destino a chamaria para uma missão tão grandiosa.

— O que exatamente estamos procurando aqui? — perguntou Elara, sua voz quase engolida pelo som do vento.

Aldren parou por um momento, voltando-se para ela com um olhar contemplativo. Seus olhos cinzentos, profundos e cheios de sabedoria, brilharam à luz difusa do sol encoberto.

— Além dessas terras, nas fronteiras ocultas de Erion, existem ruínas antigas. Dizem que foram construídas por uma civilização que desapareceu muito antes de nossos povos ocuparem estas terras — explicou Aldren. — Essas ruínas são um dos poucos lugares onde a Tríade pode ter deixado rastros. Precisamos de respostas, e essas respostas podem estar escondidas lá.

Elara assentiu, sem saber exatamente o que esperar. Sua mente estava ocupada com as visões que tivera — as estrelas, os símbolos, os sussurros. Ela sabia que algo estava se movendo nas profundezas de Eryndor, algo que ameaçava tanto ela quanto todo o reino. Mas o que era essa força, e como ela estava ligada à Tríade, ainda era um mistério.

Conforme avançavam, o terreno ficava mais irregular. Grandes formações rochosas surgiam ao redor, seus contornos irregulares e afiados como se tivessem sido moldados por mãos colossais. O vento uivava entre as pedras, produzindo sons que pareciam lamentos distantes, sussurros de uma era esquecida.

— Aldren, essas ruínas... — começou Elara, mas sua voz falhou quando algo no horizonte chamou sua atenção.

À frente, emergindo da névoa, erguiam-se os restos de uma antiga fortificação. As paredes de pedra negra, cobertas por musgo e esculpidas com runas que Elara não conseguia identificar, estavam parcialmente desmoronadas, mas ainda assim transmitiam uma sensação de poder. Algo sobre o lugar parecia pulsar com uma energia ancestral.

Aldren seguiu o olhar de Elara e deu um suspiro profundo.

— Lá está — disse ele, como se falasse mais para si mesmo do que para ela.

As ruínas, conhecidas nas lendas como a Fortaleza das Sombras, eram um dos locais mais temidos pelos poucos aventureiros que ousavam cruzar as fronteiras de Erion. Diziam que o lugar era amaldiçoado, guardado por antigos espíritos que haviam morrido protegendo segredos da Tríade. Mas, para Aldren, esse era o próximo passo necessário na busca por respostas.

Elara e Aldren avançaram em direção à entrada da fortaleza. O ar ao redor parecia mais denso, quase sufocante. Elara sentia como se fosse observada, e seu coração começou a bater mais rápido. Havia algo de profundamente errado naquele lugar, algo que fazia seus instintos gritarem para que ela fugisse. Mas ela sabia que não podia se dar ao luxo de hesitar. Se havia algo que pudesse ajudá-la a entender o poder que crescia dentro dela, estava ali.

Ao entrarem nas ruínas, a luz do dia desapareceu quase completamente. O interior da fortaleza era vasto e sombrio, com paredes cobertas por musgo e trepadeiras. No centro, uma antiga sala circular estava adornada com estátuas desgastadas pelo tempo, figuras de guerreiros e magos de uma era há muito esquecida.

— Cuidado onde pisa — murmurou Aldren, a voz baixa como se temesse despertar algo adormecido ali.

Elara seguiu suas instruções, movendo-se com cautela enquanto seus olhos se ajustavam à escuridão. O silêncio dentro da fortaleza era opressor, quebrado apenas pelo som de seus passos ecoando pelas paredes frias. Cada sombra parecia esconder um segredo, cada canto parecia abrigar algo oculto e perigoso.

No centro da sala, havia um pedestal quebrado, com fragmentos de algo que parecia uma esfera de cristal. Elara se aproximou, sentindo uma leve vibração no ar ao redor do objeto destruído.

— O que é isso? — perguntou, tocando levemente os fragmentos com a ponta dos dedos.

— Era um dos guardiões da Tríade — respondeu Aldren. — Antes da ruína, esse cristal continha um mapa... ou talvez algo mais. Agora, tudo o que resta são pedaços de algo que talvez nunca possamos reconstruir.

Elara sentiu uma onda de frustração. As respostas que buscavam pareciam sempre escapar por entre seus dedos. Tudo o que encontravam eram rastros de uma história que não podiam decifrar completamente.

— Há algo aqui que não consigo entender — disse ela, olhando ao redor. — Sinto... uma presença. Como se algo estivesse nos observando.

Aldren parou por um momento, franzindo a testa.

— Não são só seus instintos. O lugar é guardado por velhas magias, muitas delas esquecidas pelo tempo. Precisamos ser rápidos.

Enquanto falavam, um som suave ecoou pelas paredes, como o estalar de rochas movendo-se lentamente. Elara virou-se rapidamente, tentando localizar a origem do som, mas não viu nada. Contudo, a sensação de ser observada se intensificou, e agora, ela podia ouvir claramente os sussurros ao redor, como se as próprias paredes falassem.

— Aldren... — começou ela, mas antes que pudesse terminar, o chão sob seus pés começou a tremer violentamente.

A fortaleza toda parecia estremecer, e pedaços de rocha começaram a cair do teto. Aldren gritou para Elara:

— Corra! Temos que sair daqui!

Os dois correram em direção à saída, mas as paredes desmoronavam rapidamente ao seu redor. Elara sentia o pânico tomar conta enquanto o mundo ao seu redor desabava. Quando chegaram à entrada da fortaleza, um grande bloco de pedra caiu diante deles, bloqueando o caminho.

— Estamos presos! — gritou Elara, seu coração batendo descontroladamente.

Aldren olhou ao redor, os olhos apertados, e então se virou para Elara com uma expressão que ela nunca tinha visto antes. Havia uma determinação fria em seu rosto, algo que dizia que ele tinha um plano.

— Elara, ouça-me. Há outra saída, mas está selada por uma magia antiga. Você terá que abrir o caminho.

— Eu? — perguntou ela, confusa. — Eu não sei como!

— Você sabe. O poder que está dentro de você é a chave. Concentre-se, ouça os sussurros ao seu redor. Eles estão tentando guiá-la.

Elara hesitou por um momento, mas não havia tempo para dúvidas. Ela fechou os olhos, respirou fundo e tentou se concentrar. Os sussurros que antes a assombravam agora pareciam mais claros, como vozes que ecoavam em sua mente. Elas falavam em uma língua que ela não entendia, mas de alguma forma, sabia que a estavam guiando.

Estendendo as mãos, Elara sentiu a magia fluir por seu corpo, uma corrente de energia que a conectava às ruínas. As pedras sob seus pés vibravam, e então, com um som estrondoso, o caminho à sua frente começou a se abrir.

— Vamos! — gritou Aldren, puxando-a pela mão.

Eles correram através da abertura recém-formada, escapando por pouco enquanto a fortaleza desmoronava atrás deles. Quando finalmente emergiram do outro lado, ofegantes e cobertos de poeira, o silêncio tomou conta do ar novamente.

Elara caiu de joelhos, exausta, enquanto Aldren se ajoelhava ao seu lado, a mão no ombro dela.

— Você fez bem — disse ele, sua voz carregada de orgulho e alívio. — A Tríade está mais próxima, e agora, mais do que nunca, precisamos seguir em frente.

Elara olhou para o horizonte, onde as montanhas de Erion se erguiam ao longe. Além daquelas fronteiras, o destino de Eryndor aguardava.

Corações da TríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora