Capítulo 8: Caçadores nas Sombras

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A escuridão da noite caía lentamente sobre as montanhas de Durandal. O vento gelado sussurrava através das árvores retorcidas que se erguiam como sentinelas ao redor de Elara e Aldren. Eles haviam deixado a caverna há poucas horas, e o peso do Fragmento da Luz, agora guardado em segurança entre as roupas de Elara, era um lembrete constante da responsabilidade que ela carregava. O mundo parecia mais sombrio, mais ameaçador, como se estivesse ciente do poder que agora se movia pelo interior daquelas montanhas.

O caminho era estreito e perigoso. Rochas soltas tornavam a caminhada difícil, e as sombras das árvores se alongavam, criando formas bizarras que pareciam seguir cada movimento de Elara. Aldren caminhava à frente, o cajado tocando o solo em um ritmo constante, mas sua expressão estava séria, seus olhos sempre atentos ao que poderia estar se escondendo nas sombras.

— Estamos sendo seguidos — disse Aldren de repente, sem se virar para ela.

Elara parou, seus olhos se arregalando. — Seguidos? Por quem?

— Não posso ter certeza, mas sinto uma presença. Desde que saímos da caverna, algo tem nos observado, esperando o momento certo para atacar — explicou Aldren, a voz baixa e grave.

Elara olhou para trás, mas tudo o que viu foi a escuridão crescente, engolindo o caminho que haviam percorrido. No entanto, agora que Aldren mencionara, ela também podia sentir algo. Era sutil, como uma sombra se esgueirando pelo canto de sua visão, sempre desaparecendo quando tentava focar.

— O Fragmento atrai mais do que apenas o poder da magia — continuou Aldren. — Ele atrai aqueles que o cobiçam, caçadores das sombras que farão qualquer coisa para obter a Tríade.

Elara engoliu em seco, sentindo o medo começar a crescer em seu peito. Os caçadores das sombras eram um mito para muitos, mas ela sabia que eram reais. Guerreiros e assassinos treinados para caçar relíquias mágicas, eles serviam aos mais diversos mestres, sempre em busca de poder. Se eles estavam atrás do Fragmento, Elara e Aldren estavam em sérios problemas.

— O que fazemos agora? — perguntou Elara, a voz vacilante.

Aldren parou e se virou para ela, seus olhos brilhando à luz fraca da lua que começava a aparecer entre as nuvens. — Continuamos. Eles vão atacar, mas precisamos estar preparados.

Elara assentiu, sentindo a adrenalina começar a tomar conta de seu corpo. Suas mãos tremiam ligeiramente, mas ela fechou os punhos com força, tentando se acalmar. Sabia que não podia permitir que o medo a dominasse. O poder dentro dela estava crescendo, e agora mais do que nunca, ela precisaria aprender a controlá-lo.

Eles continuaram a caminhar em silêncio por mais algum tempo, cada passo parecendo um eco distante no vazio da noite. Elara mantinha seus sentidos em alerta máximo, tentando detectar qualquer sinal de movimento. O vento sibilava entre as rochas, e o som de corujas ao longe parecia aumentar a tensão ao redor deles.

De repente, Aldren parou bruscamente, o corpo rígido.

— Eles estão aqui — disse ele, com uma calma assustadora.

Elara não teve tempo de reagir. De todas as direções, figuras encapuzadas emergiram das sombras. Eles se moviam com agilidade sobrenatural, suas lâminas brilhando à luz da lua, refletindo o brilho prateado que fazia seus rostos parecerem máscaras mortuárias. Eram cinco, talvez seis, mas suas formas eram indistintas, quase como se fossem parte da escuridão.

Aldren ergueu o cajado rapidamente, criando uma barreira mágica ao redor deles, que brilhou com uma luz azulada. Os primeiros golpes dos caçadores foram bloqueados pela barreira, mas o impacto foi forte o suficiente para fazer Elara recuar um passo.

— Elara, concentre-se! — gritou Aldren, a voz severa. — Você precisa canalizar o poder do Fragmento. Agora!

Ela hesitou por um momento, o medo e a pressão do momento deixando-a paralisada. Mas então, sentiu a presença do Fragmento em seu peito, pulsando com uma energia viva. Aquela mesma energia que ela havia sentido na caverna, que a havia testado, estava pronta para ser usada.

Elara respirou fundo e estendeu as mãos. No instante em que seus dedos tocaram o tecido que envolvia o Fragmento, uma explosão de luz brilhou ao seu redor. A energia mágica fluiu por suas veias, inundando-a com um poder que ela mal podia compreender. O medo desapareceu, substituído por uma sensação de força e clareza.

Os caçadores hesitaram ao ver a luz, recuando momentaneamente. Mas então, como animais caçando presas, eles avançaram novamente, atacando com mais ferocidade.

Aldren, lutando com sua própria magia, gritou instruções. — Use o poder da luz, Elara! Veja através das sombras!

Elara concentrou toda a sua vontade no Fragmento. A luz que irradiava de suas mãos cresceu, iluminando a floresta ao redor e revelando as verdadeiras formas dos caçadores. Agora, ela os via claramente. Não eram apenas guerreiros habilidosos, mas seres imbuídos de magia das trevas, suas sombras se movendo de forma antinatural, tentando escapar da luz que os revelava.

Com um gesto rápido, Elara lançou uma rajada de luz diretamente no caçador mais próximo. Ele gritou de dor enquanto a luz o envolvia, desfazendo as sombras que o protegiam. Em segundos, ele desapareceu, como se nunca tivesse existido.

Os outros caçadores hesitaram novamente, mas logo atacaram com renovada ferocidade. Aldren, percebendo que a barreira não aguentaria muito mais tempo, começou a conjurar feitiços de proteção e ataque. Relâmpagos de energia saíam de seu cajado, atingindo os caçadores, mas eles eram rápidos, desviando dos golpes com uma agilidade sobrenatural.

— Elara! — gritou Aldren, ofegante. — Precisamos sair daqui! Não podemos enfrentá-los diretamente por muito tempo!

Elara sabia que ele estava certo. Mesmo com o poder do Fragmento, os caçadores eram muitos, e sua habilidade de desaparecer nas sombras tornava difícil prever seus ataques. Ela precisava de uma saída.

Então, uma ideia surgiu em sua mente. O Fragmento da Luz não era apenas uma arma. Ele tinha o poder de iluminar a verdade e revelar o que estava oculto. Talvez pudesse usá-lo para encontrar um caminho seguro.

Fechando os olhos, Elara concentrou-se novamente no Fragmento. Deixou que sua magia fluísse através dela, mas desta vez, não em busca de destruir os inimigos, mas para revelar o que as sombras escondiam. Aos poucos, a floresta ao redor começou a brilhar com uma luz suave, e em meio à confusão das árvores e das sombras, ela viu um caminho — um túnel estreito nas rochas, oculto pela escuridão.

— Ali! — gritou ela, apontando para o túnel. — Vamos!

Aldren não hesitou. Ele derrubou mais dois caçadores com um último feitiço antes de correr ao lado de Elara em direção ao túnel. Os caçadores tentaram segui-los, mas a luz do Fragmento, que agora brilhava ainda mais forte, os mantinha afastados, como se suas sombras fossem queimadas pela pura energia que emanava de Elara.

Eles correram através do túnel, seus passos ecoando nas paredes de pedra. O som dos caçadores se distanciava, e logo o silêncio voltou a envolver o local. Quando finalmente saíram do outro lado, Aldren parou, ofegante, e virou-se para Elara com um olhar de alívio.

— Você conseguiu — disse ele, respirando com dificuldade. — Usou o Fragmento da maneira certa.

Elara olhou para o Fragmento em suas mãos, que agora brilhava suavemente, como se estivesse satisfeito. Sentiu-se exausta, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela havia mudado. O poder que ela temia agora parecia parte dela, algo que poderia aprender a controlar.

— Eles vão voltar, não vão? — perguntou Elara, olhando para a escuridão do túnel por onde haviam passado.

Aldren assentiu. — Sim. Os caçadores das sombras nunca desistem. Eles vão continuar a nos perseguir. Mas, por enquanto, conseguimos escapar.

Elara respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade em seus ombros. A jornada estava apenas começando, e os caçadores das sombras não seriam os últimos inimigos que enfrentariam. Mas com o Fragmento da Luz em suas mãos, e Aldren ao seu lado, ela sabia que estava mais preparada do que nunca.

O destino de Eryndor estava em jogo, e Elara estava pronta para enfrentá-lo.

Corações da TríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora